Quarta-feira, 18 de agosto de 2021 - 15h34
Reativo esta coluna para que
você leitor (a), reflita, que a mente e o coração de muitos pais de crianças
especiais quando se trata da inclusão escolar são carregados de lágrimas,
desesperanças, lutas infindáveis e tantos outros sentimentos. Na última
segunda-feira (16), em Porto Velho, Mabel Colares, mãe do Gustavo de 9 anos
publicou um vídeo (exibido neste artigo) com um desabafo nas redes sociais
sobre o filho autista que foi “convidado” a se retirar da sala de aula por não
terem disponibilizado um profissional que o acompanhasse em sala.
O caso ganhou repercussão
nacional já que chegou ao conhecimento de grandes defensores da causa, como
Berenice Piana e o apresentador Marcos Mion. Nesta terça-feira (17), Mion fez uma live com Mabel e o prefeito
Hildon Chaves para tratar do assunto. O prefeito na oportunidade, garantiu uma
vaga para Gustavo e explicou que tem investido em capacitação dos profissionais
da educação em relação ao Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Mas infelizmente neste
processo educacional existem muitos pais e mães que passaram e passam pelo que
Mabel Collares passou. Ela não é a única a se sentir assim. Representa tantas
mães e pais autistas que penam, que ainda sonham por dias melhores para seus
filhos, que querem ver seus filhos conviverem com as crianças neurotípicas, que
querem aceitação e mais, o direito a um ensino de qualidade e inclusivo para
que possam avançar. E os resultados estão aí, temos autistas que conseguiram
vencer, inclusive com nível superior.
A dor de ouvir o relato dessa
mãe é de partir o coração! Quem convive com um autista sabe da importância
dessa preparação para uma nova fase, que exige diálogo e compreensão. Gustavo
estava animado em voltar às aulas e rever os amigos. Não entendeu porque teve
que sair de sala e voltar para casa sendo que sua irmã mais nova continuou na
escola. Isso é chocante, para não dizer cruel!
Ao assistir a live, para meu
espanto, ouvindo o relato da Mabel, soube que o grau de autismo do Gustavo é de
moderado a leve, que ele corresponde aos comandos dados em sala e que estudava
nessa instituição desde o pré-escolar, onde todos os conheciam e tinha amigos
de escola que ficou feliz em rever. Isso porque era um aluno antigo e que todos
o conheciam.
Com a chegada das tão sonhadas
aulas, pais têm gastos, compram uniforme, tênis, mochila, material e agora
máscaras, álcool em gel... e... peraí... seu/sua filho (a) não pode ficar
porque “não temos” profissional especializado para cuidar dele (a). Então eu
fico pensando: O Poder Público se preocupa tanto em melhorar as instalações das
escolas – já que ficou tanto tempo sem aula durante a pandemia e fazendo
reformas em algumas escolas, que não “teve” tempo para resolver essa situação?
Nas escolas particulares a
situação é pior ainda! Até entendo que com relação ao ensino privado, a carga
tributária é alta demais – e nesses casos precisa ser revista – para que possa
arcar com um profissional em cada sala com criança especial o que pode onerar a
mensalidade. Porém, as pessoas que têm necessidades não pararam de nascer, não
pararam de existir e no caso do autismo, o número aumenta a cada ano! E vão
fazer o quê? Fechar os olhos para essa realidade? Exluir?
Um diagnóstico não pode
determinar a jornada de uma criança. Pais constatam todos os dias que os
estímulos e o convívio social fazem com que seus filhos melhorem e superem suas
dificuldades surpreendendo médicos e terapeutas com os resultados alcançados...
e, sim, eles têm um futuro. As crianças especiais não atrapalham o aprendizado
das outras crianças em sala, muito pelo contrário, ensinam a elas que todos
somos diferentes na maneira de ser, mas iguais em direitos. Esse convívio ensina
o respeito, a empatia, a solidariedade, o valor humano.
Crianças especiais tem valor
imensurável e só quem convive com uma sabe! São histórias constantes de
superação! O que aconteceu nessa escola em relação ao Gustavo, vem acontecendo
no decorrer dos anos em outras tantas e muitos não sabem. Nesta semana este
caso ganhou repercussão na mídia. E os casos que simplesmente ficaram abafados
na frustração e impotência de muitos pais que cansaram de lutar contra o
sistema?
Este é o caso de Edimilson
Araújo, pai do João hoje com 16 anos, que em 2014 desistiu de manter seu filho
na escola regular após inúmeras tentativas.
“Passei por essa situação quando decidi ouvir pessoas falando que a
escola X era referência em acolhimento ao autista. Decidi colocar meu filho lá.
Primeiro acolhimento: não tinha professora auxiliar. Segundo acolhimento: você
pai tem que ir à Semed providenciar a professora auxiliar. Terceiro
acolhimento: você deixa ele na escola e fica do lado de fora esperando para
saber se ele não vai se exaltar. Logo que chegava ao trabalho já recebia uma
ligação da orientação dizendo para ir busca-lo porque estava agitado. Depois
não havia mais auxiliar…. procura novamente a Semed para arrumar outra. Depois
da quarta auxiliar decidi tirar meu filho e nunca mais retornei lá. Agradeço
muito a Deus por me dar condições de manter um local onde sei que estará sendo
bem atendido”, relata.
Imoni Marinho, mãe de Juliana,
hoje com 13 anos, com autismo e deficiências múltiplas, publicou ontem em suas
redes sociais: “A dor da Mabel também é minha dor. Passei o mesmo em 2017, mas
enquanto ficarmos impondo leis sem criar caminhos permaneceremos assim,
gritando em redes sociais ano após ano... precisamos lutar para que a inclusão
seja feita da maneira correta. Não basta só impor, é necessário criar caminhos
para a inclusão, como profissionais especializados, redução de impostos para as
escolas particulares... impor sem abrir caminhos é politicagem”, alerta.
Juliana está fora da escola
regular desde essa época. “Na Casa Rosetta e na Pestalozzi não atendem por ela
ter autismo. A AMA atualmente já atende, mas antes era limitada por causa do
espaço que era pequeno”, explica. Desde 2019 Juliana é atendida por causa do
mandado judicial, no Espaço Atendimento Pedagógico Especializado (EAPE) e no Centro
de Potencialidades Humanas (CPH).
LEIS
NÃO FALTAM
As pessoas têm dúvidas sobre a
obrigação das escolas regulares em fornecer acompanhante especializado para
pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), e se no caso das
instituições privadas, podem cobrar mais por este acompanhante especializado. Pois
bem, no parágrafo único do artigo 3º da Lei 12.764/12 (Lei Berenice Piana)
estabelece que “em casos de comprovada necessidade, a pessoa com transtorno do
espectro autista incluída nas classes comuns de ensino regular, nos termos do
inciso IV do artigo 2º, terá direito a acompanhante especializado”.
Apesar do inciso IV do artigo
2º da Lei que tratava sobre a diretriz da educação ter sido vetado, o
dispositivo do acompanhante especializado permaneceu e pode ser aplicado. Isso
mesmo! A presença desse profissional durante as aulas para acompanhar a criança
pode ser exigida através de um laudo médico, ou até mesmo por um relatório de
um pedagogo ou psicopedagogo, que comprove que a necessidade desse
acompanhamento especializado.
Afinal, que atividade exerce o
“acompanhante especializado”? Este acompanhante é o profissional que exerceria
a atividade de cuidador, ou seja, apoio na locomoção, alimentação e cuidados
pessoais, bem como do mediador que fornece apoio às atividades de comunicação e
interação social.
Foi publicado no ano passado o
Decreto 8.368/14 que veio regulamentar a Lei nº 12.764/12. Este decreto
estabelece o que exatamente? “Caso seja
comprovada a necessidade de apoio às atividades de comunicação, interação
social, locomoção, alimentação e cuidados pessoais, a instituição de ensino em
que a pessoa com transtorno do espectro autista ou com outra deficiência
estiver matriculada disponibilizará acompanhante especializado no contexto
escolar, nos termos do parágrafo único do artigo 3.º da Lei nº 12.764/12”.
Todos têm conhecimento de que
a escola pública não pode cobrar esse acompanhamento especializado já que o
serviço é gratuito. Quanto à escola particular, esta cobrança à parte também não
é possível, já que cria um obstáculo para inclusão da pessoa com deficiência,
levando a uma situação de desigualdade com os demais alunos.
A Nota Técnica 24/2013 do
Ministério da Educação dispõe que as instituições de ensino privadas,
submetidas às normas gerais da educação nacional, deverão efetivar a matrícula
do estudante com transtorno do espectro autista no ensino regular e garantir o
atendimento às necessidades educacionais específicas. O custo desse atendimento
integrará a planilha de custos da instituição de ensino, não cabendo o repasse
de despesas decorrentes da educação especial à família do estudante ou inserção
de cláusula contratual que exima a instituição, em qualquer nível de ensino,
dessa obrigação. Portanto, essa cobrança não pode ser realizada.
A Lei nº 13.146 de 6 de julho
de 2015, que instituiu a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
(Estatuto da Pessoa com Deficiência), em seu artigo 4º diz que toda pessoa com
deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e
não sofrerá nenhuma espécie de discriminação. No parágrafo 1º considera-se
discriminação em razão da deficiência, toda forma de distinção, restrição ou
exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar,
impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades
fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações
razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas.
No artigo 5º, também determina
que a pessoa com deficiência será protegida de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, tortura, crueldade, opressão e tratamento
desumano ou degradante.
Mas não é o que vemos na prática, não é mesmo? Você pai e mãe de criança com TEA, não permita a exclusão do (a) seu/sua Filho (a). Essa criança tem tanto direito quanto qualquer criança neurotípica. Não se cale e lute! Na segunda-feira, 16 de agosto de 2021, foi com a Mabel. Amanhã, poderá ser com você! E o que vai fazer? As pessoas com TEA fazem parte deste mundo e têm direito sim, a serem incluídas! Não são apenas números em estatísticas. São pessoas que têm sentimentos e sonhos como qualquer outra. Pense nisso, sistema educacional brasileiro e avalie bem seu procedimento e falta de empatia!
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