Quarta-feira, 5 de agosto de 2009 - 13h59
Por Francisco Matias(*)
1. Neste dia 5 de agosto de 2009, quarta-feira, Rondônia tem uma data muito importante a comemorar. Melhor dizendo: a refletir. As datas comemorativas do nosso Estado se prestam muito mais a reflexões do que a comemorações. Hoje, para quem interessar possa, completam-se 26 anos de criação dos municípios de Rolim de Moura e Cerejeiras. Nesta data, o governador do estado, coronel Jorge Teixeira de Oliveira, expediu o Decreto-Lei nº 071, que criou os dois municípios e, paradoxalmente, selou sua sorte à frente do governo e da condução do Estado. Era um período de grande agitação política. O governador vivia em rota de colisão com a Assembleia Constituinte, presidida pelo deputado José de Abreu Bianco e secretariada pelo deputado Oswaldo Piana Filho, ambos correligionários do governador, mas já não lutavam em suas trincheiras. Por uma estranha coincidência, naquele dia, os deputados-constituintes encerravam os trabalhos da primeira constituição do estado. No dia seguinte, portanto, seria instalado o Poder Legislativo.
2. Eis a questão. Até aquela data, e desde que tomou posse em 04 de janeiro de 1982, o coronel Jorge Teixeira exercia as funções de Executivo e de Legislativo. De modo que fazia as leis, através de decretos, e governava sob estes documentos legais. Os deputados eram constituintes e não legislavam, nem fiscalizavam o Executivo. Por isso, o conflito de poder. Quem podia mais? Os constituintes, detentores de mandatos eletivos, ou o governador, um coronel nomeado por decreto presidencial? O governador, é claro. Por isso ele decidiu por criar os dois municípios naquele dia, apesar da existência de um acordo tácito, uma espécie de modus vivendi firmado com os deputados. Por este acordo, Jorge Teixeira havia se comprometido a não criar os municípios e enviar mensagem sobre o assunto na abertura dos primeiros trabalhos legislativos, no dia seguinte, para. Mas rompeu o acordo. Não quis nem saber. E despachou o decreto 071, promovendo a primeira divisão territorial no Estado, com a criação de Rolim de Moura, desmembrado do município de Cacoal, e Cerejeiras, do de Colorado do Oeste.
3. Formado por 13 municípios, o estado de Rondônia inseriu mais dois ao seu mapa político. A atitude do governador caiu como uma pedra no plenário da Assembleia Legislativa, onde contava com uma maioria de 15 deputados do PDS, cujo líder do governo era o deputado Jacob Atallah, contra nove do PMDB, liderados pelo deputado Tomás Correia. No entanto, o desagrado estava justamente no meio da maioria governista, que aos poucos foi agindo como oposição governista. “Teixeira não tem palavra”, bradavam as vozes mais fortes da situação/oposição, engordando o coro oposicionista que às vezes agia como situação. O governador foi ficando isolado no contexto político. No centro da crise, o seu indefectível boné, símbolo do seu governo de realizações, do Trator, como era conhecido por esta Rondônia-de-meu-deus. Pois é. O Trator havia atropelado a recém-instalada Assembleia Legislativa. O que ele não sabia, é que de Rolim de Moura viria o seu atropelamento político.
4. E foi assim que surgiu no cenário político de Rondônia o rolimourense Valdir Raupp, eleito em 1982 à primeira câmara de Cacoal, na condição de vereador mais votado do interior, representando o distrito de Rolim de Moura. Em 1984, ele se tornaria o primeiro prefeito eleito do município de Rolim de Moura. A partir destas eleições o PMDB assumiu a liderança política do Estado, o PDS sumiu da cena política, Jorge Teixeira foi demitido e quase expulso de Rondônia e as coisas acontecerem como aconteceram. Em Cerejeiras, o PDS sagrou-se vitorioso, com eleição de Rosalino Baldin. Mas foi em Rolim de Moura que tudo começou a mudar e o Teixeirão perdeu terra nos pés. Portanto, passados 26 anos, não faz mal nenhum recuperar uma importante parcela memória política do nosso Estado, na Era Teixeira.
PS: as eleições de Rolim de Moura e Cerejeiras ocorreram no dia 09 de dezembro de 1984, em caráter extraordinário. O vice-prefeito de Valdir Raupp foi o também vereador de Cacoal, Roque Mazuchelli, que depois seria deputado estadual, morto há duas semanas, vitima de um acidente na BR 364, nas proximidades de Jacy-Paraná, município de Porto Velho. Diz-se que na política de Rondônia quem já foi é o mesmo que nunca ter sido. Esta coluna discorda e presta uma homenagem póstuma a Roque Mazuchelli, um dos pioneiros de Rondônia: em Rolim de Moura, na década de 1970, e no distrito de União Bandeirantes, na de 1990.
(*)Historiador e Analista Político
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