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Francisco Matias

RONDÔNIA E O 21 DE ABRIL – PARTE I


           
FRANCISCO MATIAS ESCREVE

 

RONDÔNIA E O 21 DE ABRIL – PARTE I - Gente de Opinião
A Bandeira de Minas Gerais tem como s
imbolismo o lema dos Inconfidentes

                        

1.Nesta 5ª. feira, 21 de abril 2016, o Brasil comemorou três datas muito importantes para sua formação histórica e política. A morte de Tiradentes, a fundação de Brasília e a morte de Tancredo Neves. Mas o feriado nacional é mesmo em homenagem ao herói da Inconfidência Mineira, que em 1792, seguindo o rastro da Revolução Francesa e os ditames da Maçonaria, liderou um movimento, iniciado nas áreas mineradoras das Minas Gerais, estendeu-se a São Paulo e tomou forma no Rio de Janeiro. Na época, o Brasil não existia como nação, posto que era uma colônia de Portugal de onde a Corte retirava ouro, prata e diamantes para sustentar a Coroa e as mordomias de reis, rainhas, príncipes, da burguesia e, claro da Santa Madre Igreja Católica. O alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, era luso-brasileiro e foi morto pelo governo português por tramar contra a elevada tributação sobre a atividade mineral. Esta cobrança do imposto aterrorizava a todos. A Coroa taxava em 20% a produção mineral. Era o “quinto”, chamado pelos revoltosos de “O Quinto dos Infernos”. E o dia da “derrama”, ou da cobrança geral, estava chegando. Seria no início de junho de 1789.

3.Tiradentes e um grupo de comerciantes do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais conspiravam para não pagar o Quinto sobre os minérios. Havia uma senha para desencadear a revolta dos Inconfidentes: “Hoje é dia de batizado”. Ao grupo liderado por Tiradentes coube a missão mais ousada – tomar o palácio do governador. Outro grupo deveria bloquear as vias de acesso ao Rio de Janeiro e impedir a chegada de reforços. O grupo estava bem armado e municiado. Pronto para o combate. Tiradentes contava com vários líderes nesta conspiração, mas confiava mais no minerador e fazendeiro Joaquim Silvério dos Reis, que estava atolado em dívidas com o fisco e havia aderido ao movimento. Mas este era o problema. Endividado até o pescoço, Joaquim Silvério dos Reis propôs colaborar como o governo em troca do perdão de sua dívida. Esta foi a primeira “delação premiada” que se tem notícia na história do Brasil. Assim, no dia 15 de março de 1789, ele abriu o jogo ao Visconde de Barbacena, encarregado de executar a “derrama”. Em depoimento por escrito, Joaquim Silvério dos Reis entregou os nomes dos principais líderes da conspiração e detalhou a função de cada um no levante. Como resultado, a “derrama” foi suspensa. Os conspiradores perceberam que alguma coisa estava errada e ficaram em alerta vermelho. Alvarenga Peixoto, poeta e intelectual do grupo, aconselhou cautela. Todos deveriam negar a conspiração, fosse como fosse.

4.Tiradentes estava no Rio de Janeiro onde deveria encontrar-se com Joaquim Silvério dos Reis. Foi seu erro. Ao tentar retornar a Minas Gerais, teve o passaporte negado pelo Visconde de Barbacena, Ele não percebeu a traição ao confabular com Joaquim Silvério dos Reis, mas buscou refúgio na casa de outro conspirador, Domingos Fernandes da Cruz. Ali cometeu outro erro ao enviar o padre Ignácio Nogueira para encontrar-se novamente com Silvério dos Reis. Denunciado, o padre foi preso e torturado até entregar o local onde o alferes estava escondido. No dia 10 de maio de 1789, Tiradentes foi preso. Dias depois, todos os líderes foram presos, a começar por Tomás Antonio Gonzaga, Claudio Antonio da Costa e o tenente-coronel Gomes Freire de Andrade, seguidos por mais 32 inconfidentes.
5.Mas um fato novo iria alterar o destino dos prisioneiros. Tiradentes assumiu toda a responsabilidade pelos atos, por isso, foi o único condenado à morte. A sentença dada a Tiradentes teve caráter pedagógico, exemplar, aterrorizador. Observe-se a determinação dos juízes que o condenaram: “Condenam o réu Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha o Tiradentes, alferes que foi da tropa paga da capitania de Minas Gerais, a que com baraço e pregão seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar da forca e nela morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Vila Rica, onde em o lugar mais público dela será pregada, em um poste alto até que o tempo a consuma; e o seu corpo será dividido em quatro quartos, e pregado em postes, pelo caminho de Minas, no Sítio da Varginha e das Cebolas, onde o réu teve as suas infames práticas, e os mais nos sítios de maiores povoações até que o tempo também os consuma; declaram o réu infame, e seus filhos e netos, tendo-os, e os seus bens aplicam para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Vila Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique, e, não sendo própria, será avaliada e paga ao seu dono pelos bens confiscados, e no mesmo chão se levantará um padrão, pelo qual se conserve a memória desse abominável réu”. Há 24 anos.

PS: Joaquim Silvério dos Reis, o da delação premiada, tem descendentes em Rondônia.. São dois irmãos comerciantes e políticos. Um vive em Machadinho do Oeste e o outro em Seringueiras.

Historiador e analista político(*)
Da Academia Rondoniense de Letras, ARL, do Instituto Histórico de Geográfico de Rondônia e da Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica.
Porto Velho, 21.04.2016
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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