Sábado, 14 de abril de 2007 - 19h43
ANÁLISE DA HISTÓRIA
1. Quando chegou em Porto Velho, no ano de 1950, o cearense Luiz Moura tinha apenas 18 anos de idade e era mais um nordestino que, fugindo do destino, buscava melhorar de vida, como ocorre com todos os que emigram e engrossam as duras estatísticas dos vários processos migratórios destinados a esta terra de Rondon. Seu Luiz Moura, como ficaria conhecido, trabalhou na prefeitura de Porto Velho e participou, entre outras aventuras de desbravamento regional, da Caravana Ford, em 1960, que rasgou a floresta e inaugurou as viagens rodoviárias de São Paulo a Rondônia. Um ano antes de seu Luiz Moura aportar em Porto Velho, nascia por estas plagas, Esron Penha de Menezes Neto, filho do capitão Esron Penha de Menezes e neto do comerciante e político Esron de Menezes. De tradicional família porto-velhense, o menino Esron de Menezes Neto certamente viria a conhecer o homem Luiz Moura. Por certo, o jovem Esron Neto, nascido e criado no bairro Caiary, onde foram morar os "categas" da Madeira-Mamoré, viveu toda sua vida sem conhecer o cearense Luiz Moura. A grande diferença de idade, talvez não lhes tenha permitido ser amigos.
2. Mas, o destino quis os dois ficassem lado a lado pela última vez na morte. A morte, velha senhora, matou os dois no mesmo dia. Os dois foram velados na mesma hora e lugar. Seu Luiz Moura, o pioneiro, era um rondoniense que nasceu grande no então Território Federal do Guaporé, como nascem e renascem aqueles que o destino empurra para outras terras do poente. Esron Penha de Menezes Neto, ao contrário, nasceu menino, filho do Território Federal do Guaporé. Ambos em Porto Velho onde viveram suas vidas separadas pelo destino, e morreram sem poder mudar seus destinos. Luiz Moura, um senhor de 75 anos de idade, morreu vitimado pelo câncer, depois de muito sofrer, de perder metade do rosto e um olho. Cumpriu seu ciclo de vida e, de certo modo, deu um alívio à família Moura que sofria junto com ele sua dor de morte. Esron Penha Neto, aos 58 anos, não teve tempo de sofrer. Ele morreu depois de um violento acidente de trânsito, quando um caminhão desgovernado, esmagou seu carro em uma das principais artérias da cidade em que nasceu. Não cumpriu seu ciclo de vida. Ambos eram, ao seu modo e ao seu tempo, dois pioneiros de Rondônia. Dois rondonienses. Um por força do destino. O outro por nascimento. Ambos morreram no mesmo dia e ficaram, sem saber, lado a lado nos seus momentos finais sobre a terra que amaram.
3. Novamente o destino e seu poder de vida e de morte, quis que o capitão e historiador Esron Penha de Menezes, pai zeloso, vivesse o bastante para sofrer o infortúnio de perder um filho tragicamente. A longa vida desse homem de Rondônia, que se confunde com a cidade de Porto Velho, fez-lhe chorar pela perda do filho primogênito, que levava o nome extensivo da família, iniciada por Esron de Menezes, avô, no final do século XIX. Quis o destino que os filhos de seu Luiz Moura, pudessem chorar a morte do pai, com a certeza de que ele cumpriu seu ciclo de vida. Dois pioneiros que se foram, como todos um dia terão de ir. Não com tanta dor como a que sofreu seu Luiz Moura, o cearense que um dia veio parar em Rondônia, não com tanta violência como a que sofreu Esron Penha de Menezes Neto. Descansem em paz, pioneiros.
FONTE: Francisco Matias - Historiador e Analista Político
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