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Francisco Matias

Rondônia, virada de década - Parte 1


              

Por Francisco Matias(*)
 

 1. Ao completar 29 anos de  existência, o estado de Rondônia vira a primeira década do século XXI completamente modificado, comparando-se a virada do século XX, ou seja, o ano 2001. Nesses dez anos ocorreu a era Cassol, governador eleito e reeleito, que implementou um estilo de ser e governar até então desconhecido. “Ninguém é bom sozinho”, costuma dizer o agora senador diplomado Ivo Narciso Cassol. Mas, até aonde a vista alcança, Cassol sempre foi Cassol e seu estilo será único, goste-se ou não. Ivo Cassol gerou uma Era, até porque foi o primeiro a exercer dois mandatos seguidos de governador do Estado. Na Era Cassol o lema “bateu, levou” era o mais utilizado, se havia outros, não se sabe. Observe-se a posse de Ivo Cassol em 2003, para o seu primeiro mandato. O governador que saía, José de Abreu Bianco, decidiu em cima da hora não passar a faixa ao novo governador. A faixa é o símbolo da transmissão do cargo. Ficou esse vazio. Cassol tornou-se um governador sem-faixa. Sem o emblema. Veio a reeleição em 2006, e o troco. Cassol recebeu a faixa de si mesmo, ora essa. Melhor dizendo, de sua genitora, ali como se fora o governo que passou, a transmissão do cargo de Cassol para Cassol. Não tem jeito. Cassol é só. E parece que isso sempre lhe bastou.

2. Pois bem. Daqui a cinco dias estará tomando posse o sétimo governador eleito de Rondônia, Confúcio Ayres de Moura. Político de partido, “confucionamente” atuante. Estilo diferente. Blogueiro, até. Será ele sua própria secretaria de comunicação, pelo menos pela via informal é o que se supõe. O médico Confúcio, o primeiro governador de Rondônia nesta segunda década do século XXI, traz a experiência de ter sido oposição e situação. Sabe conviver dos dois lados do balcão. Foi deputado federal por dois mandatos, presidiu o PMDB regional e governou Ariquemes por duas vezes, eleito e reeleito. Quebrou o clã Amorim em sua própria paróquia. Portanto, o novo governador pode estar inaugurando uma nova matriz política neste rincão. Uma nova Rondônia, como dizia o slogan de sua campanha. Pode e deve. Ele sabe que terá pela frente o passado do seu antecessor, o estilo de certa forma agressivo de governar e de se relacionar. Sabe que será o contraponto de tudo isto, e terá que implementar seu estilo de ser e governar. Deve saber que Ariquemes é Rondônia, mas, Rondônia não é Ariquemes. É bem maior. Ele próprio ficou bem maior, deve ter o tamanho de uma Rondônia que cresce a olhos vistos, mas que tem contenções a respeitar.

3. Logo, ao executar políticas públicas, o governador Confúcio deve ter em mãos dois tipos de planejamento. O político e o geoestratégico. Um, exige ações imediatas, pois deverá atender a demandas reprimidas nos setores de saúde, educação, infraestrutura urbana e rural. O segundo deverá seguir os desdobramentos geopolíticos do complexo Madeira e de suas quatro usinas hidráulicas. No mesmo sentido, deverá observar atentamente a importância de Rondônia para o MERCOSUL, notadamente com a rodovia interoceânica BR 364, e a ligação do Estado com os países andinos Bolívia e Peru, abrindo novos mercados pelo oeste da Amazônia. Outro ponto a ser observado muito atentamente é a interrelação com a Zona Franca de Manaus através da hidrovia do Madeira e, sobretudo, da BR 319, a estrada parque, cujo projeto de restauração parece não querer sair do lugar. Há conflitos de interesses que acirram a questão socioambiental ao longo da rodovia, que não estão na área de atuação do governo de Rondônia.

4. O governador Confúcio será empossado pelo presidente da Assembleia Legislativa, deputado reeleito Neodi Carlos Oliveira, e pelos deputados da 7ª. legislatura. Mas irá governar com os deputados da 8ª. Legislatura, muitos deles egressos desta que se encerra. Deve saber que não pode ficar alheio ao processo de eleição da Mesa Diretora. Tem maioria, mas não pode se descuidar disso. Maioria e minoria é uma questão de saber usar o Poder. Não usar o poder sem Saber. Destarte,  a eleição da Mesa Diretora da ALE não pode ocorrer longe de seu controle, apesar de, tecnicamente, o governador, chefe do Poder Executivo, não interferir em outro Poder. Mas, qual governador não interfere? Se o governador Confúcio pudesse falar com o filósofo chinês do qual herdou o nome, este lhe diria: “aja com sabedoria, pois não deixe seus adversários iniciarem os mandatos corroendo-lhe o seu”. Se não o dissesse, fica dito.

Historiador e analista político* 
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