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Francisco Matias

OS 101 ANOS DA MADEIRA-MAMORÉ, PARTE III


Por Francisco Matias*

1.Nesta terceira parte, esta coluna vai prosseguir com a narrativa do coronel ALUÍZIO PINHEIRO FERREIRA. Ele fala sobre Santo Antonio e PERCIVAL FARQHUAR:“Verificada, porém, a inconveniência do local para um porto de grande movimento, foi resolvido fazer a estação inicial em Pôrto Velho, sete quilômetros à jusante de Santo Antonio, pôrto velho de atracação de vapores, mas onde não havia uma única barraca. O Sr. PERCIVAL FARQHUAR, que ao tempo já tinha a concessão para o porto do Pará, chefiando um sindicato americano, chamou a si a responsabilidade da construção da Madeira-Mamoré. O que levou o Sr. FARQHUAR a atirar-se nesse empreendi

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Estação inicial Madeira, inaugurada em 1910, na povoação denominada Porto Velho of the Madeira-River

mento, foi, consoante suas próprias declarações, - o desejo de recomendar-se com a construção de uma obra reputada dificílima, firmando assim o seu conceito, justamente quando iniciava seus trabalhos no Brasil.

2.O coronel ALUÍZIO PINHEIRO FERREIRA continua sua narrativa sobre a Madeira-Mamoré: “o certo é que ninguém tinha uma compreensão justa e adequada de todas as dificuldades a enfrentar. Ninguém tinha a compreensão das tremendas dificuldades a vencer, mas o contrato de construção dava preferência à companhia para o arrendamento da estrada e como a indústria da goma elástica estava no apogeu, provàvelmente imaginou-se que os lucros do arrendamento cobririam todas as despesas, removeriam todos os tropeços”. 3.“A construção foi empreitada, em 19 de abril de 1907, com a firma May & Jekyll (mais tarde modificada para May, Jekyll & Randolph). Em junho do mesmo ano estavam iniciados os trabalhos. A firma empreiteira prosseguiu corajosamente no serviço, tencionando intensificá-lo em 1908, com a utilização dos trabalhadores espanhóis dispensados das construções ferroviárias confiadas à mesma, em Cuba. Em princípios de 1908 foi iniciada a escavação do leito da via férrea. Em setembro, a exploração alcançava o rio Jacy-Paraná. Em 24 de abril de 1909, nos termos do Decreto nº 7.344, de 25 de fevereiro do mesmo ano, a Companhia assinou um contrato de arrendamento da estrada por 60 anos, contados a partir de 1º. de julho de 1912”. Em 31 de maio de 1910 foi inaugurado o tráfego até Jacy-Paraná (km 90). Em fins de 1910 a ponta dos trilhos alcançava o quilômetro 166 e a roçagem atingia o quilômetro 230. Em 30 de outubro de 1910 o tráfego foi inaugurado até o quilômetro 152 e, em 7 de setembro de 1911, até o Abunã (km 220).  “Os trilhos chegaram a Guajará Mirim (km 364) em 30 de abril de 1912”.

4.Nesta estação a coluna encerra a fala do coronel ALUÍZIO PINHEIRO FERREIRA. Desse ponto em dianteele passa a falar de Porto Velho e Guajará Mirim, objeto de um novo artigo desta coluna sobre o tema Madeira-Mamoré. Destarte, no dia 30 de abril de 1912 foi encerrada a construção efetiva da ferrovia Madeira-Mamoré. Estavam concluídos 364,2 km de trecho ferroviário - inclusive a maior reta ferroviária do mundo, a reta do Abunã – além de pontes, estações ferroviárias, núcleos urbanos que começavam a se formar na zona de influência da ferrovia. Uma nova geopolítica amazônica é posta em marcha nos confins do sul da Amazônia brasileira, em conexão com a Amazônia boliviana, o Acre Federal e o Mato Grosso. Todavia, a tão esperada estrada de ferro não seria inaugurada imediatamente haja vista alguns percalços burocráticos. Passaram-se noventa longos dias para que o trem inaugural percorresse a ferrovia da ainda inacabada estação terminal Mamoré, até seu ponto inicial, a estação Madeira. O Termo de Arrendamento, apesar de firmado em 1909, somente teria validade a partir de 1º. de julho de 1912, esse era uma dos entraves para a demora na solenidade de inauguração.

6.A conjuntura política nacional era outro entrave e o falecimento do chanceler Barão do Rio Branco, no dia 1º. de julho de 1912, dia que se iniciava o prazo da concessão de 60 anos, foi mais um problema para a agenda de inauguração. O empresário Percival Farqhuar, acionista maior da empresa, estava em Belém e deveria viajar a Porto Velho e a Guajará Mirim para a festa de inauguração. Ele aguardava a confirmação da agenda do presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca. Mas este, aproveitando-se do evento da morte do Barão do Rio Branco, preferiu atender ao poderoso ministro J. J. SEABRA, adversário de Farqhuar, e viajou para a Bahia. Estava quebrada a agenda de Farqhuar. Finalmente, a 1º de agosto de 1912, o primeiro trem partiu da estação terminal Mamoré, conduzindo autoridades políticas do Amazonas e do Mato Grosso, os empreiteiros do grupo May, Jekkyl & Randolph e, sobretudo, a chama da esperança no sucesso de um megaprojeto geoestratégico da maior importância inter-regional, mas fadado ao fracasso. Há 101 anos.

PS – A coluna utilizou a grafia original da narrativa para permanecer fiel ao texto e ao tempo, haja vista ter sido publicada na SINOPSE ESTATÍSTICA DO MUNICÍPIO DE PÔRTO VELHO, pelo Serviço Gráfico do IBGE, no Rio de Janeiro, em 1951.

Historiador e escritor regional(*)

 

 

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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