Por Francisco Matias(*)
1. Nesta 4ª. feira, 21 de abril 2010, o Brasil comemora três datas muito importantes para sua formação histórica e política. A morte de Tiradentes, a fundação de Brasília e a morte de Tancredo Neves. A primeira tem como referência o ano de 1792, com a morte do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Luso-brasileiro, Tiradentes foi morto pelo governo português por tramar contra a elevada tributação sobre a atividade mineral. Esta cobrança do imposto aterrorizava a todos. E o dia da “derrama” estava chegando. Seria no primeiro semestre de 1789. Tiradentes e um importante grupo de comerciantes das Minas Gerais conspiravam para não pagar o Quinto sobre os minérios. Havia uma senha para desencadear a operação: “Hoje é dia de batizado”. Ao grupo liderado por Tiradentes coube a missão mais ousada – tomar o palácio do governador. Outros deveriam bloquear as vias de acesso ao Rio de Janeiro, e impedir a chegada de reforços. O grupo estava bem armado e municiado. Pronto para o combate.
2.Tiradentes contava com vários líderes nesta conspiração, mas confiava mais no minerador Joaquim Silvério dos Reis, que estava atolado em dívidas com o fisco e havia aderido ao movimento. Mas este era o problema. Endividado até o pescoço, Joaquim Silvério dos Reis propôs o que hoje se chama “delação premiada”. Assim, no dia 15 de março de 1789, ele abriu o jogo ao Visconde de Barbacena, encarregado de executar a “derrama”. Em depoimento por escrito, Joaquim Silvério dos Reis entregou os nomes dos principais líderes da conspiração em troca do perdão de sua dívida. Como resultado, a “derrama” foi suspensa. Os conspiradores sentiram que alguma coisa estava errada. Os inconfidentes ficaram em alerta vermelho. Alvarenga Peixoto, poeta e intelectual do grupo, aconselhou cautela. Todos deveriam negar a conspiração, fosse como fosse.
3.Tiradentes estava no Rio de Janeiro onde deveria encontrar-se com Joaquim Silvério dos Reis. Foi seu erro. Ao tentar retornar a Minas Gerais, teve o passaporte negado pelo Visconde de Barbacena, Ele não percebeu a traição ao confabular com Joaquim Silvério dos Reis, mas buscou refúgio na casa de outro conspirador, Domingos Fernandes da Cruz. Ali cometeu outro erro ao enviar o padre Ignácio Nogueira para encontrar-se novamente com Silvério dos Reis. O padre foi preso e torturado até entregar local onde Tiradentes estava escondido. No dia 10 de maio de 1789, Tiradentes foi preso. Dias depois, todos os líderes foram presos, a começar por Tomás Antonio Gonzaga, Claudio Antonio da Costa e o tenente-coronel Gomes Freire de Andrade, seguidos por mais 32 inconfidentes.
4. Mas um fato novo iria alterar o destino dos prisioneiros. Tiradentes assumiu toda a responsabilidade pelos atos, por isso, foi o único condenado à morte. Não se pode esquecer do assassinato de Claudio Manoel da Costa, em sua cela. Os outros receberam a Real Piedade e a Real Clemência de D. Maria I, rainha de Portugal. Portanto, ao meio dia de 21 de abril de 1792, há 218 anos, Joaquim José da Silva Xavier subiu ao patíbulo, erguido no Campo de São Domingos, no Rio de Janeiro, onde foi enforcado, decapitado e esquartejado. Cada parte do seu corpo foi exposta em lugares estratégicos como advertência àqueles que ousassem levantar-se contra a Coroa portuguesa. Sua cabeça foi levada a Vila Rica, em Minas Gerais, berço do levante.
5. A sentença dada a Tiradentes teve um caráter pedagógico, exemplar, aterrorizador. Observe-se a determinação dos juízes que o condenaram:
“Condenam o réu Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha o Tiradentes, alferes que foi da tropa paga da capitania de Minas Gerais, a que com baraço e pregão seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar da forca e nela morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Vila Rica, onde em o lugar mais público dela será pregada, em um poste alto até que o tempo a consuma; e o seu corpo será dividido em quatro quartos, e pregado em postes, pelo caminho de Minas, no Sítio da Varginha e das Cebolas, onde o réu teve as suas infames práticas, e os mais nos sítios de maiores povoações até que o tempo também os consuma; declaram o réu infame, e seus filhos e netos, tendo-os, e os seus bens aplicam para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Vila Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique, e, não sendo própria, será avaliada e paga ao seu dono pelos bens confiscados, e no mesmo chão se levantará um padrão, pelo qual se conserve a memória desse abominável réu”. Que Deus nos proteja de uma justiça assim.
PS: não se sabe se Tiradentes tinha filhos, se teve netos ou se morava de aluguel. Mas, Joaquim Silvério dos Reis, o da delação premiada, teve. E em Rondônia moram dois dos seus descendentes. O comerciante Sebastião Xavier dos Reis, ex-vice-prefeito de Machadinho do Oeste, e seu irmão, o também comerciante Jurandir Silvério dos Reis, ex-vereador em Seringueiras.
Historiador e analista político(*)
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