Segunda-feira, 1 de agosto de 2016 - 17h36
Luís Inácio da Silva, o Lula, de sindicalista a líder político mundial
1. A profusão de fatos envolvendo o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva revelou o lado B desse líder político nacional. As fotos que o mostravam sempre sorridente e com ar de moço bom, deram lugar a outras em que aparece sorumbático, macambúzio e às vezes raivoso ou amedrontado. Não é o mesmo Lula que sempre foi apresentado ao distinto público como o realizador, a promessa, a esperança, o filho do Brasil. Lula era o povão encarnado. Era o líder político nascido das bases que alçou os voos mais altos que poucos conseguiram e poucos conseguirão nos próximos 40 anos. Dificilmente se verá nesse país do nunca antes alguém com trajetória tão próxima ao povo, tão elevada e tão bonita de se ver. Quando Lula foi eleito presidente da República, em 2002, restou a esperança de que qualquer do povo poderia sonhar, pois qualquer do povo poderia chegar lá. A esperança havia vencido o medo.
2. Passados catorze anos, ou quase uma década e meia, tudo mudou no mundo e no Brasil, como tudo tem que mudar. Mas ninguém mudou tanto quanto o Lula. Melhor dizendo: nada revelou tanto a sua outra face, o seu lado B quanto Lula. Do início de 2015 até julho de 2016, em pouco menos de 15 meses, a figura robusta desse líder político foi sendo desconstruída com tanta pressa que parece que um escultor raivoso usou seu martelinho para deformá-la. Lula revelou-se corrupto e corruptor. Cercou-se de amigos dos quais retirou tudo o que pôde e deu tudo o que eles queriam. Tão fortes e próximas essas amizades que a maioria desses bons amigos está na cadeia ou ostentando as famosas tornozeleiras eletrônicas. Alguns, sentindo-se abandonados em meio ao mar de lama que os tragou, resolveram colaborar com a justiça e tornaram-se delatores. Lula ficou na triste condição de ser uma ilha de honestidade cercada de desonestos por todos os lados. Nunca na história desse país um presidente, ou ex-presidente, teve tanto poder acumulado e foi tão desconstruído quanto Lula. Quantas vezes ele teve de ir depor em delegacias, às vezes improvisadas em salas de aeroporto. Quantas vezes teve que autoproclamar-se “a alma viva mais honesta desse país”, condição que ele talvez nem acredite. Quantas vezes terá acordado no meio da madrugada “assombrado com a república de Curitiba”. Nunca antes nesse país do nunca antes um presidente da República foi tão reverenciado e tão desconstruído quanto Lula.
3. Lula tinha tanta certeza de que jamais chegaria a esse ponto tão baixo de sua trajetória que não hesitou em defender amigos e correligionários corruptos e esqueceu de si próprio. Em sendo o grande provedor, deveria ser, é claro, o grande beneficiado com palestras pagas a peso de ouro, a treze mil reais o minuto, com apartamento e sítio reformados por empreiteiros a custo maior do que o próprio imóvel, com a família enriquecendo da noite para o dia, sem falar em jatinhos, viagens ao exterior a serviço de empreiteiras, envolvimento com ditadores africanos e sulamericanos e até apoiar o terrorismo islâmico sem sequer enrubescer as faces. “Eu sou o cara”, foi convencido disso como é convencido de qualquer coisa que queira. Lula confundiu sua eleição e reeleição e o seu poder de eleger e reeleger prefeitos, governadores, senadores e até presidente da República com a vermelhidão do seu partido. Dilma recebeu 54 milhões de votos. Ele assimilou isso como se fossem 54 milhões de petistas, seguidores e simpatizantes do petismo e do comunismo. Ledo engano.
4. Lula não foi convencido da conjuntura do país e do desejo de mudança que ele representava. E as mudanças que o povo queria estavam embutidas nos seus discursos pela ética, pela honradez e pelo patriotismo. Com Lula lá o povo estará lá. Só que não. Pelo menos o povo que o Lula chama de povo não estava lá com o Lula lá. Quem estava lá eram Sarney, Maluf, Renan, Cunha, Dirceu, Lulinha, Friboi, Odebrecht, OAS, Camargo Correia, Evo Morales, Hugo Chaves, Fidel e Raul Castro, Armajinezad, Hamas, Quebra da Ética, Corrupção, Furto, Mentira, Amante latina, Cerveró, MST, Palavrões, Desrespeito às Leis, Pedaladas Fiscais, Cesare Baptisti, Terrorista Islâmico, Médicos Cubanos, Contratos Secretos, Ministros Malfeitores, Mordomias, Bebidas e Ameaças de Incendiar o País. O povo nunca esteve lá. Lula assumiu o papel de Pai dos Pobres, mas com a função precípua de ser a Mãe dos Ricos.
5. O político Lula ainda tem muita gordura para queimar. Engana-se quem pensa que ele esteja acabado. Mas engana-se ainda mais quem pensa que ele ainda convence ao distinto público não petista que o admirava. Não convence mais. Aos 70 anos ele poderá ser preso por um juiz federal de primeira instância, o que será a pá de cal em suas pretensões presidenciais. “Eu só estou assombrado com a República de Curitiba”, falou ao telefone com a presidente Dilma antes de sapecar o famoso “Tchau, Querida”. E cabe uma pergunta: apesar de tanta disposição para o enfrentamento será que o homem Lula dorme bem ao lado de dona Marisa em seu confortável e merecido apartamento no Guarujá? Ou será que ele desperta ao som de panelaços depois de sonhar que seu sonho pode ter acabado em pesadelo? Afinal, Lula é um ser humano que, como mesmo disse, só não incendeia esse país porque não deseja ser outro Nero e tem família. Nesse caso, tem sentimentos. Será que dorme bem?
*Francisco Matias é historiador e analista político, membro da Academia Rondoniense de Letras,ARL, da Sociedade Brasileira de Escritores e do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia.
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