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Francisco Matias

RONDÔNIA EM QUATRO TEMPOS - IMIGRAÇÀO E EMIGRAÇÃO


1. Ao completar 26 anos de instalação, comemorados no dia 4 de janeiro, o estado de Rondônia  vivencia a mesma saga migratória de todos os tempos. É só observar o levantamento populacional publicado pelo IBGE em abril 2007 e se verá a intensa mobilização humana, silenciosa e determinada, em busca de novos Eldorados, se é que ainda existem e podem ser encontrados. O IBGE registra 1.534,5 mil habitantes nos 52 municípios rondonienses e demonstra um aumento populacional na ordem de 10 por cento, comparando-se com o Censo IBGE 2000, quando foram encontrados 1.379,7 mil habitantes nos mesmos municípios. Em sete anos a população rondoniense aumentou em 154,8 mil pessoas, resultado de processos migratórios ou em decorrência do crescimento vegetativo. Mas aumentou. Não diminuiu como alguns críticos da migração desejam. O problema é saber como e porquê. Dividido em oito microrregiões, o  Estado passa por profundas alterações sócio-políticas e econômicas, e são essas transformações que impulsionam um tipo de migração diferente daquele que fundou o ciclo da agricultura, na década de 70 do século passado.

2. Desta vez, os rondonienses se movimentam internamente provocando o fenômeno da migração interna,  atraídos por novos fatores econômicos, como a atividade madeireira ou a ampliação das áreas propícias à pecuária de corte e de leite. Mais que isso, fundam núcleos populacionais fazendo surgir localidades que logo viram distritos, a exemplo de União Bandeirante, em Porto Velho, ou adensando o povoamento de distritos como Tarilândia, em Jaru, Rondominas, em Ouro Preto, São Domingos, em Costa Marques e, na Ponta do Abunã, em Porto Velho, cuja região congrega quatro distritos – Fortaleza do Abunã, Vista Alegre do Abunã, Nova Califórnia e Extrema ou Tancredo Neves. Nesse novo contexto, a microrregião  formada pelos municípios Porto Velho, Candeias do Jamari, Itapuã do Oeste, Cujubim, Buritis, Campo Novo e Nova Mamoré, teve aumento populacional considerável, motivado pela migração interna e pelo aporte de novos imigrantes. Para ter uma idéia, Cujubim aumentou em 52,83% sua população, no período 2000/2007. Nova Mamoré cresceu 30,17%, Candeias 21,63% e Porto Velho aumentou 9,99% seus habitantes.

3. Um verdadeiro fenômeno populacional se for comparado com o movimento oposto ocorrente na microrregião que envolve os municípios Colorado do Oeste, Cerejeiras, Cabixi, Corumbiara e Pimenteiras, todos registrando importante redução populacional, provavelmente em direção ao município de Vilhena que cresceu quase 20%, ou a Chupinguaia que aumentou seus habitantes em 25,95%, ou mesmo a Parecis, que tem hoje 20,97& de pessoas a mais do que tinha em 2000. Nesta microrregião o município de Pimenta Bueno cresceu apenas 1,06%, no período 2000/2007. No entanto, foi na microrregião Ji-Paraná, a mais rica do Estado, que ocorreram as maiores mobilizações humanas no mesmo período. Esta microrregião concentra três importantes municípios cujas cidades atuam como cidades-pólos: Ji-Paraná.,Ouro Preto e Jaru. O município de  Ji-Paraná cresceu apenas 0,77%. Por outro lado, Ouro Preto encolheu em 11,85% e Jaru em 2,10%. Presidente Médici, o quarto município mais importante da região, com uma população rural e urbana equilibrada, perdeu 15,81% de seus habitantes. Mas, como se pode ver, esse processo migracional não se abrigou nas grandes cidades da microrregião. Ao que parece, a maior parte daqueles que emigraram engordou as estatísticas populacionais de municípios como Porto Velho, Cujubim, Buriis e Nova Mamoré.

4. A microrregião Cacoal, formada por nove municípios, perdeu considerável número de habitantes. Contando com três cidades que funcionam como cidades-pólos – Cacoal, Espigão do Oeste e Rolim de Moura – esta microrregião teve em Espigão do Oeste o município que mais cresceu, com um aumento de 7,82% de sua população. Cacoal aumentou 3,40% e Rolim de Moura 3,09%. Os demais municípios perderam povoamento, notadamente Santa Luzia e Novo Horizonte, 20,16% e 21,41%, respectivamente. Por sua vez, as microrregiões Ariquemes e Guajará-Mirim atuaram como receptoras deste fenômeno migratório. Guajará-Mirim cresceu 3,56%, Costa Marques 25,29% e São Francisco 29,44%. Na microrregião Ariquemes, o município de Machadinho do Oeste foi o que mais recebeu povoadores no período, aumentando em 23,04% sua população, seguido de Alto Paraíso, com 21,34% e Ariquemes, com 9,57%..Portanto, no momento em que se discute o aporte de novos povoadores em Porto Velho e na área de influência direta das usinas do Madeira, é conveniente um estudo governamental e/ou acadêmico desse novo momento de Rondônia, quando milhares de pessoas se mobilizam internamente provocando o aumento desordenado das cidades, o surgimento de núcleos urbanos mais no interior e, sobretudo,  graves conflitos agrários e ambientais.

Francisco Matias - Historiador e analista político

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