Segunda-feira, 17 de agosto de 2015 - 22h02
Hiram Reis e Silva (*), Porto Alegre, RS, 17 de agosto de 2015
A cartografia é o conjunto de estudos e operações lógico-matemáticas, técnicas e artísticas que, a partir de observações diretas e dainvestigação de documentos e dados, intervém na construção de mapas, cartas, plantas e outras formas de representação, bem como no seu emprego pelo homem. Assim a cartografia é uma ciência, uma arte e uma técnica. (Antonio Carlos Castrogiovanni)
Nas minhas intermináveis descidas pelos imensos caudais amazônicos tenho a oportunidade de confrontar cartas, mapas institucionais ou não com o terreno, e tenho verificado uma enorme discrepância entre aquilo que é observado no terreno e o que é retratado em documentos “oficiais”. São inúmeros erros em relação à nomenclatura de acidentes naturais ou de comunidades ribeirinhas ou ainda de sua localização real.
Figura 1 – Foz do Galvez
Vou tratar hoje especificamente à denominação do Rio Javari e seu formador o Jaquirana que durante tanto tempo foi objeto de estudo e discussão pelas Comissões de Limites, desde o século XVIII, e que os Mapas do IBGE, mostrando uma flagrante alienação histórica, trocam nos seus mapas do Estado do Amazonas e da Amazônia Legal o nome de parte do Rio Jaquirana a montante da foz do dito Galvez por Rio Javari. Os Mapas Multimodais do DNIT, por sua vez, simplesmente omitem o nome do Rio Javari, talvez para não incorrer no mesmo erro, mas trocam o nome do Rio Batã (ou Bathan), afluente da margem direita do Jaquirana, para Basã.
Figura 2 – Rio Basã
Façamos uma pequena digressão histórica para entendermos esta questão que se origina na Foz do Galvez, coordenadas – 5°10’34,37”S/ 72°53’1,74”O, uma pequena diferença do levantamento realizado por Cunha Gomes que considerou a confluência do Galvez com o Javari:
— Latitude: 5°10’17,5” Sul.
— Longitude: 72°52’29” Oeste Gw.
— Altitude: 101,6 metros.
Comissão Mista Luso-espanhola de 1781
Já em 1781 e 1782 a Comissão Luso-espanhola demarcadora de limites, em virtude do Tratado Preliminar de 1777, tinha dúvidas, e não pode resolver qual dos dois braços era o tronco principal do Javari.
Comissão Mista Brasileiro-Peruana de 1866
O Comissário brasileiro Capitão-Tenente José da Costa Azevedo e o Comissário peruano Capitão-de-Mar-e-Guerra Dom Francisco Carrasco subiram o Javari e chegaram em 8 de setembro de 1866 a mais uma confluência, optando, novamente, pela da direita, mais volumosa. A menor foi denominada pelo Comissário peruano de Rio Galvez.
Comissão Mista Brasileiro-Peruana de 1874
Deprimido, em estado de estafa, seriamente doente, Tefé caiu de cama. Assim desceu o Rio Galvez até Tabatinga, no Rio Solimões. (TEFFÉ)
A Comissão chefiada pelo Barão de Tefé e Guillermo Blake entrou na Foz do Javari, no dia 17 de janeiro de 1874, com um efetivo de 82 membros, atingindo as proximidades das nascentes do Javari, no Jaquirana, no dia 14 de março de 1874. A Expedição retornou ao Solimões com 55 sobreviventes, 27 haviam sucumbido à febre, à fome, ou às flechas dos Mayorunas.
Comissão de 1898
A 377 milhas da Foz do Javari finda a navegação a vapor e entra-se na zona de difícil trânsito. É na confluência do Rio Galvez com o Javari. Este segue então com o nome de Jaquirana atéas suas nascentes. (GOMES)
O Ministro das Relações Exteriores, General Dyonizio Evangelista de Castro Cerqueira nomeia o Capitão-Tenente Augusto da Cunha Gomes Chefe da Comissão de Limites determinando-lhe que determine a nascente do Rio Javari. Cunha Gomes afirma ter corrigido as coordenadas do Barão de Tefé verificando uma diferença de quase quatro segundos. Determinou que o Rio Javari era um prolongamento do Jaquirana e não do Galvez, como suspeitava Thaumaturgo.
Fontes:
CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos.Ensino de geografia: Práticas e Textualizações no Cotidiano – Brasil – Porto Alegre, RS – Mediação, 2000.
GOMES, Augusto da Cunha.Comissão de Limites Entre o Brasil e a Bolívia – Re-Exploração do Rio Javari– Brasil – Rio de Janeiro – Typographia Leuzinger, 1899.
TEFFÉ, Tetrá de.Barão de Tefé, Militar e Cientista, Biografia do Almirante Antônio Luís von Hoonholtz – Brasil – Rio de Janeiro – Centro de Documentação da Marinha, 1977.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Assessor do Comando Militar do Sul (CMS);
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM - RS);
Sócio Correspondente da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER)
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com;
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