Quinta-feira, 18 de julho de 2013 - 17h12
Por Francisco Matias(*)
1. AFINAL, O QUE É SER GOVERNADOR? MUITAS COISAS. CONCRETAS E ABSTRATAS – Este tem sido o dilema maior dos governantes de Rondônia. Poucos conhecem a liturgia do cargo. Seus poderes e limites. Ser governador é muito e é pouco ao mesmo tempo. Ás vezes, o cargo pode dar poderes como um grande banzeiro no Madeira, em outras, pode ser tão efêmero como uma chuva em pleno sol do inverno amazônico. O governador pode ser visto como defensor do povo e protetor da moralidade pública e privada, mas pode, simultaneamente, parecer menor do que realmente é. Dos que governaram Rondônia, desde os tempos de Território Federal do Guaporé, poucos projetaram imagem positiva sobre a história de seus governos e suas próprias biografias. Talvez a História relembre o poder enorme do coronel Aluízio Pinheiro Ferreira (1944-1946), do coronel Humberto Guedes (1975-1979) ou do coronel Jorge Teixeira (1979-1985), todos nomeados como governadores militares de um Território Federal sob o comando do Exército, localizado na fronteira Brasil-Bolívia.
2. O governador deve ter em mãos todas as informações do seu governo e suficiente amparo político para tomar decisões a curto, médio e longo prazos. Deve dispor de canais suficientes para fazer valer sua vontade política, na forma da lei. O governador é responsável solidário pelas ações do seu governo. O problema é que tudo isso se transforma em um fardo muito pesado, porque o eleito pensa que pode tudo. Depois, percebe que não é bem assim. Ser governador é possuir um poder político com elevado grau de visibilidade, para o bem e para o mal. É tão exposto como cheio de sombras. Está tão próximo do paraíso como do portal do inferno. Não por acaso, este é o momento que atravessa o governador Confúcio Moura, como já atravessaram outros. Na verdade, o governador é o dono da ribalta, está sob holofotes e no noticiário geral do Estado. É o mais festejado político, mas ao mesmo tempo, está só. Vive os dois extremos. Às vezes, sente-se forte, em outras, é acometido por um intrigante sentimento de impotência, de esvaziamento do poder. Deseja estar só.
3. Uma das questões fundamentais que levou o governador Confúcio Mouraa protagonizar toda esta triste conjuntura foi a forma como quis conduzir seu governo. Trouxe uma cartilha “confunciana” pronta, mas teve de aprender a leitura de outra cartilha, a de governar um estado que é muito maior do que Ariquemes. Logo no começo perdeu o rumo da convivência com a Assembleia Legislativa com a política do nem sim nem não, antes pelo contrário. Não se pode governar um Estado como Rondônia com esse tipo de posicionamento sob sério risco de afundar nas águas profundas do Madeira. Pode até ter razão quem avalia que o governador ganhou a queda de braço com os deputados estaduais. Mas, a situação atual é duvidosa e vai depender do grau de desgaste do deputado Hermínio Coelho e da condução de será dada pelo provável futuro presidente, o deputado Maurão de Carvalho. Seja como for, o governador está nas mãos dos deputados e finge não saber. Tem poder de barganha e não quer usar. Tem a caneta na mão, mas prefere apostar no desgaste dos adversários em outras prováveis operações policiais, sem avaliar o risco que corre em ambas as situações.
4. Na Operação Termópilas, por exemplo, ele assistiu a queda do esquema montado pelo presidente Walter Araujo, mas os efeitos caíram como pedra de uma funda sobre seu governo, e os estilhaços passaram raspando as portas do seu gabinete. Na operação Apocalipse, deste mês, ele apostou pesadamente na queda do deputado Hermínio Coelho. Deu certo até agora, mas não se sabe ainda dos desdobramentos futuros haja vista o envolvimento passivo e ativo do seu governo. No momento, a credibilidade do governador está em cheque. Este será um dos dilemas que Confúcio Moura terá que sobrepor-se. Deveria olhar para seus antecessores, notadamente Ivo Cassol, para compreender o quanto vale a credibilidade política do governante para tocar com sucesso um projeto de reeleição, se houver, ou, para descer com arte as escadarias do palácio, se não houver. Os adversários têm muito o que ensinar na arte da guerra política.
5. Ao assumir em 2011, Confúcio Moura parecia entender o governo como uma empresa e procurou introduzir uma política monotemática voltada para a saúde. Parecia fácil. Não era. Até os dias atuais, a saúde tem sido o calcanhar de Aquiles do governo da cooperação. Percebeu, então, que o governo é politemático e buscou apresentar serviço na infraestrutura, na educação e no social. Um governo de tema único seria muito perigoso. Mas já estava até o pescoço no tema saúde e dele não conseguiu sair. Aos olhos do eleitorado, o governo Confúcio é monotemático. Se o governo é uma empresa, o problema do governador está no seu escritório, de onde tem que decidir se chefia o governo ou o escritório. Nesse caso, para o bom andamento de sua gestão, Confúcio Moura deve ser o menos chefe de escritório possível, e o máximo do seu governo, sob pena de ficar muito exposto na ribalta, mas do lado mais ofuscante da luz.
6. O governador deve saber que é o representante máximo do Estado. É também um símbolo. Toca-se o hino de Rondônia onde quer que esteja e hasteia-se a bandeira do Estado por sua presença. Cada ação sua é relatada pela imprensa, comentada e julgada todos os dias em todos os rincões de Rondônia. Sua vida e a de sua família estão expostas a um permanente escrutínio. Deve saber que a medida do sucesso do seu governo está baseada na credibilidade, na confiança dos cidadãos e na autoestima de cada um. Por isso, ainda com um ano e meio de mandato, deve fazer tudo para recuperar a credibilidade e as rédeas do governo e fazer de sua gestão aquilo que sempre sonhou: um governo histórico, com resultados positivos maiores que os negativos para que vozes criminosas não ecoem sobre si em momento algum e os nomes Beto Baba e Fernando da Gata não entrem definitivamente em sua biografia. Senão, será muito difícil recuperar o que foi deixado para trás. Pior ainda: não poderá descer as escadarias do palácio com arte.
Historiador e analista político (*)
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