Quinta-feira, 10 de maio de 2012 - 11h22
Por Francisco Matias(*)
1.O estado de Rondônia tem seu processo de formação sociopolítica, socioeconômica e cultural ligado aos fenômenos migratórios. Não há exceção. No entanto, a maioria dos estudiosos sobre os processos migratórios direcionados às terras rondonienses muito raramente trata a questão negra como um tema de relevância histórica. Pois bem. Em toda a formação de Rondônia, o elemento negro e os grupos negros tiveram participação importante. No começo, surgiram os negros quilombolas e não quilombolas, localizados no Vale do Guaporé, egressos do escravismo da Capitania de Cuiabá e Mato Grosso. São os chamados negros guaporeanos, ou mato-grossenses, que operavam a economia do Ciclo da Mineração e, posteriormente, a economia gomífera. No início do século XX as obras da ferrovia Madeira-Mamoré, em razão da mortalidade ocorrente sobre o operariado branco, exigiram o alistamento de negros antilhanos, mais resistentes aos malefícios das endemias reinantes. E foi assim, e por esse motivo, que o cenário humano da Madeira-Mamoré foi engrossado com as figuras dos negros súditos do rei, procedentes de Barbados, Trinidad-Tobago, Jamaica, Martinica, Granada, Cuba e Panamá. A chegada desses contingentes migratórios alterou o cenário humano dos empregados da ferrovia Madeira-Mamoré, e o sistema de emprego que era praticado na região.
2.O problema estava na questão racial. Ao chegarem a Belém, os negros eram vigiados de perto pela polícia. Os que não embarcassem com destino ao rio Madeira, eram presos. Afinal, eram negros no Brasil recém-saído do escravismo, perambulando em uma cidade que pretendia ser europeia. Mais ainda: ao chegarem na povoação de Porto Velho esses grupos eram localizados no Sítio do Espanhol, nos arredores da ferrovia, hoje bairro do Triângulo, que funcionava como um gueto para negros. A mesma coisa acontecia quando esses negros eram espalhados ao longo da região até a estação Mamoré, em Guajará-Mirim. Na segunda metade do século XX, durante a imigração dirigida à produção rural, dois grupos negros foram inseridos no cenário humano de Rondônia. De um lado, o Negro da Pecuária, cuja base de origem é o estado de Minas Gerais. Este grupo negro foi localizado na área do PIC Ouro Preto e, hoje em dia, povoam os municípios de Jaru e Ouro Preto do Oeste, principalmente. No entanto, quase nenhum estudo é publicado sobre os negros burareiros, trazidos das buraras da Bahia para o trabalho análogo ao escravismo na lavoura cacaueira do Projeto Burareiro, na área do atual município de Ariquemes e região.
3.No início de 2011 a cidade de Porto Velho foi impactada por um evento, de certa forma exótico: a chegada de um grupo de negros, procedentes do Haiti. Eram mais ou menos 300 pessoas e hoje são quase duas mil. Os haitianos estão aqui. É comum olhar e ver no cenário porto-velhense esse tipo de negro esguio, estatura mediana, homens e mulheres que se deslocam pelas ruas da cidade como se fossem pessoas à margem da estrutura política e social de Rondônia. Mas, por que os haitianos estão em Porto Velho? A questão nos remete ao Itamaraty e ao projeto geoestratégico do governo brasileiro que pretende colocar o Brasil no Conselho Efetivo de Segurança da ONU. Com esse objetivo, o Brasil realizou a reforma ortográfica, voltou sua diplomacia para a África e Oriente Médio, deixou Israel de lado, apoiou o programa nuclear do Irã, e, sobretudo, foi ao Haiti, como parte integrante da Missão da ONU naquele país, cuja sigla é MINUSTAH. Nesse sentido, forças militares brasileiras, incluindo elementos do estado de Rondônia, aportaram no Haiti para cumprir as normas da ONU de ajuda àquele país. O Brasil comandou a MINUSTAH até o momento em que um terremoto devastou a cidade de Porto Príncipe, capital do país, em 2010. Foi o bastante para os EUA destronarem o Brasil e assumirem o comando das forças da ONU. O Brasil é o segundo em comando. Essa luta do governo brasileiro em fazer parte do Conselho Efetivo de segurança da ONU esbarra exatamente no governo norte-americano que vetou a pretensão e exigiu a demissão do diplomata brasileiro Maurício Bustanis Junior, um rondoniense de Porto Velho, que na condição de embaixador do Brasil na ONU, deu os primeiros passos nesta caminhada e provocou a ira dos EUA.
4.Pois bem. Desde 2011 os haitianos estão no Brasil (Rio Branco, Manaus, Porto Velho e São Paulo), são os principais pontos de atração desta imigração negra do século XXI. A maioria deles procede da cidade de Gonaives, distante cinco horas de carro de Porto Príncipe. De lá até Porto Velho é uma longa caminhada que passa pela República Dominicana, cruza Panamá e o Peru e estanca na fronteira com o Brasil, na porta de entrada para o Acre, de onde entram no território brasileiro. Em Rio Branco recebem assistência social, documentos brasileiros e tornam-se imigrantes convidados, com direito a emprego, estadia, orientação educacional e assistência social. Então eles são enviados a Rondônia. Pois é. Estas figuras negras, esguias, arredias, simpáticas e reconhecidamente afeitas ao trabalho, apesar de ingressarem no país na clandestinidade, fazem parte do projeto brasileiro de integrar o Conselho Efetivo de Segurança da ONU. São alguns dos excedentes populacionais da MINUSTAH, a missão da ONU no Haiti.
Historiador e analista político(*)
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