Segunda-feira, 10 de julho de 2017 - 16h11
FRANCISCO MATIAS*, ESCREVE
RÉQUIEM PARA O DR. LUÍS MALHEIROS TOURINHO
“Há três coisas das quais a gente não escapa: do imprevisto, da traição e da morte”.
Ao saber do falecimento do empresário, advogado, jornalista e pioneiro Luís Malheiros Tourinho fiquei sem saber o que dizer, mas pensei o que escrevi acima, que a gente não escapa do imprevisto, da traição e da morte. Porque Luís Tourinho viveu tudo isso e não conseguiu escapar de nenhum desses percalços naturais da vida. Se a morte é consequência natural da vida, para Luís Tourinho foi sua própria circunstância. Eu não ia escrever nada até que li, no Alto Madeira, o artigo do economista, articulista e escritor Silvio Persivo com o título UM PROTAGONISTA DA HISTÓRIA, no qual este grande intelectual de Rondônia resume a rica trajetória do Dr. Luís Tourinho. Tenho a honra de ter privado da amizade do Dr. Luís e de privar da amizade do Silvio Persivo. E os dois, por razões diferentes, me estimularam a escrever pela primeira vez, nesses trinta e cinco anos que escrevo na imprensa rondoniense, na primeira pessoa.
De tudo o que Silvio Persivo escreveu, nada poderia ser acrescentado, mas, como amigo e historiador, tenho a presunção de inserir alguns pontos. Silvio Persivo diz que Luís Tourinho não foi santo. E nem poderia. Para se tornar o grande empreendedor que foi nas décadas de 1960, 1970, 1980 e 1990, nesta Porto Velho aventureira por essência, não dava pra ser santo, e por não ter sido, ainda corre à boca miúda o incêndio do mercado municipal para erguer o então suntuoso edifício Rio Madeira. Na memória antiga, consta que foi ele quem mandou incendiar o mercado. Jamais se conseguiu provar isso, mas historicamente, sua biografia não poderá ser escrita sem esta passagem. Se foi ou não foi, para a memória histórica foi. E não só isso. Luís Tourinho foi acusado de ter matado um homem a tiros, no bairro da Olaria, por questões relacionadas à venda de seguros, securitário que era. Não dá para afastar esta história da história de vida desse visionário e empreendedor rondoniense que furou barreiras morais, materiais e imateriais para ver seus sonhos e projetos realizados.
Temido e respeitado. Amado e odiado, Luís Tourinho vencia as dificuldades com sua argúcia e largas passadas rumo ao futuro. Destemido, inteligente, visionário, tomava suas posições como jornalista, advogado, cidadão de Rondônia e da Amazônia. Era um homem de direita e não escondia suas posições políticas. Foi assim que o encontrei no limiar da década de 1980 quando eu estava escrevendo sobre o golpe militar de 1964 e o período do capitão Anachreonte Coury Gomes, oficial de inteligência do Exército, incumbido de implantar os ditames do regime militar no Território Federal de Rondônia, á época com apenas dois municípios – Porto Velho e Guajará Mirim. Em abril de 1964, no mês de implantação da ditadura militar, o capitão Anachreonte chegava a Porto Velho e tinha uma referência de apoio: o jornal Alto Madeira e um dos seus donos, o jornalista Luís Tourinho.
Ninguém falava isso em voz alta, mas fui recomendado a falar com Luís Tourinho, afinal, o capitão Anachreonte prendeu, perseguiu e torturou adversários do regime militar em Porto Velho. Apressei o passo, conseguiu acompanhá-lo e sapequei a pergunta: é verdade que o senhor apoiou o governo do capitão Anachreonte? Ele não me olhou. Continuou caminhando rapidamente e respondeu. Sim. É verdade. E seguiu em frente. Eu fui pra pesquisa e, no próprio jornal Alto Madeira da época, encontrei publicado o gabinete formado pelo capitão Anachreonte: Secretário Geral e de Administração, Mário de Almeida Lima: Divisão de Segurança, Dr. Eli Gorayeb; Chefe de Gabinete, Dorival de Souza França; Divisão de Saúde, Dr. Leônidas Rachid; Divisão de Educação, professor Lourival Chagas da Silva; Divisão de Obras, Dr. Calmon Viana Tabosa e, Assessor de Imprensa e Porta-Voz do governo, o jornalista Luís Malheiros Tourinho. O jornal Alto Madeira tornou-se o diário oficial do governo Anachreonte.
Em 1994, as circunstâncias fizeram aproximar-me mais do Dr. Luís Tourinho. Ele iria colocar em prática seu projeto político maior, o de ser senador. Filiado ao PFL, lançou-se candidato no meio das feras da política rondoniense – José Bianco, Ernandes Amorim, Amir Lando, Eduardo Valverde e outros. Eu e minha mulher, Nazaré, fizemos parte de sua equipe de coordenação, juntamente com José Sales de Oliveira, João Pequeno, Silvio Persivo, Professora Conceição, Dr. Orlando e outros devotados ao Dr. Luís. Mas não deu certo. Ele obteve pouco mais de 30 mil votos e ficou em 5º. Lugar. Os vencedores foram José Bianco e Ernandes Amorim. Mas Luís Tourinho foi à luta, como era seu estilo. Perdeu, mas não se sentiu derrotado. Só a doença e a morte o derrotariam. Como disse Silvio Persivo, é impossível escrever a história empresarial de Rondônia (e acrescento a história do jornalismo) sem o nome do Dr. Luís Malheiros Tourinho, o homem que foi sua própria circunstância.
*Historiador, Analista Político, membro da Academia Rondoniense de Letras, ARL, do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia, da Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica e da Sociedade Brasileira de Escritores.
Porto Velho, RO, 10.07.2017
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