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Gente de Opinião

Francisco Matias

PORTO VELHO E O MÊS DE JULHO


 

Por Francisco Matias(*)

PORTO VELHO E O MÊS DE JULHO - Gente de Opinião
Primeiro brasileiro a administrar uma empresa de capital estrangeiro
 

1. Parece uma sina, mas é uma coincidência histórica. O mês de julho exerce uma importante influência nos primeiros processos de formação sociopolítica de Porto Velho e, por extensão de Rondônia. Algumas datas de julho, apesar de esquecidas, foram marcantes. Esta coluna, visando contribuir com a memória histórica rondoniense, apresenta as efemérides mais relevantes. Para começar, o 4 de julho de 1907. Este poderia ser um dia como outro qualquer, não fosse a data da independência dos EUA, o Independence Day. Em todas as representações dos EUA pelo mundo afora ocorre esta comemoração. Onde houver uma representação qualquer norte-americana, a data estará sendo festejado. No ano de 1907, em pleno coração da Amazônia, às margens do rio Madeira, no porto conhecido como Porto Velho, situado em terras do município de Humaitá,AM, técnicos e operários do consórcio May & Jeckill, contratado para construir o complexo Madeira-Mamoré, lançaram a pedra fundamental da ferrovia Madeira-Mamoré.

2. Os norte-americanos aguardaram o 4 de julho pelo forte simbolismo da data. Afinal, a Madeira-Mamoré era mais uma bandeira dos EUA a ser fincada na Amazônia. Naquele dia, uma quinta-feira, surgia um núcleo populacional, em forma de acampamento ferroviário, chamado Porto Velho do Rio Madeira, outro enclave dos EUA na Amazônia, consequência do processo de anexação do Acre, das negociações Brasil/Bolívia/EUA, do fechamento da questão com o Bolivian Syndicate e a Casa Bancária Rothschild. Era, ao final, para sediar a Madeira-Mamoré, uma das compensações do Brasil à Bolívia, previstas no Tratado de Petrópolis, de 1903, celebrado quatro anos antes. Esta pode ser considerada a data de julho mais importante para a formação do estado de Rondônia.

3. Em 1931 e 1972, o 10 de julho marca Porto Velho e a Madeira-Mamoré. Em 1931, a reativação dos serviços ferroviários, paralisados desde o dia 30.06, acionou o processo de intervenção do governo federal na região do alto Madeira, que culminou com a encampação da empresa anglo-canadense The Madeira-Mamoré Railway Company Limited, pertencente ao grupo de Willian Cameron Forbes, cuja razão social foi versada para a língua portuguesa, sendo denominada Empresa Ferroviária Madeira-Mamoré S.A.. Era o início da Era Vargas e o Brasil vivenciava uma política nacionalizadora exacerbada. A Madeira-Mamoré foi a primeira empresa estrangeira a ser administrada por um brasileiro, o militar Aluízio Ferreira. Passados 41 anos, em plena vigência do regime militar, o governo, cumprindo aditamento ao Tratado de Petrópolis, resolveu erradicar a ferrovia, em processo iniciado em 1966 com a chegada do 5º. BEC, a Porto Velho, comandando pelo tenente-coronel Aloísio Weber, e de uma comissão erradicadora, chefiada pelo advogado Abílio Nascimento.

4. A partir de então, foi construída a BR 425, ligando Porto Velho, no distrito de Abunã, à estação final Mamoré, localizada na cidade de Guajará-Mirim. Esta rodovia federal substituiu a obsoleta ferrovia Madeira-Mamoré, levando à sua erradicação no dia 10 de julho de 1972, quando a BR foi inaugurada. Naquela segunda-feira, ouviu-se o último apito do trem-horário. Estava encerrada a complicada trajetória da Ferrovia do Diabo, Ferrovia dos Trilhos de Ouro, Ferrovia da Morte. O mês de julho vai mais fundo na vida de Rondônia. Em 1909, no dia nove, uma quarta-feira, chegavam a Porto Velho, procedentes de Belém, o sanitarista Dr. Oswaldo Cruz e seu médico particular, Dr. Belizário Pena. Um ano antes, no dia 3, sábado, era criado o município de Santo Antonio do Rio Madeira, instalado quatro anos depois, no dia 12 de julho.

5. Em 1922, dia 26 de julho, quarta-feira, o governo do Mato Grosso elevou o povoado de Esperidião Marques à condição de Vila, alterando sua denominação para Guajará-Mirim. Seis anos mais tarde, no dia 12 de julho, quinta-feira, o governo matogrossense criou o município de Guajará-Mirim. Em 1934, 06 de julho, sexta-feira, o presidente Getúlio Vargas consolidou o processo de encampação da Madeira-Mamoré, ao anular o contrato de concessão à empresa anglo-canadense, concluindo o que se chama de Nacionalização da Madeira-Mamoré. Convém salientar que o referido termo de concessão foi assinado no dia 1º. de julho de 1912, uma segunda-feira.

6. Em 1932, com a eclosão da Revolta Constitucionalista de São Paulo, dia 9 de julho, sábado, contra o governo Vargas, Porto Velho entrou na pauta dessa guerra civil, a partir do momento em que o presidente Vargas convocou o diretor da Madeira-Mamoré, Aluízio Ferreira, atuar como censor dos correios, no Rio de Janeiro. Em 1960, dia 10 de julho, domingo, atendendo a convite do deputado federal Aluízio Ferreira, do governador Paulo Leal e da empreiteira Camargo Correa, o presidente JK visitou o município de Porto Velho, onde, na área do povoado de Vilhena, derrubou a última árvore que impedia a abertura efetiva da BR 029, Brasília-Acre, atual BR 364. Naquela solenidade, um acidente quase provoca uma tragédia nacional. A árvore em questão, previamente cerrada, tombou para o lado contrário, e, por um triz, não caiu sobre o trator no qual estava JK. É Porto Velho e Rondônia, no mês de julho e suas datas esquecidas.


Historiador e analista político*

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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