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Gente de Opinião

Francisco Matias

O PT NA CADEIA. O PT CONDENADO. O PT NEGADO


Por Francisco Matias*


1. A prisão do ex-prefeito Roberto Eduardo Sobrinho no bojoda Operação Luminus, desencadeada segunda-feira passada, dia 8 de abril 2013, marca um fato político inusitado, em se tratando da trajetória do ex-prefeito. Senão vejamos: Roberto Eduardo Sobrinho tornou-se, em 2004, o primeiro político do PT a ser eleito prefeito de Porto Velho, o maior, mais rico e mais populoso de Rondônia, em cuja sede funciona a capital do Estado. Foi também o primeiro reeleito e o primeiro a ser afastado pela justiça. Finalmente, tornou-se o primeiro ex-prefeito a ser preso com base em atos inerentes ao cargo. Acusado pelo Ministério Público de comandar uma quadrilha instalada na prefeitura e na EMDUR, tornou-se também o primeiro prefeito quadrilheiro, segundo o MP. Com esse pioneirismo todo, Roberto Sobrinho vai entrar para a História política do município por duas portas ao mesmo tempo: a da frente e a dos fundos, infelizmente. Mas, a política é desse jeito. Na maioria das vezes o político é lembrado muito mais pelos males que causa do que pelos benefícios que promove. No entanto, o ex-prefeito, no ato de sua prisão, foi taxativo no mantra petista: “Sou inocente”. “Vocês estão assistindo a uma injustiça com uma pessoa que tanto bem fez a esta cidade”. Esqueceu o outro lado da moeda. 

2. ”Sou inocente”. Ninguém pode negar ao ex-prefeito a presunçãode inocência, coisa que seu partido jamais concedeu a seus adversários. Mas, até que transite em julgado, nas três instâncias da Justiça, ele pode e deve se dizer inocente. Todavia surge uma questão. Será que o MPF e o MPE estão assim tão enganados e dispostos a fazer tanta injustiça com Roberto Sobrinho? Será que os juízes e desembargadores estarão imbuídos em prejudicá-lo ao ponto de afastá-lo do cargo, bloquear seus bens, suspender seu passaporte e, finalmente, metê-lo na cadeia? Não dá para acreditar nisso. Não se pode também fazer um julgamento político de Roberto Sobrinho aos moldes do PT.  No entanto, qualquer morador de Porto Velho, ou visitante, ao passar sobre ou sob o viaduto (só para citar uma das obras que parecem suspeitas) e olhar com um pouco mais de atenção as ruas recentemente asfaltadas em sua gestão (Buenos Aires entre a BR 364 e a Rio de Janeiro, por exemplo) verá que tem alguma coisa no ar que não é avião.

3. Se o ex-prefeito está repleto de inocência e injustiçado atéa alma, como afirma que está, por qual motivo teria se esquivado de dar entrevista ao programa CQC, em novembro do ano passado? E o que dizer da definição que o apresentador do CQC lhe sapecou? “Esse prefeito tem uma cara de pau que emociona”, disse o jornalista e humorista Marcelo Tass.

O problema - e a solução - é que o ex-prefeito Roberto Eduardo Sobrinho é do PT. E de alto coturno. Um quadro dos mais importantes no PT de Rondônia. Desse modo, ele caminhava célere para consolidar sua posição de grande líder político de Porto Velho, na atualidade. Aliás, esse município é carente de lideranças políticas de âmbito estadual desde a morte do líder Chiquilito Erse e da aposentadoria precoce de José Guedes. Surge Roberto Sobrinho e desaparece, também precocemente.

4. Ao ser preso, o ex-prefeito gozava de imenso prestígio no seu partido, com direito a absolvição e tudo. O que não se esperava nas hostes petistas era um mandado de prisão, com TV em tempo real, as seis da matina, aos moldes do que ocorreu com Carlão de Oliveira e o pai do ex-vereador Mário Sérgio, o ex-presidente da EMDUR, preso, juntamente com Roberto Sobrinho. O pai de Mário Sérgio é o desembargador aposentado compulsoriamente, Dr. Sebastião Teixeira Chaves, preso na Operação Dominó, junto com o então presidente da ALE, Carlão de Oliveira. Na ótica da ética petista, mandados de prisão não podem ser contra dirigentes do PT. É inadmissível. Aos que ousam habitar fora do mundo do PT, sim.  Ao PT, não. Como se viu, Roberto Eduardo Sobrinho passou menos de 48 horas na prisão. O Tribunal de Justiça, incontinenti, concedeu-lhe a liberdade. Mas, esses pouco menos de dois dias ficarão indelevelmente gravados na vida, na alma, no coração e nas pretensões políticas do ex-prefeito Roberto Eduardo Sobrinho.  

5. E por falar no Partido dos Trabalhadores, PT, não se pode duvidar:é o melhor partido do Brasil. Funciona como partido 24 horas por dia. É o único partido político “nesse país” capaz de mobilizar milhares de militantes para colocá-los em frente a qualquer órgão, fazendas, empresas e até residências. Além disso, mantém em constante alerta e exercício um exército de militantes que atua em escolas, faculdades, sindicatos, órgãos de governo, bancos, indústrias e áreas rurais. É uma empresa partidária e ideológica. Cria termos de uso no idioma, elimina raças (negros são afro descendentes, como se isso fosse raça) e inventou um mundo só para seus membros, que, aliás não são apenas filiados. São, antes de mais nada, militantes. É a militância de um partido revolucionário. Seu universo é o “mundo petista”. Um mundo diferente que protege seus dirigentes, não importa o delito. Se for corrupção, a capa protetora do PT e o serviço de inteligência e contra-informação são imediatamente acionados em todos os cantos “desse país”, do Monte Caburaí ao Chuí. É golpe, dirão. “É coisa da direita”, afirmarão.

6. E a opinião pública? “Com essa, a gente conversa”, disse-o muitobem e convencidamente, o então presidente do PT e hoje condenado pelo STF, mas deputado federal, José Genoíno em uma entrevista na TV. Foi assim no mensalão. Tem sido assim diante do fato incontornável das condenações, e será assim nesta Operação Luminus. Por tudo isso, o PT é também o pior partido do Brasil. Por pretender alcançar a hegemonia ideológica e partidária, típica de partido único, como ocorre nos poucos países onde ainda sobrevive o comunismo. Contudo, pode ser que esteja ocorrendo uma leve mudança “nesse país”. Pode ser que a justiça e a opinião pública estejam entendendo que ninguém está acima da lei e da justiça. Nem mesmo os petistas de alto coturno, como o ex-prefeito Roberto Sobrinho. Uma sinalização foi dada com o julgamento do mensalão, onde se montou uma arena e se digladiaram ilustres ministros que pleiteavam a justiça isenta e os que defendiam uma justiça ideológica e partidária.

7. O PT foi condenado, apesar da não expedição de mandados deprisão, como acontece em outras condenações. Na sequência, os brasileiros descobriram que o STF não é a última instância. E os petistas do mensalão recorreram à Corte Interamericana de Justiça, que rejeitou o recurso. O PT foi negado. E, em Porto Velho, Rondônia, a justiça mandou prender Roberto Eduardo Sobrinho. O PT foi preso. Ao final e ao cabo, todos ficarão iguais diante da lei. Tanto faz ser do PT, PMDB, PSDB, PDT, PP, PPS, PSB, PEN, PJ, PCB, PCdoB, de qualquer agremiação. Ninguém deve estar acima da lei e a justiça deve, felizmente, continuar independente dos outros poderes da República. É, no mínimo, salutar à democracia.

Historiador e escritor regional(*)

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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