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Liliane Melo

E Agora? As provas começaram... - Por Liliane Melo


 

Por Liliane Melo

Estava pensando no que escrever nesta semana... em princípio seria um tema bastante interessante, mas decidi deixa-lo para a próxima semana – não vou antecipá-lo. Explico o motivo: pensando nas dificuldades do autista em relação à inclusão escolar, já que as aulas iniciaram mas recentemente nas escolas públicas, e ainda mais cedo nas escolas particulares e com isso as provas estão chegando, então resolvi mudar o tema: “E agora? As provas começaram...”

E Agora? As provas começaram... - Por Liliane Melo - Gente de Opinião
Devemos sempre estimular a leitura para os nossos
filhos - o Matheus gosta de ouvir histórias.

Como havia mencionado em artigos anteriores me refiro com mais frequência a minha experiência pessoal com meu filho autista de 7 anos. Ao contrário de algumas pessoas próximas com as quais convivo que teve sérios problemas em relação à inclusão escolar, esse dilema eu não vivi – creio que pelo fato do meu filho ter um autismo leve. E justamente esta é a semana de provas do meu filho.

A inclusão escolar a que quero tratar neste artigo não é o fato da criança estar ou não matriculada em uma escola regular – o que tem sido um grande problema para as famílias em todo o país, que será algo que também estarei abordando em breve -  mas sim, de acompanhar de fato os conteúdos programáticos da grade escolar. Tive sérias dúvidas no início deste ano, se deveria reter ou não meu filho na primeiro ano do ensino fundamental.

Pensei: - Meu Deus! Como vai ser? Meu filho ainda não tem uma linguagem verbal clara – muitas vezes nem eu como mãe entendo o que ele fala – e consequentemente, não lê e não escreve. Apesar, que escrever ele até escreve, fazendo cópia, só que na escrita bastão ou como se chamava antigamente “letra de forma” e não na escrita cursiva.

Fiquei com o coração muito apertado, num dilema muito grande se deveria matriculá-lo no segundo ano do ensino fundamental. Consultando todas as terapeutas que o acompanham, a professora e a coordenadora da escola em que ele estuda, resolvi acatar a sugestão da maioria e deixa-lo prosseguir... mas confesso, ainda sim meio reticente com receio dele virar a piada da sala.

Para minha surpresa e claro, satisfação, ele está conseguindo acompanhar as demais crianças. Em conversa com a professora dele procurei saber a metodologia que ela está usando. Como ele escreve só por cópia, isso me intrigou. Então ela me disse que quando ela escreve no quadro, o divide em duas partes: tem o lado dos demais alunos que ela faz com a letra cursiva e o lado dele que ela escreve em bastão. Me disse que primeiro faz a dos demais alunos e depois a dele. E para minha surpresa e satisfação falou que ele copia tudo direitinho e ainda termina antes dos outros.  Os demais alunos respeitam e sabem que o de letra de bastão é o lado do Matheus.

E Agora? As provas começaram... - Por Liliane Melo - Gente de Opinião
Estimular atividades que sejam de interesse da criança. O Matheus por exemplo, gosta muito de pintar!

Soube que ele estava indo muito bem nas provas e questionei:  Como, se ele não escreve sozinho? E a professora me respondeu calmamente: Mãe, eu leio o enunciado e pergunto a ele a resposta! Quando não entendo o que ele respondeu, pergunto de novo. Se continuo não entendendo, ele responde por gestos. Aí sim, vendo que ele soube a resposta o ajudo a escrever e ele tem se saído muito bem! Claro que a mãe aqui ficou pra lá de aliviada! Agradeço a sensibilidade da professora em entender que no caso dele é preciso haver uma didática diferente!

De acordo com a psicopedagoga Lilian Martins Larroca, alfabetizar é um processo parecido ao que os adolescentes muitas vezes usam – o de escrever em códigos –  tornar as crianças iniciadas em um código utilizado em sociedade: a escrita alfabética de nossa língua materna. Até sua alfabetização, a criança fica alheia a mensagens que só podem ser decifradas pelos “privilegiados” já iniciados nessa sociedade, os alfabetizados – são as notícias do jornal, os letreiros e outdoors, o livro, os bilhetes e recados… Ao apropriar-se da leitura e da escrita, a criança passa a ter acesso a essas mensagens e a ter a possibilidade de produzi-las também.

Entretanto, a psicopedagoga explica que a apropriação desse código não é tão simples. Ela exige uma série de processos cognitivos dos quais a maioria sequer tem consciência: reconhecimento dos sinais gráficos (letras), seguir a leitura no sentido correto, identificação do som de cada símbolo, reunião dos sons encontrados e reconhecimento de que esse conjunto possui um significado, expressa uma ideia. Como se não bastasse, cada conjunto ainda é combinado com outros, formando frases e textos. Em suma: ler exige que os diferentes componentes linguísticos – léxicos (vocabulário), fonológicos (sons), sintáticos (formação de frases de acordo com regras), semânticos (significado das palavras) e pragmáticos (interpretação do ouvinte e intenção do falante) – sejam dominados pelo aluno. O processo inverso, o de transformar ideias em escrita, acrescenta o desafio de encontrar as letras apropriadas à representação dos sons. Para nós, é automático. Para a criança, um tremendo desafio!

E como o autista então pode superar todos esse desafios? Miguel Higuera Cancino, especialista em autismo há 30 anos, publicou seu livro “Mi hijo no habla” relatando as experiências com seu filho autista. Miguel é fonoaudiólogo com largo conhecimento sobre o espectro autista. Ele nos deixa 13 valiosas dicas aos professores que atuam com crianças autistas e que também servem para nós, os pais:

1 – Pedir às famílias um relatório dos interesses, preferências e coisas que causam desagrado a cada criança.

2 – Utilizar preferências e materiais de agrado para a criança na aula o no pátio para estabelecer um vínculo com a escola e as pessoas do ambiente escolar.

3 – Trabalhar por períodos curtos, de cinco a dez minutos, em atividades de complexidade crescente, incorporando gradativamente mais materiais, pessoas ou objetivos.

4 – Falar pouco, somente as palavras mais importantes (geralmente um autista não processa muita linguagem cada vez).

5 – Utilizar gestos simples e imagens para apoiar o que é falado e permitir a compreensão (os autistas são mais visuais que verbais).

6 – Desenvolver rotinas que a criança possa predizer ou antecipar (pela repetição e com o apoio de imagens que mostram o que vai ser feito no dia).

7 – Estimular a participação em tarefas de arrumar a sala, ajudar a entregar materiais às outras crianças, etc.

8 – Entregar objetos no canal visual. O adulto deve ter o objeto na mão diante dos olhos para que a criança possa pegar o objeto tendo o rosto do adulto dentro do seu campo de visão.

9 – Respeitar a necessidade de estar um momento sozinho, de caminhar ou dar saltos ou simplesmente perambular para se acalmar (pode ser utilizado como prêmio após uma atividade).

10 – Tentar conhecer as capacidades de cada criança para utilizá-las como entrada para as atividades de ensino (pintar, recortar, etc.).

11 – Evitem falar muito, muito alto e toda situação que envolva muito estímulo (pode ser até nocivo para a criança).

12 – Pergunte sempre como foi a tarde ou o dia anterior, a qualidade do sono ou se houver alguma alteração da rotina para se antecipar a estados emocionais de ansiedade. Em caso de ansiedade, procure utilizar elementos de interesse e preferência da criança, com menor exigência para não ter birras ou maior ansiedade.

13 – Em casos de birra, é importante ter algum conhecimento de técnicas de modificação de conduta (time out, desvio de atenção, etc.), mas a primeira dica é não se apavorar, tentar oferecer outros objetos e, no caso de não conseguir acalmar a criança, explicar à turma o que está acontecendo e desenvolver atividade com o grupo em outro lugar e dar a possibilidade da criança com TEA de se acalmar. Fonte: http://atividadesdaprofessorabel.blogspot.com.br/2013/05/dicas-para-professores-que-trabalham.html

Espero de alguma forma ter ajudado com este artigo os demais pais, que tenho certeza como eu, ficam cheios de dúvidas ao lidar com esta situação.

Se você leitor (a) tem uma história de superação e luta em relação ao TEA também pode compartilhar nesta coluna, que tem por único objetivo partilhar experiências e desfazer rótulos, fazendo com que as pessoas entendam o autismo, porque na realidade nascemos para ser incríveis, não perfeitos! 


Caso queira enviar sugestões pode entrar em contato comigo através do e-mail:  lilianejornalista@gmail.com - até o  próximo!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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