Quarta-feira, 10 de agosto de 2011 - 20h46
Por Francisco Matias(*)
1. Em Rondônia as grandes lideranças políticas do momento arriscam-se a tornar-se, em pouco tempo, em figuras apagadas, ou tristemente esquecidas. A maioria dos líderes da política rondoniense cai na vala do esquecimento e parece sumir no tempo e no espaço, escondendo-se de si mesmo ou da história. Parecem carregar sobre os ombros um peso enorme do passado em que foram estrelas, mandaram e desmandaram na vida política e partidária regional. Pois bem. Daqui a cinco meses o estado de Rondônia comemora trinta anos de criação. São três décadas de intensa mobilização política, cujas pedras são movidas rapidamente como em um jogo de xadrez, com um xeque-mate aplicado em cada jogo, a cada eleição, a cada mandato que passa. E a História Política do estado parece ter medo de ser contada. Quase três décadas depois, poucas pessoas recordam-se dos políticos que conquistaram mandatos como representantes do povo e do Estado. Um desses ex-mandatários atende pelo nome de Reinaldo Galvão Modesto, é engenheiro agrônomo, tem pouco mais de 60 anos e está em Rondônia há trinta e sete anos. Foi executor do PIC Gy-Paraná e coordenador dos projetos de assentamento do INCRA. Em 1982 foi eleito senador por Rondônia. Não. Aquela não foi uma eleição qualquer, igual a tantas outras.Naquele 15 de novembro de 1982, Rondônia era um estado recém-instalado e, por este motivo, iria eleger três senadores de uma vez só, enquanto os outros 22 estados elegeriam apenas um, tendo em vista o Senado renovar-se em um terço dos seus 81 membros. Rondônia teria o privilégio de eleger três senadores para compor sua bancada de representantes na câmara alta do país.
2. Na época, o regime militar estava em fase de abertura ampla geral e irrestrita e havia liberado o pluripartidarismo. Por isto, três partidos apresentaram candidatos ao senado em Rondônia. O PT, lançou Odair Cordeiro, Airton Onofre Kojo e Josias Galvão de Lima; o PMDB lançou Jerônimo Garcia de Santana, o coronel Carlos Augusto Godoy e Djair Prieto. O PDS, partido governista, lançou Odacir Soares, Claudionor Roriz e Reynaldo Galvão Modesto. Era a vez do "um", "dois", "três", em voto de legenda. Isto quer dizer que o eleitor poderia votar nos três nomes que quisesse, preferencialmente nos de seu partido. Poderia, portanto, eleger os três candidatos de uma só legenda. Esse artifício foi para privilegiar a legenda mais forte. Enquanto nos demais estados o eleitorado só iria eleger um candidato, em Rondônia seriam três. O mais votado, conquistaria o mandato de oito anos e os dois menos votados conquistariam mandatos de quatro anos.
3. Foi aí que entrou em cena o governador Jorge Teixeira de Oliveira, comprometido até o boné com o presidente João Figueiredo para eleger os três senadores do partido situacionista, fosse como fosse. E foi assim que o PDS de Rondônia elegeu os três primeiros senadores do Estado: Odacir Soares Rodrigues, o mais votado, obteve o mandato de oito anos; Reinaldo Galvão Modesto e Claudionor do Couto Roriz, os dois menos votados da legenda, ficaram com os mandatos de quatro anos. Estava formada a primeira representatividade política do estado de Rondônia no Senado da República. Mas não se engane não. Isto só foi possível devido à influência do coronel Jorge Teixeira. Era tudo ou nada. Ou o governador elegeria os três senadores ou não teria valido a pena criar o estado de Rondônia em um difícil momento político nacional, com o regime militar em declínio e as forças civis de oposição em franca ascensão. E lá se vão vinte e nove anos e treze senadores eleitos neste entretempo. O coronel Jorge Teixeira morreu no ostracismo, Odacir Soares foi reeleito em 1986, mas saiu da cena política nacional. Claudionor Roriz foi secretário de estado da saúde, tentou se eleger a vereador em Ji-Paraná, e a deputado estadual, mas não deu certo. Por sua vez, Galvão Modesto.....
4....Galvão Modesto estava esta noite, 8 de agosto de 2011, vinte e nove anos depois de ter sido eleito senador por Rondônia, em um dos grandes supermercados de Porto Velho. Este escriba o viu e o cumprimentou. Por um instante ele pareceu surpreso ao ouvir tratá-lo como Senador. - Olá, senador, como vai o senhor? Ele me deu um abraço, relembramos alguns fatos da política da época e dissemos um até logo... Como analista político, fiquei a meditar: “é, em Rondônia, quem foi e não é mais é mesmo que nunca ter sido”. Como pesquisador da História política regional, não poderia deixar passar em branco aquele momento em que me defrontei com um importante personagem da história contemporânea de Rondônia, como foi o senador Modesto, num canto qualquer da vida, sem a menor participação, como se realmente “nunca tivesse sido”. E me lembrei que, no Colégio Eleitoral de 1985, montado para eleger indiretamente o presidente e o vice-presidente da República, o senador Galvão Modesto surpreendeu aos malufistas, - ele um malufista de carteirinha - ao votar em Tancredo Neves para presidente e em José Sarney para vice-presidente, na chapa de oposição ao regime militar. Eleito sob a batuta do coronel Jorge Teixeira, Modesto rompeu com o governador e tentou montar um grupo político de apoio, com base nos parlamentares egressos do INCRA, mas não deu certo. Na virada nacional para a democracia, ingressou no PMDB, mas desentendeu-se com o governador Angelo Angelim e deixou o partido. Em 1986, estava no PFL, concorreu à reeleição, não aceitou a dobradinha com o candidato Chiquilito Erse e ambos perderam a chance. Modesto ficou em sexto lugar. Em 1990 foi candidato a deputado federal pela legenda do PRN que não alcançou o quociente eleitoral. Desde então, abandonou a política partidária e saiu de cena.
Fonte: Francisco Matias - Historiador e analista político
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