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Liliane Melo

O que é mais importante – falar ou se comunicar? Por Liliane Melo


Ouvir um filho falar mamãe e papai, depois completar frases é uma das mais significativas expectativas dos pais no que tange seu desenvolvimento, tido como algo corriqueiro ou natural em nossa sociedade. Mas nem sempre é isso o que acontece! Aí você vê o filho de amigos e parentes da mesma idade falando e o seu nada! – frustrado você busca tratamento fonoaudiólogo e pergunta ao terapeuta: - Meu filho vai falar? Mas eis o ponto – o que é mais importante: a fala ou a comunicação? Então quero lhes apresentar a Apraxia de Fala.    

O que é mais importante – falar ou se comunicar? Por Liliane Melo - Gente de Opinião
Matheus com a fonoaudióloga Flávia Ribeiro fazendo exercícios: Matheus tentando fazer o movimento da terapeuta e como ela diz: "Não está perfeito, mas está parecido".

A Apraxia de Fala na infância é um distúrbio motor da fala (neurológico), onde a criança não consegue planejar, programar e executar os movimentos da boca, necessários para falar.
A apraxia pode se manifestar de algumas formas, como desde a ausência total de fala (crianças que não falam), até formas rudimentares de fala, com um repertório muito reduzido de sons e de palavras, ou então, até uma fala não inteligível (a criança fala, mas muito errado, que até mesmo os pais, acabam não conseguindo entendê-la).

Segundo a fonoaudióloga Flávia Ribeiro de Porto Velho,  a apraxia causa uma desordem na musculatura que impede alguns movimentos, mas não impede a criança de se comunicar. “Será que vale a pena focar apenas na fala? Muitos pais estão esperando pela fala, o mecanismo motor, mexer a boca. Até que ponto esperar a fala? A comunicação não é mais importante? É muito mais vantajoso os pais esperarem por uma boa comunicação do que uma verbalização”, destaca.

Para a terapeuta, nesses casos a fala seria uma consequência. “Por que se a fala não vier? Muitas crianças têm apraxia e se os pais só focam na fala irão se frustrar, já que a apraxia é um grande obstáculo”, alerta.

Citando como exemplo o meu filho Matheus, que é paciente da fonoaudióloga Flavia Ribeiro há alguns anos ela salienta: “Ele tem apraxia mas se comunica perfeitamente.  Conseguimos desenrolar um diálogo com ele. Não vai fazer agora as pronúncias corretas, vai levar mais um tempinho, mas já está bem avançado. Mas se os pais tivessem focados apenas na fala ficariam frustrados”.

Conforme abordagem do assunto pela dra. Elisabete Giusti, fonoaudióloga nnfantil, especializada em Transtornos Específicos do Desenvolvimento da Fala e da Linguagem e doutora em linguística pela USP, uma das manifestações da apraxia de fala é a ininteligibilidade, sendo que muitas crianças são verbais, porém nem mesmo as pessoas mais próximas conseguem  compreendê-las.  Dentre as causas da ininteligibilidade de fala, Elisabete Giusti  diz que é possível citar:

  • Aumento da velocidade de fala (falar rápido).
  • Falta de precisão dos movimentos de fala, omissão e substituição dos sons.
  • Contextos de comunicação desconhecidos (a criança quer contar alguma coisa que os pais não fazem ideia sobre do que se trata).
  • Produções inconsistentes.
  • Erros de vogais (criança troca, omite ou distorce as vogais).
  • Alterações de prosódia, erros de acentuação, dificuldade de entonação (melodia, ritmo da fala), tom de voz, falta ou excesso de pausas entre nas sentenças.
  • Erros residuais (principalmente para os sons: “r”, “pr”, “tr”, “lh”, etc).
  • Aumento da extensão das frases ou palavras polissílabas (quanto mais sílabas, mais difícil será para a criança).
  • Falta de generalização: no treino a criança produz bem, mas não generaliza os sons aprendidos para as situações de comunicação.  
  • Crianças que ficam ansiosas para contar suas experiências.
  • Nível de fadiga (crianças cansadas ou estressadas terão mais erros).
  • Complexidade e familiaridade com a mensagem que querem transmitir.
  • Falta da consciência da criança sobre seus erros.
  • Parceiros ansiosos e que “aceleram” ainda mais a criança.
  • Ambientes de comunicação competitivos: várias pessoas falando ao mesmo tempo.
  • Falar alto demais: pode aumentar a força dos movimentos e provocar quebras de co-articulação e na fluidez da fala.


O que fazer para melhorar a inteligibilidade/clareza da fala, de acordo com a especialista:

  • Garantir que a criança esteja ciente dos alvos que estão sendo trabalhados.
     
  • A criança precisa saber COMO produzir os alvos e quais movimentos ela precisa fazer e não simplesmente ficar repetindo sem ter consciência do que está fazendo.
     
  • A criança consegue se autocorrigir? Ela tem um “lembrete” (pode ser um gesto, um desenho, uma expressão facial, etc) para os alvos em treino ou para sinalizar que errou?
     
  • É importante ouvir e reconhecer os próprios erros.
     
  • Ela consegue “descrever” seus erros?
     
  • As Fonoaudiólogas precisam analisar quais sons estão afetando mais a clareza da fala e começar por estes.
  • Ajudar a criança a usar outras estratégias nas situações onde ocorrer quebra da comunicação (o que fazer quando não for compreendida).
     
  • Ensinar a criança a reconhecer que seu parceiro não está compreendendo-a (prestar atenção às expressões faciais, pedidos para repetir, etc).
     
  • Tem criança que desenvolve um padrão de fala (parece que ela fala um idioma que ela criou) e nestes casos, é preciso despertar a consciência da criança que ela não está sendo compreendida. Temos que mostrar a ela que sua fala não é clara. Mas, CUIDADO,  com as crianças mais sensíveis, com baixa autoestima, com histórico de situações frustrantes de comunicação, etc). 
     
  • Para as crianças que já sabem ler, a leitura pode ser uma estratégia muito útil para ajudar na clareza da fala (destaque os sons ou sílabas ou palavras que ainda são difíceis para ela, por exemplo, marque as palavras no texto que ela terá que ter mais atenção).
     
  • A criança quer melhorar? Se frustra facilmente nos treinos de fala?
     
  • É preciso ajudar a criança a desenvolver autoconfiança e acreditar que pode e precisa melhorar a clareza de sua fala.
     
  • Incentive a criança a cantar. Cante junte com ela, mais lentamente, prologando as vogais, num ritmo suave. Se ela ainda não consegue pronunciar a palavra inteira, ela poderá cantar as sílabas ou acompanhar a melodia.
     
  • Outro aspecto MUITO E talvez o MAIS importante: VELOCIDADE DE FALA. Primeiro ponto: pais e fonoaudiólogos precisam falar devagar (somos modelos e espelhos para nossas crianças). Certamente falar mais devagar ajudará a melhorar o feedback da criança, a precisão dos movimentos de fala. Mas lembrem-se:  falar devagar não significa falar de forma silabada (“MA- MÃ – E) – não silabas e sim LENTIFICAR (preferencialmente use uma melodia para facilitar). Lentificar os movimentos também ajuda.
     
  • Geralmente, estamos sempre na correria, com pressa, principalmente as mães, que precisam fazer várias tarefas ao mesmo tempo. Se seu filho já fala rápido, essa correria o deixará ainda mais agitado e a fala ficará ainda mais rápida e menos clara e precisa.
  • Outro aspecto muito importante: depois de treinar palavras, treine também frases e com apoio de pistas visuais (por ex:  figuras, será melhor ainda).

Mas acima de tudo que foi apontado pelas terapeutas: ame seus filhos! Como mãe de uma criança autista que tem apraxia, repito: ame seus filhos. Não façam com que se sintam diminuídos. Muitas vezes não entendo o que meu filho fala e tenho que pedir socorro à minha filha mais velha que entende praticamente tudo o que ele fala. Muitas vezes ela não está e ele fica nervoso, frustrado quando não consegue ser compreendido. Eu calmamente fico na frente dele, olho diretamente em seus olhos e falo: - Calma meu filho! Fale devagar para a mamãe entender o que você quer. Algumas vezes através da fala eu não entendo, porém faço ele repetir e quando não consigo ele faz gestos e a gente se entende...

Então para que ter pressa?... Creio que um dia ele chegará lá! O que importa é que sei que ele tem vencido! Não falava nada e hoje já consegue ser compreendido... e quanto a mim... vibro com cada palavra nova que chega ao seu vocabulário e o amo com todas as minhas forças. Então meu conselho: - Não cobre demais do seu filho, respeite seus limites e acima de tudo o ame!

Se você leitor (a) tem uma história de superação e luta em relação ao TEA também pode dar a sua contribuição nesta coluna, que tem por único objetivo partilhar experiências e desfazer rótulos, fazendo com que as pessoas entendam o autismo! Na realidade nascemos para sermos incríveis, não perfeitos!

Caso queira enviar sugestões pode entrar em contato comigo através do e-mail:  lilianejornalista@gmail.com - até o  próximo!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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