Segunda-feira, 14 de setembro de 2015 - 20h47
O presidente Getúlio Vargas (no centro com o capacete de piloto na mão) desembarca no porto do Cai N’Agua para uma visita de três horas a Porto Velho, sendo recebido por seu aliado o capitão Aluízio Ferreira (à sua esquerda de uniforme de gala e óculos escuros). Era o ia 11 de outubro de 1940.
1.O tempo foi passando e a ideia da criação de territórios federais ganhava formade projeto geoestratégico do governo provisório da República Nova. O presidente Getúlio Vargas virou ditador e o governo virou Estado Novo, depois que o próprio Vargas deu um golpe em seu próprio Estado, em 1937. No ano seguinte, dia 14 de dezembro de 1938, o governo expediu um anteprojeto de decreto lei que criava novos territórios federais. No estado do Pará, o território federal do Amapá; no Amazonas, o território federal do Rio Branco; nos estados do Pará e Santa Catarina o território federal do Iguaçu; no estado do Mato Grosso, o território federal do Maracaju, depois virou Ponta Porã. Nos estados do Amazonas e Mato Grosso o território federal do Guaporé. Estava sepultado o projeto do coronel Paulo Cordeiro da Cruz Saldanha de ver criado o território federal do Mamoré.
2.Mas muita água ainda iria rolar nos rios Guaporé, Mamoré e Madeira até a execuçãofinal do projeto. Dois fatores foram primordiais. A Marcha Para o Oeste, em 1940, que trouxe o presidente Getúlio Vargas e seu staff de governo a Porto Velho, onde deveria passar três horas, mas ficou três dias governando, tomando tacacá, inaugurando obras, visitando escolas e... outras sinecuras madeirenses que não cabe aqui relatar. O segundo fator está centrado na ocupação japonesa ao sudeste asiático durante a segunda guerra mundial que forçou à celebração do Tratado de Washington, em 1942, com milhões de dólares - a fundo perdido - do governo americano para o combalido tesouro nacional. Dinheiro no cofre com a venda de borracha, a entrada de novos povoadores na Amazônia e a fundação de órgãos governamentais, o presidente Vargas expede o decreto-lei 5.812, de 13 de setembro de 1943, por meio do qual criou os territórios federais do Iguaçu, desmembrado dos estados do Paraná e Santa Catarina; de Ponta Porã, desmembrado do Mato Grosso; Amapá, desmembrado do Pará; Rio Branco (atual Roraima) desmembrado do Amazonas; e Guaporé, desmembrado dos estados do Mato Grosso e do Amazonas.
3. Previsto no anteprojeto de 1938, o Território Federal do Guaporé nascia com umaimportante modificação sobre o projeto inicial que não constava terras do Amazonas, somente do Mato Grosso. Deveria incluir Guajará Mirim, mas a capital seria o lugar chamado RONDÔNIA, atual cidade de Ji-Paraná. Foi por isso que o capitão Aluízio Ferreira empenhou-se tanto para que o presidente Getúlio Vargas alterasse sua agenda de visitas de Belterra e Fordlândia, no Pará, para pousar com seu hidroavião no rio Madeira e gozar as delícias da bucólica cidade amazonense de Porto Velho, conhecer a Madeira-Mamoré, e tomar conhecimento da existência de uma imensa riqueza: as Minas de Urucumacuã. Entre uma cuia de tacacá e uma garfada de pirarucu, Vargas tomou a decisão de incluir terras do estado do Amazonas no projeto do território federal.
4.Desse modo, por meio do decreto-lei 5.839, de 21 de setembro de 1943,o Território Federal do Guaporé ficou constituído pelos municípios de Alto Madeira, Guajará Mirim e uma porção territorial do de Mato Grosso, ex-Vila Bela da Santíssima Trindade, desmembrados do estado do Mato Grosso. O estado do Amazonas cedeu Lábrea, uma porção territorial de Canutama e Porto velho, a “joia da coroa”. Estava criado o embrião do estado de Rondônia que teve como primeiro governador Aluízio Pinheiro Ferreira, misto de militar, político e senhor feudal do Guaporé.
Historiador e analista político
Membro da Academia Rondoniense de Letras, ARL(*)
Porto Velho, 13.09.2015
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