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Francisco Matias

PORTO VELHO OU CAIARÍ? – PARTE II


                              

Por Francisco Matias(*)
 

1.A criação do Território Federal do Guaporé, com a inclusão dos municípiosde Lábrea e uma parcela do de Canutana, desmembrados do estado do Amazonas, e do município de Mato Grosso (ex-Vila Bela da Santíssima Trindade) do estado do Mato Grosso, gerou um problema político para o presidente Getúlio Vargas. No ano seguinte, o governo foi obrigado a fazer reintegração territorial. No caso de Lábrea e Canutama, os motivos, além de políticos, foram geográficos. Por isso, na elaboração do Plano de Limites dos Novos Territórios, o IBGE decidiu excluí-los por estarem situados no Vale do Purus e não inseridos nos vales do Guaporé, Mamoré, Madeira, Jamary ou Gy-Paraná. Nesse novo planejamento territorial o governo adotou uma linha limite que incluiu os divisores de água Gy-Paraná/Marmelos/Roosevelt, e estendeu o Território Federal do Guaporé ao Planalto Vilhena, do alto rio Roosevelt com o rio Capitão Cardoso, ampliando seu espaço mais ao leste e ao norte, no sopé da Serra do Norte, ao longo dos rios Capitão Cardoso, Tenente Marques, Iquê e Teluiri-Inajá, na faixa coberta pelas linhas telegráficas da Comissão Rondon.

2.Em contrapartida ocorreu o desligamento dos municípios de Lábrea e Canutama,por estarem localizados em terras de difícil tributação com o rio Madeira. Eram, portanto, corpos estranhos ao Território Federal do Guaporé. O IBGE, atendeu a um estudo do coronel Aluízio Pinheiro Ferreira, que considerou a relação entre as cidades de Porto Velho e Lábrea, apesar de ser de 190 km em linha reta, seria necessário descer o rio Madeira até sua foz, em Itacoatiara,AM, e subir o rio Amazonas até o Purus, num percurso de 2.500 km. Desse modo, ficaram no Território apenas os municípios do Alto Madeira e Guajará Mirim, desmembrados do Mato Grosso, e Porto Velho, do Amazonas. Na época, a cidade de Porto Velho possuía 3,2 mil habitantes e 810 prédios. Para ter um ideia, a cidade do Alto Madeira possuía apenas 61 moradores e 21 prédios. Estava em franco declínio econômico e populacional e as autoridades (prefeito, juiz, advogados, chefe do posto telegráfico e o delegado de polícia) passaram a residir na cidade de Porto Velho que passou a funcionar como sede dos dois municípios.

3.Em 1944, o governo Vargas deu início ao processo de extinção do município do AltoMadeira, que havia, na opinião do governo, “perdido sua razão de ser como circunscrição administrativa”. Na verdade, a Vila de Santo Antonio, situada no extremo navegável do rio Madeira, entrou em decadência em meados de 1908, com a transferência da maior parte dos seus comerciantes para a parte oriental da povoação denominada Porto Velho of the Madeira River, fundada em 4 de julho de 1907. Foi tão intensa a migração dos moradores da Vila de Santo Antonio, que gerou uma nova povoação, chamada Porto Velho de Santo Antonio, paralela e vinculada ao núcleo norte-americano da Madeira-Mamoré. A nova povoação de Porto Velho, brasileira, oferecia melhores condições de comércio devido suas condições portuárias, por sediar a estação inicial da ferrovia e atuar como entroncamento rodo-ferro-hidroviário. Por conta disso, todo o movimento urbano da Vila de Santo Antonio foi transferido para a povoação de Porto Velho, marcando um fenômeno raro na Amazônia, no qual uma povoação absorveu integralmente outra.

4.No entanto, o problema da denominação de Porto Velho persistia, apesar daedição do anexo 2, ao decreto-lei nº 5.839/1943. Os territórios federais estavam criados, mas não instalados. O Território Federal do Guaporé ficou com sua capital registrada oficialmente como Caiarí, anteriormente denominada Porto Velho, até o final de 1943. Por isso, o Território somente foi instalado no dia 29 de janeiro de 1944. Passaram-se cinco meses, da criação à instalação e posse efetiva do primeiro governador, até o IBGE retomar o registro da capital como cidade de Porto Velho.

5.Mas não parou por aí o dilema como o nome Porto Velho e a aversão que o coronel Aluízio Pinheiro Ferreira sentia. Ele continuaria a tentar mudar o nome da cidade e do município, dissociando-o do velho porto amazônico, da povoação de Porto Velho of the Madeira River, ou da povoação de Porto Velho de Santo Antonio. Não via nenhum significado histórico ou heróico para este nome. Esta luta do coronel Aluízio Ferreira entre manter o nome Porto Velho ou mudá-lo para Caiarí, com maior expressividade histórica e regional, não cessou com a decisão do governo Vargas em reconsiderar o nome Caiarí e manter Porto Velho. No final da década de 1950, as duas únicas cidades do Território Federal de Rondônia, Porto Velho e Guajará Mirim estavam envolvidas nas questões políticas entre os Cutubas e os Peles Curtas. O coronel Aluízio Pinheiro Ferreira conquista seu terceiro mandato de deputado federal, nas eleições de 1958 e volta ao começo: mudar o nome de Porto Velho para Caiarí ou Urucumacuã. Seus aliados políticos vão mais além, querem mudar para Aluizópolis, em sua homenagem e ele finge não aceitar.

6.Caiarí, Urucumacuã ou Aluizópolis. A oposição pele-curta reage. O deputado Aluízio Ferreiraapressa-se e desautoriza o nome Aluizópolis, mas cala-se sobre Caiarí ou Urucumacuã. Agrada-lhe a ideia da mudança do nome da capital do Território. Não simpatizava com a denominação Porto Velho. Mas, no final, permaneceu Porto Velho, a toponímia do antigo porto amazônico, em cujo barranco foi edificada uma povoação norte-americana na Amazônia. Esse é outro enigma incluído no grande mistério chamado Porto Velho.

Historiador e analista político(*)

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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