Um dia, ali pela páscoa, um coelhinho solitário entrou num galinheiro fugindo do frio pascoal - acho que em algum lugar durante a páscoa faz frio e foi justo nesse lugar que o fato ocorreu - e se acomodou debaixo de uma galinha quentinha. Assustada mas solidária - afinal era a páscoa - a galinácea aceitou o intruso e passou a transferir calor ao engelhado coelhinho.
Mal sabia aquele jovem macho da família dos leporídeos que o sisudo e mau humorado velho galo, que a ninguém perdoa, a tudo observava e principalmente à patuscada armada pelo coelho no seu harém até por conta de um detalhe conhecido no reino animal. É que o coelho é tido e havido como um emérito atleta sexual e o galo sentiu que seu império poderia sofrer um baque. Espora vá lá mas chifre nem pensar.
Com um olho na galinha e outro no coelho e com aquele jeito cafajeste que todo "galo véio" tem, preparou o ataque. Foi-se aproximando pé ante e pé e antes que o coelho se desse conta do que acontecia, acertou violenta bicada na cabeça da galinha que no reflexo e sem nada entender, só faltou enterrar o bico no chão, fechando a única possibilidade de saída do coelho intruso.
A partir desse ponto deixo de contar a história em razão dos detalhes sórdidos que fariam corar a estátua de bronze de algum santo e segue sem mais delongas para a parte final, poupando crianças, senhoras pudicas e os idosos para não a avivar a memória, se me fiz entender.
Não vou me perder em minudências agro-silvo-pastoris ou biológicas, mas o certo é que o coelho pôs um baita ovo - não sem muito sofrimento, é preciso que se diga - e que os galináceos já não formam nas mesas cristãs na páscoa a mais concorrida opção de almoço.
Outra e definitiva observação: a partir desse evento os leporídeos - lebres e coelhos de todos os tipos e cores - passaram a agir de forma estranha: vivem em tocas, se assustam facilmente e disparam a correr como loucos por qualquer motivo, mesmo nas situações em que tecnicamente teriam enormes vantagens sobre eventuais adversários (vide "O Coelho e a Tartaruga" de Esopo).
Feliz Páscoa
Leo
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)