Domingo, 3 de novembro de 2013 - 09h48
Hiram Reis e Silva, Aveiros, Pará
Tarde Santarena
(Juliane Oliveira)
São inúmeras as músicas que embalam o amor dos santarenos pela Pérola do Tapajós. Algumas delas falam das praias, do encontro das águas, dos pescadores, dos casais de namorados e por aí vai. Outras falam da sua fauna e flora. Não precisa ser muito sensível ou mesmo inspirado pra fazer poesia para a terra que é banhada pelo verde-esmeralda do Tapajós e cobiçada pelo barrento Rio Amazonas.
– 21.10.2013 – Itaituba/Tabuleiro Monte Cristo
A fidalga e pronta recepção por parte do 53º Batalhão de Infantaria de Selva (53º BIS), capitaneado interinamente pelo Major Paulo Correia Lima Neto foi providencial. O pernoite, nas impecáveis instalações da Área de Lazer dos Oficiais, de quinta a domingo permitiu-nos recompor as energias e recuperar a musculatura. O recompletamento do combustível da lancha de apoio, por sua vez, garantiu-nos a possibilidade de dar continuidade à nossa jornada. Infelizmente, apesar de procurar o Major Correia Lima na sua residência em duas oportunidades, não consegui encontrá-lo para agradecer em meu nome, de minha equipe e do DCEx.
Alvorada às 05h00 e partida às 05h40. O deslocamento que fizéramos anteriormente do Tabuleiro Monte Cristo até Itaituba fora extremamente cansativo, por isso, resolvemos partir cedo. Quando o sol surgiu preguiçosamente na margem Oriental já tínhamos remado uma hora. Um dia ameno, uma suave brisa refrescava nossos corpos extenuados e vez por outra uma nuvem providencial atenuava os causticantes raios solares. Chegamos ao Tabuleiro pouco depois do meio-dia, três horas menos do que levamos, no dia 17, para percorrer a mesma distância no sentido inverso. Embora navegar contra a corrente pudesse justificar essa diferença temos de considerar que o Tapajós em virtude da estiagem pouca ou nenhuma influência tem em relação ao deslocamento Rio acima, o que realmente prejudicou nossa progressão anterior foi o terrível calor e a ausência de ventos e nuvens que amortecessem estes efeitos.
Paramos novamente nas instalações do IBAMA (Tabuleiro Monte Cristo). Infelizmente, apenas três tartarugas tinham realizado a postura, não seria desta vez que conseguiríamos apreciar a desova das enormes tartarugas amazônicas (Podocnemis expansa). Estávamos descansando nas confortáveis instalações do “Lar das Tartarugas” quando observamos a “Expedição Tapajós – 2013” de caiaques subindo o Rio. Um grupo de veteranos estrangeiros alemães estava subindo até o Salto São Luís. Espero que não seja mais um grupo de ativistas manifestando-se contra a construção da hidrelétrica de São Luís do Tapajós, que junto com outras quatro faz parte do Complexo Tapajós, tão necessária ao desenvolvimento da região e do país.
– Amazônica Intocável
A polêmica em relação à construção das hidrelétricas por parte de manifestantes que defendem que a Amazônia deva permanecer intocável é um sofisma primário que não encontra amparo lógico nem na história da humanidade e muito menos no bom senso. É interessante verificar que todos estes militantes estrangeiros são oriundos de países que cometeram e ainda cometem os maiores desatinos ambientais do planeta e que em vez de cobrarem de seus próprios governos medidas corretivas em relação à poluição e recuperação de áreas degradadas de seus países surgem na “terra brasilis” como insanos arautos do apocalipse ambiental demonizando os brasileiros em geral e os amazônidas em particular.
Uma vez indaguei a um deles qual seria então alternativa energética proposta e o astuto germânico prontamente respondeu – energia nuclear. Logicamente o Brasil deveria comprar os equipamentos de sua querida Alemanha que dominava todas as fases desse tipo de geração – legítimos talibãs verdes a soldo e a serviço de grandes corporações.
– Madrugando no Passado
Quantas vezes nós mesmos volvemos os olhos para o distante pretérito em busca das mais gratas recordações. Como seria bom que o tempo parasse, estacionasse em uma das melhores fases de nossas vidas, mas, seria este também o melhor tempo dos outros indivíduos?
Lembro quando acompanhava o velho Cassiano, meu saudoso e honorável pai, desde os seis anos de idade, nas pescarias em açudes de meu querido Rosário do Sul, RS. Era um evento formidável, memorável mesmo, partíamos de caminhão, amigos, parentes, assador (Seu Felipe), duas ovelhas vivas, lenha, barco, tralhas de acampamento e pescaria e uma velha cambona preta. A cambona era feita de uma velha lata de óleo com alça de arame e era colocada diretamente no braseiro para aquecer a água do chimarrão.
Durante o dia o pequeno piá Hiram se divertia pescando lambaris com sua tarrafinha que eram usados, mais tarde, no espinhel para pegar as cobiçadas traíras e jundiás. À noite caçava pirilampos que soltava na barraca fechada transformando-a numa mágica miniatura da abóboda celestial salpicada de pulsantes estrelas cor de esmeralda. Bons momentos, talvez dignos de um congelamento temporal.
Lembro, porém, que, na mesma época, a viagem de Porto Alegre a Rosário, no inverno era uma verdadeira odisseia. A estrada de chão esburacada apresentava um obstáculo por vezes intransponível – o temível banhado do Inhatium. Deveríamos ficar reféns eternos do ameaçador estorvo? Rosário era na época abastecido por uma termoelétrica que, quando estava funcionando, fazia as luzes pulsarem e os poucos eletrodomésticos pifarem. Continuaríamos para sempre satisfeitos com este tipo de fornecimento. Parece que não!
O problema é que estes problemas nos afetam diretamente. É diferente quando estas dificuldades dizem respeito aos habitantes dos ermos dos sem fim – os amazônidas. É fácil fazer propostas que embarguem o desenvolvimento e tragam mais conforto para estas populações quando não somos diretamente atingidos. Esquecem, porém, os “talibãs verdes” que não existe desenvolvimento sem energia e que não se faz “omelete sem quebrar ovos”.
As minas de Juriti e Porto Trombetas precisam de muita energia para transformar a bauxita em alumínio ou será que somos incapazes de alterar nossa destinação histórica subserviente de exportar minério bruto e importar o produto final dos países desenvolvidos.
– 22.10.2013 – Tabuleiro Monte Cristo/Aveiros
Resolvemos ir até Aveiros, mais de 72 km em linha reta, 76 km de percurso, desde o Tabuleiro, e partimos às 05h30. Atingimos Fordlândia às 09h00 e aproamos decididamente rumo a Aveiros. O tempo colaborou até atingirmos a Praia do Tecaçu por volta das 12h40. Daí em diante até nosso destino final, onde aportamos, cansados, às 15h40, o sol castigou-nos impiedosamente. Em Aveiros, o Marçal foi para sua casa e eu e o Mário nos instalamos em um hotel da cidade com ar-condicionado.
– Livro do Autor
O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS. Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:
http://books.google.com.br/books?id=6UV4DpCy_VYC&printsec=frontcover#v=onepage&q&f=false
Fonte: Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Pesquisador do Departamento de Cultura e Ensino do Exército (DCEx);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional;
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com
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