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Francisco Matias

O TERRITÓRIO FEDERAL DE RONDÔNIA, 56 ANOS DEPOIS - IV


Por Francisco Matias(*)

1.Na virada da década de 1950, o Brasil iria mudar de novo para não mudar demais. O ex-presidente, ex-ditador e ex-senador Getúlio Vargas foi eleito democraticamente a presidente da República e, no Território Federal do Guaporé, os cutubas/getulistas reelegeram o coronel Aluízio Pinheiro Ferreira para o segundo mandato de deputado federal distrital. Em 1954 ocorreu o suicídio do presidente Vargas e, em consequência, o declínio do getulismo. No Território Federal do Guaporé, uma nova liderança política surgia. Seu nome: coronel Joaquim Vicente Rondon. Seu projeto político era desbancar a poder dos Cutubas, representado pelo grande líder Aluízio Pinheiro Ferreira, seu padrinho e agora, adversário político. E foi o que deu. Nesse ano, os Peles-Curtas derrotaram os Cutubas e elegeram Joaquim Vicente Rondon a deputado federal distrital. Sua posse ocorreu em 1955, final da segunda fase da Era Vargas, que terminaria sob o governo do presidente Café Filho. A partir de sua diplomação e posse, o deputado Joaquim Vicente Rondon chamou a si a responsabilidade de corrigir um erro político e uma falha histórica. Decidiu que iria colocar o velho general Rondon em seu verdadeiro lugar na História do Brasil. E tomou dois caminhos. No primeiro, apresentou na Câmara dos Deputados um projeto de resolução que deliberava sobre a outorga ao “Grande Chefe” da patente de Marechal.

2.No segundo, idealizou um projeto de lei que mudava o nome do Território Federal do Guaporé para Território Federal de Rondônia. Duas homenagens para o mesmo homem. Na concessão da patente de marechal, o deputado Joaquim Vicente Rondon conduziu todo o projeto nas comissões da câmara, conversou com seu tio, o general Rondon, acompanhou o trâmite no Senado, e recebeu o apoio do presidente Juscelino Kubistcheck de Oliveira, JK. O segundo projeto, aquele que mudaria o nome do Território, apesar de idealizado politicamente por Joaquim Vicente Rondon, foi apresentado na Câmara pelo deputado federal do Amazonas, Aureo Bringell de Melo, do PTB, nascido nas barrancas do Madeira, e adversário figadal do coronel Aluízio Pinheiro Ferreira. Enquanto isso, em Porto Velho e Guajará Mirim, os cutubas se mobilizavam contrários ao projeto. E não podia ser de outra forma. Jamais um Cutuba iria apoiar uma ação política de um Pele-Curta, nem que fosse para homenagear ao velho desbravador Cândido Mariano da Silva Rondon. Nem por morte. Talvez por isso, o deputado Joaquim Vicente Rondon tenha solicitado a participação do deputado Áureo de Melo. O momento político era favorável. O governo federal apoiava o projeto de outorgar a patente de Marechal ao general Rondon e o que visava modificar o nome do Guaporé para Rondônia.

3.Na outra ponta da corda, estava o velho, alquebrado e doente general Rondon. Surdo e quase cego, com  91 anos de idade, ele não se opôs às duas homenagens, pois entendia ser dever de justiça, mas lamentava que a patente de Marechal chegasse tão tardia e por caminhos inusitados: um projeto de resolução e não uma merecida promoção durante sua vida militar. Mas, perdido por um, perdido por mil, Rondon foi ao Congresso Nacional, em maio de 1956, e recebeu a outorga, tornou-se, por concessão congressual, o Marechal Rondon. Apenas dois meses antes, o presidente JK havia sancionado a Lei Complementar nº 2.731, de 17 de fevereiro de 1956, que mudou o nome do Território Federal do Guaporé para Território Federal de Rondônia. A missão do deputado federal distrital Joaquim Vicente Rondon, do PSP de Porto Velho, estava cumprida. Seu velho tio era, finalmente, Marechal, embora por decisão política e seu nome havia sido dado ao Território Federal, justificando, quarenta e um anos depois, o projeto do Dr. Roquette-Pinto, que, em 1915, denominou Rondônia a toda região coberta pelas Linhas e Estações Telegráficas implantadas pela Comissão Rondon. A partir de 1956, além da toponímia Rondônia, havia uma designação política em sua homenagem: o Território Federal de Rondônia. E...Se esse território viesse um dia a ser Estado? Bingo. Seria, com certeza, Estado de Rondônia. Prego batido, ponta virada.

4.Provavelmente o Dr. Roquette-Pinto, o deputado Joaquim Vicente Rondon, o deputado Aureo de Melo e o presidente JK ficariam profundamente decepcionados se soubessem que seus esforços foram em vão. A data de 17 de fevereiro de 1956 nem sequer é lembrada, mesmo como um traço histórico, como de resto as datas históricas de Rondônia que passam ao largo das escolas, das faculdades, dos poderes de governo, enfim, de tudo. Se, em 2011 o governador Confúcio Moura resolveu que o 4 de janeiro é, na verdade, 3 de janeiro, esperar mais o quê? Se o prefeito Roberto Sobrinho resolveu que as comemorações do 24 de janeiro ficariam para o 2 de outubro, como se fossem as mesmas datas, com o mesmo simbolismo histórico, esperar mais o quê? Se os municípios rondonienses criados em 1977 e 1981 comemoram suas datas de instalação ao arrepio do que preconizam as leis que os criaram, esperar mais o quê? Pois é....

 Historiador e analista político(*)

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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