Terça-feira, 16 de março de 2021 - 06h00
Bagé, 16.03.2021
Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte XLIX
Itamarati, AM ‒ Carauari, AM ‒ Juruá, AM II
Chegamos
à Comunidade Juanico ([1])
depois de remar exatas 9 horas em um percurso de 120 km, uma média horária de
13,3 km/hora incluindo as 4 paradas para hidratação e descanso no talvegue do
Rio Juruá. As “paradas dinâmicas” a
bordo têm duas vantagens em relação às “paradas
estáticas” nas margens: a primeira e mais importante é que não ficamos sob
o ataque dos inclementes piuns e a segunda é que a correnteza nos arrasta
permitindo que neste “repouso ativo”
se avance algumas centenas de metros a cada uma, chegando a somar mais de um
quilômetro no final do dia.
A
Comunidade está corretamente localizada no Mapa do DNIT, mas chama-se Juanico e
não “Juanito” como consta do Mapa
Multimodal. Quando chegamos à Comunidade, o Mário já tinha montado acampamento
no flutuante do Sr. Manoel Pereira de Moura, e sua esposa Sr.a Maria
Antônia Albuquerque de Moura já estava preparando nosso almoço que foi
incrementado com alguns peixes que o Mário tinha pescado e miúdos de pirarucu. Fomos,
mais tarde, convidados para jantar e a refeição constava de carne de Paca,
Matrinxã e de sobremesa suco de açaí. Depois do jantar, estávamos conversando
do lado de fora da casa flutuante quando pousou a arara de estimação da
família.
O
belo animal foi resgatado de um Lago quando pequeno e sobreviveu graças aos
cuidados dispensados. A ave passa o dia perambulando pela mata e retorna ao
flutuante apenas de tardezinha para comer e dormir. O Sr. Manoel nos deu
informações valiosas para o dia seguinte e decidimos pernoitar na Comunidade
Forte das Graças.
Baixo Juruá
O
Baixo Juruá, que vai desde sua Foz no Solimões até a Boca do Rio Tarauacá,
próximo a Eirunepé, apresenta características que em muito diferem do Médio
Juruá que vai do Tarauacá até a Foz do Breu. O curso do Juruá apresenta, neste
trecho, curvas mais amplas com raios que, por vezes, ultrapassam a um
quilômetro e alongados estirões. À medida que nos afastamos da fronteira com o
Peru, os declives se tornaram cada vez mais insignificantes, tem-se a impressão
de navegar em um terreno plano embora, vez por outra, se possa sentir a
torrente fluir com mais impetuosidade. As margens no Baixo Juruá são na sua
maior parte planas e baixas ainda que, às vezes, avistemos terras firmes com
barrancos de 12 a 50 metros de altura.
11.02.2013 – Com. Juanico – Forte das Graças
Como
de costume, partimos ao alvorecer com destino à Comunidade Forte das Graças ([2]).
Despedimo-nos dos novos amigos e seguimos céleres, dispostos a enfrentar os 103
km que nos separavam de nosso destino. Meu parceiro Marçal recuperara sua
energia graças a um chá preparado pela sogra do Sr. Manoel em Juanico.
Tínhamos
a pretensão de alcançar nosso objetivo por volta das 15h00, mas a canícula,
ventos de até 50 km/h, banzeiros fortes e chuva torrencial retardaram,
consideravelmente, nossa progressão, e só conseguimos atingir nosso destino por
volta das 16h00. A bela Comunidade, firmemente assentada em terra firme, é
banhada por um Lago de águas negras chamado Andirá cujas águas penetram no
Juruá algumas centenas de metros sem se misturar. Ao desembarcar, no “Bocão”, preparamo-nos para o ataque sem
dó nem piedade dos piuns e nada aconteceu, certamente graças às águas ácidas do
Lago, o fato é que foi a Comunidade mais salubre que tivemos a oportunidade de
conhecer em toda a Bacia do Juruá. Os líderes da Comunidade já tinham
franqueado ao Mário, que nos precedera, a Casa dos Professores que, além de
vários quartos, possuía um banheiro e cozinha, coisa rara nestas paragens.
À
noite, durante o jantar, recebemos a visita dos líderes que relataram ser a
primeira vez que canoístas visitavam aquelas paragens. Depois da visita,
continuei lançando os dados colhidos e o Mário e o Marçal foram fazer uma
incursão pela Comunidade. Como não poderia deixar de ser, tiveram de enfrentar
as costumeiras provocações a respeito dos paraenses. É estranho que os amazonenses
que se referem aos paraenses, em geral como bandoleiros, piratas e outros
qualificativos nada lisonjeiros, tenham, recentemente, escolhido, pelo sufrágio
universal, um controvertido político nascido naquele Estado para governá-los.
Na oportunidade, o Sr. João Batista Ramos de Carvalho, que estava com viagem
marcada para Juruá na manhã seguinte, se prontificou a nos acompanhar mostrando
os diversos furos que abreviariam em muito nossa jornada.
12.02.2013 – Com. Forte das Graças – Juruá
Acordamos
mais tarde 06h30, os 56 km que nos separavam de Juruá poderiam ser vencidos na
parte da manhã sem maiores dificuldades, além do que podíamos contar com a
possibilidade de abreviar a distância ao penetrar nos Furos do Antônio, Arati e
Taboca. Pedi ao Mário para fazer uma filmagem da Comunidade vista do Rio e
parti com o Marçal para nossa derradeira jornada até a Cidade de Juruá.
Identificamos
o Furo do Antônio e penetramos nele enquanto o Mário fazia a volta procurando
marcar no GPS a localização de alguma Comunidade que por ali existisse. Logo
que saímos do Furo, encontramos o João Batista Ramos de Carvalho que se
desencontrara do Mário quando este concluiu a filmagem e aproamos juntos para a
Cidade de Juruá. O João nos guiou, pacientemente, até a Cidade de Juruá e
tivemos, mais uma vez, a oportunidade de admirar, de perto, a beleza dos Igapós
e Lagos ao navegar por estes belíssimos labirintos naturais.
Nas
cercanias de Juruá, despedimo-nos do João e apontamos nossas proas para o Porto
de Juruá. Despachei o Mário à frente com o intuito de que este fizesse contato
imediato com a PM e qual não foi minha surpresa ao verificar que uma viatura da
PM já nos aguardava postada na parte mais alta do formidável barranco que dá
acesso ao Porto.
Os
informantes já tinham alertado os Policiais Militares da nossa chegada
julgando, mais uma vez, se tratar de traficantes ou fugitivos.
Apesar
do alerta vermelho dos ribeirinhos, Fomos muito bem recebidos pelos PMs que nos
encaminharam imediatamente ao Vice-Prefeito José Leland Herculano Saraiva que
autorizou que ficássemos alojados no Hotel Amazonas com as despesas pagas pela
Prefeitura do Juruá.
13 a 15.02.2013 – Juruá
No
Hotel conhecemos dois personagens muito interessantes, o Engenheiro Roberto
Carlos Coelho Dibo, Conselheiro de Direitos Humanos do Parlamento Mundial de
Segurança e Paz da ONU, e o senhor Reis, um típico vendedor nordestino. No dia
14, assistimos à palestra “Profissional
com Alto Desempenho” promovida pelo Roberto na sede da Prefeitura de Juruá
e, à tarde, depois de conceder uma entrevista à Rádio Juruá FM 104,9 MHz, ao
repórter e Secretário Extraordinário da Prefeitura Sr. José de Arribamar Mendes
de Souza, realizamos uma entrevista com o Vice-Prefeito José Leland que
discorreu com desenvoltura sobre assuntos atinentes ao seu Município, projetos
em curso e futuros. Depois da entrevista, conseguimos, graças à Secretária Sr.ª
Marly da S. Mota, um computador para fazer o “upload” das fotos do trecho Carauari-Juruá.
²Total Parcial: Caruari ‒ Juruá = 430,0 km
²Total Geral: Foz do Breu ‒ Juruá = 2.738,5 km
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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