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Francisco Matias

Usinas do Madeira, o pomo da discórdia


1A construção das Usinas Hidrelétricas de Santo Antonio e Girau, no rio Madeira, área do município de Porto Velho, estado de Rondônia, Brasil, navega em águas turbulentas, como são turbulentas as águas do próprio rio onde o governo brasileiro pretende edificar as duas barragens. O rio Madeira, ou Caiary, é assim mesmo. Um rio de águas turbulentas, um dos maiores e mais importantes afluentes do rio Amazonas, que tem em seu curso 15 acidentes hidrográficos, dentre os quais a cachoeira Santo Antonio e o salto do Girau, constituindo-se em um dos dez maiores rios do mundo, em volume de água e extensão. Esta grande dimensão pode ser sintetizada nas expectativas geradas em torno da construção das usinas, tendo em vista a grande possibilidade de mudar os destinos socioeconômicos de milhares de rondonienses, principalmente os residentes em Porto Velho, a partir da geração de empregos diretos e indiretos. Nesse sentido, a prefeitura, o governo do Estado, o SENAI e o SENAC estão treinando uma parcela da população para os empregos que surgirão durante a construção das usinas, e após sua conclusão e funcionamento. Mas ...

2. 0 presidente Lula deu declarações sobre o interesse estratégico do governo nessas usinas, que, ao que se sabe, darão o suporte de energia elétrica necessário ao sul e sudeste do país onde estão os principais parques industriais e onde ocorreram "apagões" que não apenas provocaram enormes prejuízos financeiros à produção industrial como prejudicaram politicamente ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Nessa seara, o presidente Lula não deseja transitar, por isso as hidrelétricas do Madeira fazem parte de um planejamento estratégico do governo e foram incluídas no mais ambicioso projeto governamental, o Plano de Aceleração do Crescimento, PAC. Ora, se o presidente da  República,  uma parte do seu governo e o PT governista  querem as usinas construídas e funcionando em curto prazo, por que o projeto não sai do papel? Voltemos um pouco no tempo e olhemos para o projeto do gasoduto Urucu/Porto Velho, alguém ainda lembra? É um projeto com a mesma dimensão estratégica do das usinas do Madeira e foi bombardeado por uma gama de entraves jurídicos relacionados ao meio ambiente. Quando tudo estava encaminhado, surgiu o IBAMA com um índio supostamente morador da área do Juma. Pára tudo. Pára. Tem um índio. Mas ....

3. 0 índio, como ficou demonstrado, não morava ali. Pegaram o índio pra dizer que era do Juma e, desse modo, impedir o licenciamento ambiental. Afinal, índio é índio. Pode tudo. Mas, não. O índio não era da região e terminou sendo transferido para sua reserva longe da área por onde deve passar o gasoduto. Apesar dessa "mancada" ambiental, o projeto arrasta-se a passo de tartaruga e, aos poucos, está sendo colocado em um plano tão secundário que poderá ser engavetado. Vivas ao IBAMA! Voltemos, pois, ao caso das hidrelétricas do Madeira. Voltemos ao presidente Lula e sua disposição para evitar outros apagões na grande indústria nacional e em sua biografia política. O presidente veio a público e disse: ou resolve o problema com a construção das hidrelétricas  ou com uma usina nuclear. Usina Nuclear!?! Deus nos acuda, se Ele ainda tiver tempo pra isso. Usina nuclear é tudo o que os poderosos ambientalistas internacionais e seus seguidores nacionais tanto combateram. Mas, surgiu a possibilidade e não se ouviu nenhum posicionamento por parte do IBAMA ou da poderosa ministra do Meio Ambiente, a senadora acreana Marina Silva, peremptoriamente contrária às usinas. Mas, como se viu, até agora silente quanto a uma usina nuclear. Mas ...

4. Eis que surgem, afinal, várias manifestações favoráveis às usinas do Madeira no bojo de instituições e entidades rondonienses que, até então, assumiam a posição do avestruz, mas agora resolveram erguer a cabeça e correr atrás dos prejuízos. Até o presidente Lula resolveu desmembrar o IBAMA em dois órgãos distintos, visando agilizar a liberação do ElA/RIMA das Usinas. Agora o projeto sai da gaveta. A não ser que apareça pelo beiradão do Madeira aIgum povo exótico, como "as anãs  louras e banguelas do Arypoara" ou um peixinho mais exótico com a barriguinha amarela e a cabecinha preta, ou, quem sabe, ocorra o reaparecimento daquele índio do Juma, agora travestido de remanescente do Munduruku ou Torá. Nada disso é improvável,  mesmo porque o IBAMA já deu demonstrações mais do que concretas que segue o pensamento retrógrado da ministra Marina Silva, contrário às usinas.  As hidrelétricas Madeira interessam ao Brasil e ao governo Lula, mas ferem frontalmente o planejamento estratégico das potências  Mundiais que insistem em apoderar-se da Amazônia e, para tanto, dinheiro em moeda forte para as  ONGS é o que não falta. Nem faltam prêmios em dólares para formadores de  opinião que lhes dêem apoio em nome da "defesa ambiental da Amazônia e de seus povos tradicionais".

Fonte: Francisco Matias
Historiador e Analista

 

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