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Francisco Matias

RONDÔNIA E AS 'MANIFESTAÇÕES' - PARTE II


Por Francisco Matias(*)

1.O estado de Rondônia, como não poderia deixar de ser, entrou firme nas MANIFESTAÇÕES de junho/2013. Os dias 19 e 26 foram os mais movimentados e teve até atos de vandalismo, para não ser diferente. Vandalismos à parte, por serem reprováveis, os manifestantes mobilizaram-se em todo o Estado, notadamente em Ji-Paraná, Ariquemes, Cacoal, Vilhena e, claro, Porto Velho. As bandeiras foram as mesmas empunhadas no restante do país: melhorias na saúde e educação, mobilidade urbana, redução do preço das passagens de ônibus e melhorias nesse tipo de serviço, combate e punição aos corruptos e outras reivindicações. Em Porto Velho estas bandeiras foram agregadas com a indignação pelos viadutos e marginal Rua da Beira, duas artérias urbanas que ladeiam a BR 364 na entrada e saída da capital de Rondônia e fechamento da BR 364 na altura do distrito de Nova Califórnia para a (re) criação do município de Extrema de Rondônia.

2.A população rondoniense demonstrou seu descontentamento com os poderes executivo (federal e estadual) legislativo e judiciário. É a mesma indignação nacional motivada pela falta de sintonia entre os mandatários e os que lhes conferem os mandatos. Desse modo, a classe política de Rondônia pode sentir que a sociedade não está dominada nem embriagada por propagandas e aparências enganosas. Os políticos “desse país”, notadamente os que estão encastelados nos palácios, não perceberam que, ao contrário da Roma antiga, o povo percebeu que tem mais circo do que pão. E isso tem de mudar. Talvez a classe política dominante não saiba, mas os jovens de Rondônia formam a maioria do eleitorado e representam uma população majoritária situada entre os 16 e 35 anos de idade. Esses jovens são muito bem informados, escolarizados e antenados com o país através das redes sociais e debates nas faculdades e demais instituições de ensino.

3.Mas, como não poderia deixar de ser, o rescaldo das “manifestações” caiu sobre Rondônia como pedra de uma funda. No calor dos acontecimentos, o STF liberou o mandado de prisão contra o deputado federal Natan Donadon, PMDB/Vilhena, e o Tribunal de Justiça fez o mesmo com o deputado estadual Marco Antonio Donadon, PMDB/Colorado do Oeste. Na falta de coisa melhor a apresentar, a Justiça não teve outro jeito e mandou prender dois deputados de Rondônia, por sinal irmãos, mesmo partido e base eleitoral e detentores de mais de quatro mandatos cada um. Marco Antonio Donadon foi preso ao chegar ao Aeroporto de Porto Velho e Natan Donadon passou uns dias foragido, mas terminou por entregar-se, tendo negociado o não aparecimento de sua prisão em rede nacional de TV. Agora ambos foram expulsos do PMDB, vão perder os mandatos e amargar alguns anos de cadeia.

4.Mas, saiba a quem interessar possa que os manifestantes não ficarão satisfeitos apenas com essas prisões periféricas. Esperam coisa melhor da Justiça. Por exemplo: os poderosos mensaleiros condenados que estão, a cada dia, mais longe de receberam o mesmo tratamento dos Donadon. Ou será que o STF vai esperar que melhorem as condições das cadeias e estas se transformem em hotéis cinco estrelas para receberem esses ilustres cidadãos? Aliás, este foi um debate levantado por dois ministros do STF e pelo ministro da Justiça: o sistema prisional brasileiro é dos piores do mundo. Ora, todo mundo sabe disso. Mas este tema somente veio à baila devido à condenação do ex-ministro José Dirceu e demais mensaleiros. Seja como for, as manifestações podem ter despertado não somente o país, mas também os novos ministros do STF. Quem viver, verá.

5.A nível nacional, as manifestações acordaram a presidente Dilma Rousseff, o PT e o PMDB. Principalmente a presidente da República e o PT, que não esperavam houvesse um Brasil capaz de indignar-se e mobilizar-se fora do mundo petista. Até hoje, aqueles que pensavam ser “donos da gente” estão sem saber o rumo a tomar. A presidente convocou reunião com governadores e prefeitos de municípios onde funcionam capitais de Estado no intuito de mostrar o governo como solução do problema, negando-se a reconhecer o governo como parte do problema. E acenou com cinco pactos difíceis de serem cumpridos a curto e médio prazos. E, para desviar o foco, lançou a idéia de um plebiscito com o tema da reforma político-partidário-eleitoral. Não deu certo. É somente estratégia para estancar as mobilizações sob o temor de que voltem a ocorrer ano que vem, em pleno andamento da campanha eleitoral. Será um desastre.

Historiador e analista político(*)

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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