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Francisco Matias

PORTO VELH0-AMAZONAS, O CEMITÉRIO E A HISTÓRIA - 2


Por Francisco Matias*

1.O CEMITÉRIO DOS INOCENTES – Nesta segunda parte sobre o cemitério, vai se falar do major Emmanuel Silvestre do Amarante, comandante militar do 3º Distrito Telegráfico do Mato Grosso, com sede na vizinha cidade de Santo Antonio do Rio Madeira, mas com escritório em Porto Velho. O Major Amarante (nome de rua em Porto Velho) era genro do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon e morreu por estas plagas do poente no final de 1929. É uma das celebridades sepultadas no Cemitério dos Inocentes. Mas gerou um problema a partir das superstições que permeiam os cemitérios do mundo todo. No Cemitério dos Inocentes não poderia ser diferente. O major Amarante, após sua morte, transformou-se em lenda de cemitério como O HOMEM QUE VIROU BICHO.

2.Na época, o cemitério era protegido por uma cerca de arame farpado e os moradores da “Vila Mucambo” costumavam cruzar o campo quando se dirigiam ao centro de Porto Velho. Eis que senão quando, um morador chegou na vila apavorado, estava lívido, olhos esbugalhados, garganta seca e o medo estampado no rosto. E gritou que “ao passar perto do túmulo do Major Amarante ouviu uma espécie de rugido e o som de algo de quebrando”. “Parecia que o defunto estava se levantando da sepultura”. Foi o bastante para o medo e o mistério servirem de combustível para o surgimento de uma amedrontadora lenda de cemitério. De repente, a cidade inteira ficou apavorada com o homem que virou bicho. Seria um dragão acorrentado? Uma grande cobra acorrentada pelo rabo? Ou, pior ainda: seria o próprio defunto preso em correntes?

3.Seja como for, se conseguisse se soltar, - imaginava-se - o bicho iria destruir a cidade e matar seus moradores. Uma desgraça. O medo. O imponderável. A superstição tomava conta do imaginário popular. Não se tinha sossego. O major Amarante, poderoso oficial do Exército, ex-legionário da Comissão Rondon, genro predileto de Rondon, virou bicho depois de morto. E para comprovar a coisa toda, o túmulo realmente apresentava rachaduras. A prefeitura encarregava-se de consertar, mas não tinha jeito, rachava de novo. Consertava e rachava. A cada serviço, nova rachadura. O medo do defunto acorrentado aumentava ainda mais. Até que um dia....

4.O mistério foi descoberto. Alguém, possivelmente um funcionário da prefeitura, percebeu que uma árvore frondosa, uma figueira, plantada a uns cinco metros do túmulo do Major Amarante, espalhava suas poderosas raízes que passavam por baixo da sepultura e rachava suas paredes o que causava o barulho ouvido por aquele morador da Vila Mucambo. Estava encerrado o mistério depois de longos e tenebrosos invernos de frio, chuva, noites escuras e grandes superstições na pequena, bucólica e inquieta Porto Velho.

5.O MURO  E OS PIONEIROS – Em razão desses eventos, e por necessidade, a prefeitura de Porto Velho melhorou a cerca, mas o muro somente seria construído na gestão dos prefeitos Ruy Brasil Cantanhede e Renato Medeiros, respectivamente. Os portões foram fabricados nas oficinas da Madeira-Mamoré.

6.No Cemitério dos Inocentes estão sepultados patriarcas, matriarcas e filhos das mais tradicionais famílias portovelhenses, desde os tempos em que a cidade integrava o Estado do Amazonas. Esta coluna vai citar alguns dos pioneiros que jazem naquele campo santo: o ferroviário e escritor Hugo Ferreira, os ex-prefeitos Francisco Plínio Correa Filho, José Marques Galvão e Bohemundo Álvares Affonso; os comerciantes George Resky, Miguel Chaquian, Jorge Roumiê, João Pedro da Rocha (João Barril), Salomão Querub; os seringalistas Marçal Couceiro (seringal Nova Vida), José Garcia de Freitas (pacificador dos índios Parintintin) e Geraldo Peres; o padre Moretti e o padre João Ratini. Demais personalidades: Norman Davy, Joaquim Bartholo, Antonio Rivero, o carroceiro Carrasquimho, Bola Sete, a lavadeira Mary Burnett, Zé Quirino, Fracasso, Confusão, Velha Seca e, mais recentemente, o protético Moacir Cajueiro, Dona Hilda Leal, Alfonso Chongor Czygani (ex-oficial das tropas nazistas na 2ª. guerra mundial), o carnavalesco Manelão e o radialista Fernando José, o Pinguilite, dentro outros. Os respeitos desta coluna por suas historias de vida e de suas famílias.

Historiador e escritor regional(*)

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