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Francisco Matias

RONDÔNIA, OS PROBLEMAS DAS DATAS HISTÓRICAS


Por Francisco Matias(*)


1.O estado de Rondônia forma uma das sete megarregiões da Amazônia brasileira e, como não poderia deixar de ser, é uma área intensamente povoada através de vários processos migratórios, desde os tempos das penetrações e conquistas portuguesas, passando pela expansão dos ciclos da borracha, da regionalização da Madeira-Mamoré, das Linhas Telegráficas, dos minérios e do Projeto Amazônia, implantado pelo regime militar a partir de 1966, que culminou com o Ciclo da Agricultura (1970-2000). Recentemente, a construção das usinas do Madeira, ativaram os ciclos de migração para Porto Velho e, mais uma vez, Rondônia recebe milhares de migrantes que, certamente, uma boa parte se fixará na região e passará a compor a pirâmide social que constrói no Estado.

2.Esta condição de povoamento e de formação sociopolítica, de certo modo, interferem na formação de uma sociedade tipicamente rondoniense, ou rondoniana, tendo em vista as constantes alterações no tecido social desta região, provocadas pelo aporte constante de novos povoadores. Talvez por isso mesmo, as autoridades e as academias deveriam ter um pouco mais de cuidado com as datas históricas destas plagas do poente. O que se tem visto e ouvido com respeito à História, muitas vezes, desvirtua a própria existência de Rondônia, e a luta dos que nos antecederam e deixaram um importante legado para os jovens do presente e para os que virão no futuro. É o caso das comemorações de instalação de municípios, notadamente os primeiros criados em Rondônia (Ariquemes, Ji-Paraná, Cacoal, Pimenta Bueno e Vilhena), que estão completamente erradas e ao arrepio da lei complementar nº 6.448/1977, que os criou. Dificilmente isto será corrigido.

3. Mas, o maior problema está nas datas que comemoram a criação e a instalação do estado de Rondônia, como se pode observar no final de 2011 e começo de 2012. Criado no dia 22 de dezembro de 1981, por força da Lei Complementar nº 41, Rondônia completou ano passado, trinta anos de criação, por elevação do Território Federal à categoria de Unidade Federada brasileira. A 23ª. UF do país. Trinta anos. E daí. Não se ouviu um pio por parte das autoridades, principalmente do governo do Estado, nem das academias em cuja grade constam cursos de História e Geografia e formam jovens para, em muitos casos, difundirem a história nas escolas e nas próprias faculdades de onde saíram com seus diplomas. Do governo de Rondônia, na gestão Confúcio Moura, o que se ouviu foi um solene e retumbante silêncio. Pior ainda foi o que ocorreu com o 4 de janeiro de 2012, data em que o Estado completou trinta anos de instalação, simbolizados pela posse do primeiro governador, o coronel Jorge Teixeira de Oliveira.

4.No governo Ivo Cassol foi um desastre. O então governador resolveu baixar um decreto estabelecendo que a data comemorativa do Estado fosse o 22 de dezembro, com feriado e tudo, e não o 4 de janeiro, sem o feriado. Felizmente esta situação durou pouco e, com a saída do governador Ivo Cassol, a Assembleia Legislativa, através de proposição do deputado Jesualdo Pires, deliberou pelo retorno do 4 de janeiro como a data comemorativa para Rondônia, e ainda elevou este dia como a Data Magna de Rondônia. Menos mal. Esperava-se, pois, que ao completar trinta anos de instalação, em 2012, houvesse um grande ato cívico no dia 4 de janeiro. Lego engano. O governador Confúcio Moura, não se sabe por que cargas d’agua, resolveu antecipar as comemorações para o dia 3 de janeiro. Nada a ver. O dia 3 de janeiro não é o dia 4 de janeiro nem que o governador queira. E foi um fiasco total, apesar do saboroso bolo de aniversário. Ao esvaziar o 4 de janeiro, o governador fez uma solenidade vazia e sem cor, sem autoridades, sem alunos, sem povo, sem brilho, sem cerimônia. Parecia mais um ato marcial e não cívico. Não há nada que possa justificar este ato falho. A data do 4 de janeiro deve ser respeitada, principalmente, pelos governantes, e deve ter a participação popular e política. O que não houve. Dos representantes do povo (vereadores, deputados estaduais, federais e senadores) estavam apenas o deputado estadual Edson Martins, PMDB-Urupá, líder do governo, e o deputado federal Moreira Mendes. Ninguém mais. Se o governador pretendia fazer algo novo nos trinta anos de instalação do Estado de Rondônia, cometeu um ato falho. Ao antecipar as comemorações do dia 4 para o dia 3 de janeiro, ele, simplesmente, esvaziou a data. E não é isso o que se espera de um governante que tem como meta, recuperar os fundamentos históricos de Rondônia.

Historiador e analista político(*)

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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