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Gente de Opinião

Francisco Matias

O TERRITÓRIO FEDERAL DE RONDÔNIA, 56 ANOS DEPOIS – I



Por Francisco Matias(*)

1.Poucos estados brasileiros possuem histórias tão ricas e tão complexas quanto Rondônia e Acre. Tais riquezas e complexidades são refletidas nas provas para concursos, nos debates sobre o surgimento deste ou daquele município, ou, pior ainda, no caso dos gentílicos de Rondônia. Ser ou não ser rondoniense, ou rondoniano, eis a questão. Seguindo esta linha de desentendimento histórico e  de conflitos permanentes, a designação política do estado emerge como uma das dúvidas neste rio de dúvidas que banha nossas origens históricas. Afinal, desde quando Rondônia é Rondônia? Desde 1943, respondem uns; desde 1956, respondem outros; desde 1981, O TERRITÓRIO FEDERAL DE RONDÔNIA, 56 ANOS DEPOIS –  I  - Gente de Opiniãooutros se apressam a responder. Ao completar 30 anos como unidade federada brasileira, a dúvida permanece. Pois bem. O logismo Rondônia surge da ideia do médico e etnólogo Edgar Roquette-Pinto, carioca que integrou a Comissão Rondon nos idos de 1914/1915, e resolveu denominar a região por onde fossem estendidas as “línguas de Mariano”, forma como passou a ser chamada a fiação das linhas telegráficas instaladas nos sertões do Mato Grosso, com destino ao Amazonas. Surge, desse modo, uma nova palavra no idioma português-brasileiro: rondônia. Ao mesmo tempo, estava sendo criada uma nova área geográfica nas selvas amazônicas denominada Rondônia, formada por quatro indicações: Rondônia Oriental, Rondônia Ocidental, Grande Rondônia e, seu núcleo principal, Rondônia, onde está assentada a cidade de Ji-Paraná.

2.Talvez seja esta a maior obra da Comissão Rondon, do sertanista Cândido Mariano da Silva Rondon e, notadamente, do Dr. Roquette-Pinto, que requereu registro e reconhecimento da nova área territorial na poderosa Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro e o obteve, no dia 28 de outubro de 1915, Esta é data em que uma extensa área pertencente ao Mato Grosso e ao Amazonas, iniciando-se acima do Alto Guaporé e estendendo-se ao Alto Madeira, passou, oficialmente, a ser designada Rondônia. Contudo, antes de 1915, os governos mato-grossense e amazonense já haviam fincado suas respectivas bandeiras políticas na região, tendo em vista os avanços estrangeiros da empresa The Madeira and Mamoré Railway Company, que tocava uma ferrovia, produzia borracha, criava gado bovino, monopolizava o sistema de transporte e espalhava-se na região com vários empreendimentos comerciais, bem ao estilo das ferrovias construídas no velho Oeste norte-americano. Era a execução de dois projetos geoestratégicos do governo norte-americano na Amazônia. Um deles, de colonização, e outro de comércio. A Madeira-Mamoré, enquanto integrante de um amplo sistema intermodal de transporte, atuava como cabeça-de-ponte de ambos os projetos nestas plagas do poente.

3.Desse modo, no ano de 1908, o governo do estado do Mato Grosso, criou o município de Santo Antonio do Alto Madeira, cuja sede localizava-se no entorno da Cachoeira de Santo Antonio, mas estendia-se até onde hoje estão situadas as cidades de Vilhena, Guajará Mirim, Candeias, Ariquemes, Ji-Paraná, Cacoal, Rolim de Moura e por aí vai. Seis anos depois, o governo do estado do Amazonas criava o município de Porto Velho, cujos limites urbanos atuais não passavam de onde hoje é a rua Almirante Barroso, a avenida Jorge Teixeira e, na banda ocidental do Madeira, ampliava-se até o Jacy-Paraná, indo às barras dos rios Marmelo e Ituxi, na fronteira com Lábrea e Canutama,AM. Passaram-se mais sete anos e o governo do Mato Grosso resolveu desmembrar terras dos municípios de Santo Antonio e de Vila Bela para fincar uma nova bandeira: Guajará Mirim. Este novo município mato-grossense cobria as bacias do Guaporé e do Mamoré. Estava fechado o triângulo geográfico que iria moldar a primeira estrutura para a formação do atual estado de Rondônia: o Território Federal do Guaporé, na Era Vargas, ano de 1943.

4.A criação do Território Federal do Guaporé, e de mais quatro territórios federais, alterou completamente a geografia amazônica, na medida em que foram incorporadas terras da megarregião Centro-Oeste e da megarregião Norte, para fundar a área geográfica desta nova unidade administrativa. Mas, isto foi o ponto menos traumático. O problema estava na escolha do nome do Território, que o presidente Getúlio Vargas chamava de “Território do Aluízio”, numa referência ao militar Aluízio Pinheiro Ferreira, organizador de todo o processo e principal articulador político regional à época. Vários nomes foram indicados para o novo Território Federal. De Guajará Mirim veio a indicação Território Federal do Mamoré, cuja capital deveria ser a cidade mato-grossense de Guajará Mirim. Não vingou. As lideranças políticas e empresariais de Porto Velho e de Santo Antonio do Rio Madeira deram outras dicas: Território Federal das Minas Novas, ou Território Federal do Urucumacuã, cuja sede deveria ser a povoação de Rondônia, atual cidade de Ji-Paraná. Observe-se que, em nenhuma dessas escolhas foi citada a possibilidade de ser Porto Velho a capital do novo território. Fácil de entender. O Território Federal, fosse qual fosse o nome, deveria ser desmembrado exclusivamente do Mato Grosso e, Porto Velho, era do estado do Amazonas. Simples assim. Destarte, com tantas marchas e contramarchas, o governo Vargas decidiu que o futuro Território deveria denominar-se Território Federal de Rondônia, em homenagem ao “civilizador dos sertões”, o general Cândido Mariano da Silva Rondon. General!!! Isso mesmo. General Rondon! Eis o problema político. A patente de general e não a de marechal. Estava criado o dilema da denominação. E as saídas para este dilema seriam muito difíceis e muito, mas muito penosas, como veremos no artigo seguinte.

 Historiador e analista político(*)

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