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Francisco Matias

RONDÔNIA: O CAOS, O HORROR, O HORROR – PARTE 2


Gente de Opinião


Por Francisco Matias(*)
 

1.O Palácio Presidente Vargas, construído entre 1948 e 1954, representa o Poder Político de Rondônia desde os tempos de Território Federal. Com a elevação do Território Federal de Rondônia à categoria de Estado Federado este poder ficou ainda maior e mais complicado. Nas escadarias do palácio já subiram vários governadores, nomeados e eleitos. Todos com pompa e circunstância. Mas poucos souberam usar a arte de descê-las. A arte de sair do palácio é bem diferente da arte de entrar para a posse e governo. O primeiro governador do Estado, coronel Jorge Teixeira de Oliveira, foi praticamente expulso por militantes de esquerda, centro-esquerda e da direita rondoniense, em 1985. Seu substituto, Angelo Angelim, também nomeado, viveu um caos em seus dois anos de governo (1985-1987). Jerônimo Garcia de Santana, o primeiro governador eleito pelo povo, negou-se a despachar no gabinete do palácio. Alegava que ali havia o fantasma do coronel Jorge Teixeira, falecido no início de 1987, portanto, antes da posse de Jerônimo Santana, e criou um “gabinete de despachos” na vice-governadoria.

2.O segundo eleito foi Oswaldo Piana Filho, primeiro “filho da terra” a ser eleito governador, viveu um caos na subida e na descida das escadarias do Palácio Presidente Vargas, do qual saiu pelas portas do fundo, sem cumprir o ritual de passagem do cargo. Eleito em 1990 sob a suspeita (jamais confirmada) de ter participado da trama que matou o senador Olavo Pires, ele comeu o pão que o diabo amassou em seus quatro anos de governo. Na sequência, Valdir Raupp de Matos, o terceiro governador eleito (1994) subiu as escadarias sem a faixa que simboliza a transmissão de poder, viveu dias de horror e ao descer, vingou-se da recepção fria que teve na subida e também não passou a faixa simbólica ao seu sucessor, José de Abreu Bianco, quarto governador eleito. Este também não soube usar da arte de sair do palácio e negou-se a passar a faixa governamental. José Bianco viveu o caos e o horror ao demitir cerca de dez mil funcionários, estatutários e celetistas, sem a menor explicação. Ao descer as escadarias, sua figura política estava menor do que quando subiu, quatro anos antes.

3.O quinto governador eleito, Ivo Narciso Cassol, assumiu o cargo como um trator e implementou um caráter inusitado à figura de governo, e muito próprio à sua  personalidade. Ivo Cassol parecia aquele rei da França, Luiz XIV, que afirmava ser o próprio Estado. “O Estado sou eu”, pensava e agia como se fosse. Ao assumir, pareceu não dar importância à atitude do governador José de Abreu Bianco em não lhe passar a faixa simbólica do governo. Bianco deixou o palácio minutos antes da posse para não lhe transmitir simbolicamente o poder. Um caos. Um horror. No entanto, Ivo Cassol foi o primeiro governador a descer as escadarias do palácio com a arte que se espera de um ex-governador. Estava reeleito. No fundo, quem faz o governo é o governador. E um dos critérios para avaliar se o governo foi bom ou ruim pode ser a maneira como o governador deixa o palácio. Se valer este critério, não se pode negar que nenhum outro governador do Estado desceu as escadarias em melhor condição do que Ivo Cassol porque desceu e subiu com pompa e circunstância substituindo a si próprio, em feito inédito.

4.A primeira coisa que ele fez ao reassumir como governador reeleito foi vingar-se de Bianco na passagem da faixa. Na condição de sexto governador eleito e primeiro reeleito, Ivo Cassol mandou confeccionar uma faixa novinha em folha e pediu à sua genitora para, em um gesto não previsto em qualquer cerimonial, colocar sobre seus ombros a faixa de posse do cargo de governador do Estado de Rondônia, tão mal tratada por seus antecessores. Esta foi a mais incomum, mas talvez, a mais sincera passagem da faixa de governador da História de Rondônia. Mas, Ivo Cassol iria repetir o gesto deselegante em um futuro próximo. Ele não passou a faixa ao seu substituto, o governador Confúcio Moura, sétimo eleito no Estado. Foi um caos no cerimonial mais uma vez quebrado por questões pessoais e mesquinhas, com não deveria ser. O governador Confúcio Moura recebeu a faixa, no ato da posse. Mas quem a colocou foi um coronel PM, chefe da Casa Militar no governo Ivo Cassol. Um horror, um horror.

5.O governador Confúcio Aires Moura é o sétimo eleito para governar o Estado de Rondônia e o quarto do PMDB a exercer o cargo. O primeiro foi Angelo Angelim, nomeado pelo presidente José Sarney, o segundo, Jerônimo Santana, foi o primeiro eleito. O terceiro foi Valdir Raupp. Quando subiu as escadarias do Palácio Presidente Vargas, Confúcio Moura trazia na bagagem uma história de sucesso na vida política regional. Foi deputado federal por dois mandatos, secretário de Estado da Saúde e prefeito eleito e reeleito de Ariquemes, vencedor de um confronto paroquial difícil com o clã Amorim. Mas, nesses pouco mais de trinta meses de gestão e a menos de dezoito do final do seu mandato, ele parece confundir o real com o simbólico. É como se o governador não soubesse a diferença entre o concreto e o abstrato que o cargo de governador reserva. Todo dia tem de matar uma surucucu bico-de-jaca, paradoxalmente, colocada por ele mesmo em seu gabinete de despacho, e ao seu redor. O problema, no entanto, não é a cobra, mas o simbolismo. E o governador parece não entender isto na visão do seu futuro político.

PS – A foto que ilustra este artigo foi postada no site www.gentedeopiniao por Ivo Feitosa em 27.04.2011

Historiador e analista político (*)

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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