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Francisco Matias

PORTO VELHO E O 4 DE JULHO, 110 ANOS DEPOIS


 

FRANCISCO MATIAS, ESCREVE

PORTO VELHO E O 4 DE JULHO, 110 ANOS DEPOIS

PORTO VELHO E O 4 DE JULHO, 110 ANOS DEPOIS - Gente de Opinião

Foto do trem ao chegar na estação Madeira. Observe-se a bandeira dos EUA estendida na lateral da locomotiva, e vários técnicos no entorno vestidos a caráter. Há um estandarte na frente da locomotiva mas este escriba não conseguiu distinguir. Não há nenhum símbolo brasileiro, e/ou, boliviano.

1.O dia 4 de julho poderia ser um dia como outro qualquer, não fosse a data da independência dos EUA, o Independence Day. Nesta data, os norte-americanos comemoram sua independência da Inglaterra, marcada pela primeira guerra civil, nos idos dos anos 1750. Em todas as representações dos EUA, mundo afora, ocorre esta comemoração. Tem sido assim ao longo dos anos e sempre será. Onde houver uma embaixada ou uma representação dos EUA, lá estará o 4 de Julho sendo festejado. No ano de 1907, em pleno coração da Amazônia, às margens do rio Madeira, no porto de abarrancamento conhecido como Porto Velho, em terras do município de Humaitá, técnicos e operários norte-americanos do consórcio May & Jeckill, contratado para construir a estrada de ferro Madeira-Mamoré, aguardavam com ansiedade aquele 4 de julho para comemorar de forma bem patriótica sua independência. Afinal, eles estavam ali, sob o calor tropical da floresta, a mercê das febres palustres, longe de suas casas, mas em uma das possessões norte-americanas para realizar uma das mais grandiosas obras ferroviárias do mundo, tão americana como se estivesse em solo dos EUA.

2.Portanto, nada poderia ser mais justo que lançar a pedra fundamental da ferrovia naquela data, mesmo porque já haviam construído uma parte das instalações para engenheiros e médicos e estavam finalizando outras para operários e pessoal administrativo. Estavam, desta forma, dando início a um núcleo populacional que eles chamavam PORTO VELHO OF THE MADEIRA RIVER, bem no estilo ferroviário utilizado nos avanços norte-americanos sobre seu próprio território, a Oeste. O núcleo urbano Porto Velho do Rio Madeira era, portanto, um enclave dos EUA na Amazônia, consequência do processo de anexação do Acre, das negociações do Brasil com a Bolívia e os EUA, do fechamento da questão com o Bolivian Syndicate e a Casa Bancária

Rothschild. Era, ao final, para sediar a Madeira-Mamoré, uma das compensações do Brasil à Bolívia, previstas no Tratado de Permuta de Territórios e Outras Compensações, firmado em Petrópolis, entre os governos brasileiro e boliviano, quatro anos antes.

3.O marco zero da ferrovia boliviana/brasileira/norte-americana, que ligaria o rio Madeira, no estado do Amazonas, ao rio Mamoré, no estado do Mato Grosso, na borda da nova fronteira Brasil-Bolívia, teria seu símbolo naquela sexta-feira, 4 de julho de 1907. Era costume das empreiteiras ferroviárias norte-americanas, aliás, um ritual, ao iniciar a construção de uma ferrovia, bater simbolicamente um prego de prata no primeiro dormente, e, ao terminar as obras, bater um prego de ouro no último dormente. A cerimônia de um ou de outro momento era muito prestigiada. Assim foi no antigo porto amazonense, local escolhido para ser construída a Estação Inicial Madeira. A partir desta data, o acampamento da May & Jeckill daria lugar ao povoado denominado Porto Velho do Rio Madeira, ou, Porto Velho de Santo Antonio ou, simplesmente, Porto Velho. Seja como for, o povoado nasceu com as feições norte-americanas, com placas indicativas em inglês, onde se falavam vários idiomas, mas sobressaía-se o inglês como língua oficial.

4.O pensamento era norte-americano. A ideia era norte-americana e os donos do poder eram norte-americanos, posteriormente, os anglo-canadenses. O primeiro jornal era intitulado The Porto Velho Times, a infraestrutura e os meios de comunicação eram norte-americanos. Havia, inclusive, uma linha divisória, melhor dizendo, uma avenida (atual Presidente Dutra), que dividia a posse norte-americana da outra parte que se organizava com “intrusos” brasileiros. Porto Velho, atual capital do estado de Rondônia, tem sido uma cidade cosmopolita desde seu surgimento como vila ferroviária da Madeira-Mamoré, tendo recebido a contribuição milhares de pessoas de todas as regiões do Brasil e do mundo, para a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, no início do século XX, até esta segunda década do século XXI com o complexo Madeira.

- Salve Porto Velho of the Madeira River, Porto Velho do Rio Madeira, Porto Velho dos Militares, Porto Velho de Santo Antônio. Salve Porto Velho de todos nós, que neste 4 de julho de 2017, completou 110 anos de existência.

Historiador e analista político*

Porto Velho, 04.07.2017

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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