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Francisco Matias

PORTO VELHO, UM SÉCULO DE HISTÓRIA - 2


            

1.Quis o destino que nós todos estivéssemos aqui, em Porto Velho, nesse dia 2 de outubrode 2014, quando tudo deve zerar para começar do 100, melhor dizendo, dos cem anos. Quer o destino que a população desse município, o maior, mais populoso e mais rico do Estado de Rondônia, continue o trabalho, a esperança e as perspectivas daquele povo que fez nascer Porto Velho, há 100 anos.  As autoridades e a sociedade bem que poderiam emitir uma “zerésima” das coisas erradas, da má gestão, da desatenção, do desamor, para recomeçar a história futura, sem perder de vista o passado, o pioneirismo e a luta de homens e mulheres que estavam por estas plagas no dia 2 de outubro de 1914. Esta “zerésima” poderia sair da máquina do tempo como uma lição de tudo o que não deverá ser feito nos próximos cem anos, e revelar o que de bom deve ser praticado, demonstrado e ofertado às gerações do centenário, presente e futuro.

2.Esta coluna, e este escriba, estão agradecidos a Porto Velho e presta reverênciaàquela sociedade que se formava e lutava contra o poderio da empresa anglo-canadense Madeira-Mamoré, ao tempo em que dependia quase totalmente da mesma para existir econômica e profissionalmente, seja dependência direta, como funcionários, seja indireta na comercialização, aquisição e fornecimento de bens e insumos. Era uma sociedade que vivia os estertores do primeiro ciclo da borracha e o auge da geopolítica da ferrovia Madeira-Mamoré, no seu leva e traz de Porto Velho a Guajará Mirim e buscava novas formas de sobrevivência nesse lado isolado do sul da Amazônia.

3.Mas, esta coluna não poderia deixar de prestar homenagem histórica a um cidadão,imigrante baiano, médico na cidade de Humaitá,AM, diretor do Serviço Sanitário de Humaitá, mas comissionado para atender na povoação de Porto Velho como subinspetor sanitário. Ele tinha seu consultório na Pharmacia Madeira, cujo proprietário era Arthur Napoleão Lebre, situada na rua do Comércio, atual avenida 7 de setembro, onde atendia das 7 às 11 horas da manhã. Trata-se do Dr. PEDRO DE ALCÂNTARA BARCELLAR, cujo nome não é sequer lembrado no contexto histórico do município de Porto Velho. Esse cidadão exerceu dois mandatos eletivos no Estado do Amazonas. O primeiro de deputado estadual, eleito em 1912 pela legenda do Partido Republicano do Amazonas, PRA. Na campanha eleitoral ele prometeu aos comerciantes que iria apresentar projeto de lei criando o município de Porto Velho. Foi muito bem votado na povoação e cumpriu a promessa. Por sua atuação, a Assembleia Legislativa do Amazonas aprovou a Lei nº 757, de sua autoria, sancionada pelo governador Jônathas de Freitas Pedrosa, no dia 2 de outubro de 1914. É o motivo das comemorações dos cem anos do município. Mas, o deputado PEDRO DE ALCÂNTARA BARCELLAR sequer é nome de rua, escola, praça ou posto de saúde no município que  criou. Nem aparece em livros didáticos, ou paradidáticos, para que as gerações do presente e do futuro possam saber do seu passado histórico. É um personagem da História de Porto Velho, infelizmente, jogado para debaixo do tapete.

3.O deputado PEDRO DE ALCÂNTARA BARCELLAR revelou-se um político de projeçãoestadual no Amazonas. Desse modo, nas eleições seguintes, em 1916,  seria eleito ao cargo de governador do Estado. Aos comerciantes de Porto Velho ele prometeu corrigir uma falha no seu projeto de lei que criou o município. Essa falha consistia na ausência de um artigo dispondo sobre a elevação da povoação de Porto Velho, distrito-sede do município, à categoria de cidade. Dito e feito. Sua posse no cargo de governador do Amazonas deu-se em 1917. Dois anos depois, ele encaminhou à Assembleia Legislativa mensagem, transformada em projeto de lei, elevando a povoação de Porto Velho à categoria de cidade, na forma da lei nº 1.011, de 7 de setembro de 1919.

4.Portanto, o nome do político PEDRO DE ALCÂNTARA BARCELLAR deveriaestar sendo reverenciado nesta augusta data de 2 de outubro de 2014, quando o município comemora cem anos, por ser sido o mentor político, criador e primeiro representante na Assembleia Legislativa do Amazonas.

PS: Este colunista tem ouvido nos meios de comunicação que na data de hoje se comemoram os cem anos da capital de Rondônia. Não é. Município não é capital de nenhum estado do Brasil, muito menos do de Rondônia. Os cem anos são da criação do MUNICÍPIO DE PORTO VELHO, cujo distrito, e posteriormente, cidade, é Porto Velho, que, como todo distrito-sede, dá nome ao município. A capital do Estado de Rondônia a CIDADE DE PORTO VELHO, somente foi formal e legalmente criada cinco anos depois da criação do município, e só completará cem anos no dia 7 de setembro de 2019. Quem viver verá.

Historiador e analista político(*)

Porto Velho, 03.10.2014, cem anos de Porto Velho.

Parabéns aos pioneiros de antes e de agora. Votos sinceros que as futuras gerações possam melhor conhecer seu passado histórico para entender melhor as razões de sua existência, e, sobretudo, amar com amor esta terra, onde pessoas nascem e renascem.
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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