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Francisco Matias

OS 20 ANOS DA MORTE DO CEL JORGE TEIXEIRA


1. Poucos personagens da história de Rondônia conseguiram sobreviver a própria morte. Muitos deles morreram em vida. Outros vagam por aí sem serem sequer lembrados. Mas o coronel do Exército Jorge Teixeira de Oliveira conseguiu sobreviver às duas mortes de que foi vítima. A morte em vida e a morte natural. Falecido em 19 de janeiro de 1987, aos 63 anos de idade, o Teixeirão projeta sua imagem e seu exemplo sobre o estado do qual tornou-se o principal condutor para sua criação. Nomeado em 1979 pelo presidente João Figueiredo para assumir o governo do Território Federal de Rondônia, depois de haver sido prefeito nomeado de Manaus, e preterido na indicação para governar o estado do Amazonas, Jorge Teixeira aportou em Porto Velho com uma frustração política e uma missão a cumprir, trazendo um afiado discurso na ponta da língua: “Tenho a missão de criar o Estado e vou entregá-lo aos filhos da terra”. “Meu sucessor será um filho da terra”. Com esse mote ele alimentava o sentimento nativista ao tempo em que estimulava a imigração nordeste-sul-norte para as terras de Rondônia. Dava uma no cravo e outra na ferradura.

2. Seu governo durou seis anos, espaço de tempo em que Rondônia deu um salto em direção ao futuro. Da condição Território Federal, simples departamento autônomo vinculado ao Ministério do Interior, Rondônia passou a Unidade Federada, UF, tendo como condutor desse processo o governador Jorge Teixeira de Oliveira. Talvez seja este o único motivo de sua imagem, exemplo e lembrança política continuarem a influenciar na vida rondoniense. Talvez até bastasse. Mas não é só isso. O Teixeirão soube cultivar firmes laços históricos e culturais ao impor uma administração realizadora, assumir a liderança política do novo Estado, cooptar políticos da esquerda e da direita para o seu projeto, trabalhar com os melhores técnicos disponíveis e dar uma nova feição ao mapa político rondoniense. Como se não bastasse, se governo, dividido em duas fases distintas, recebeu recursos do Polonoroeste, fundou cidades, implantou modernos sistemas de sistema de comunicação e construiu a Usina Hidrelétrica de Samuel. E vai mais longe o leque de obras e realizações materiais, imateriais e políticas do governo Teixeira.

3. Convém frisar que o projeto de criação do Estado de Rondônia somente pode ser executada devido a uma nova conjuntura política nacional que misturava o final do regime militar, a ascensão das forças políticas civis e de oposição e a uma necessidade política do governo. Não fosse isso, o Teixeirão teria falhado, como falhou o coronel Humberto Guedes, que preparou o Território para virar Estado em sua gestão e deu com os burros n‘agua. Por isso, pode cumprir sua missão, pelo menos parte da missão. A parte mais importante, que seria reunir todas as condições geopolíticas para a criação e funcionamento do Estado de Rondônia, do qual seria o primeiro governador. Vinte anos depois de sua morte, todos os governantes que lhe sucederam, até os mais ferrenhos oposicionistas, buscaram o seu espelho. Em vão, diga-se de passagem. Como competir com um governador que tinha plenos poderes nas mãos, apoio político e muito dinheiro pra gastar? Como ser comparado a um governador que, entre 1979 e 1983, foi o todo-poderoso, o senhor supremo do governo, o criador, o coronel?

4. Com tanto poder nas mãos e muito prestígio político, o coronel Jorge Teixeira demorou a perceber as profundas mudanças na conjuntura política nacional. Não notou que, apesar de ter sido vitorioso nas eleições de 1982, delas emergiu como o único governador nomeado no país. Não se ligou no enfraquecimento do regime militar e não soube conviver com o novo cenário político brasileiro e regional. Perdeu poder. Foi se enfraquecendo acreditando que poderia ter sobrevida política em um mundo ao qual não estava muito bem ambientado. Acreditava, ingenuamente, que seus pupilos políticos lhe seriam eternamente gratos. Ledo engano. Não conhecia a classe política que ele havia construído em Rondônia. Para ter uma idéia, ele brigou com a Ji-Paraná inteiro. Não foi mais lá. Não gostou das críticas pesadas que lhe foram dirigidas pelos jiparanaenses. Quanto terminou o regime militar, terminou o governo Teixeira, cujo legado influencia e ainda influenciará muitas gerações de políticos rondonienses. Em algum momento, um candidato a governador irá usar um boné enigmático como era o de Jorge Teixeira. Em algum discurso estará implícito o pensamento “trabalho, trabalho e trabalho”, do trator Jorge Teixeira de Oliveira, que morreu há 20 anos, mas que vive pelo sim e pelo não, no pensamento político dos rondonienses.  

Francisco Matias - Historiador e analista político

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