Segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016 - 18h06
Muita água rolou e pouca garrafa cheia sobrou nas décadas de carnavais que vivi. Fui contaminada pelo micróbio do carnaval em matinês que papai me levava no clube Ferroviário e no primeiro contato com uma Escola de Samba meu cérebro foi comprometido pra sempre. O dia que entrei numa xícara gigante pra sambar como destaque da Unidos da Castanheira quase morri, porque o índice de emoção atingiu um nível inesperado. Naquele ano, a escola foi bicampeã e com o samba enredo do meu pai.
Na juventude vivi as memórias mais ricas em pureza com os bailes de carnaval nos Clubes Botafogo, Eletronorte e Círculo Militar. Veio a década de noventa e com ela uma revolução no formato da folia momesca, a era dos blocos de trios elétricos grandiosos, abadás e cordas de isolamento. O axé tomou conta da cena carnavalesca da cidade, menos da minha fantasia. Foi tão intensa a transformação e muitos diziam que o carnaval tradicional estava fadado ao esquecimento.
De consolo restava a Banda do Vai Quer Quer com a irreverência e tradição popular que mantém e o Galo da Meia Noite que começava a levantar a crista pra arrastar a primeira multidão. Entre um e outro, tal como para Chiquinha Gonzaga, meu coração abriu alas para um novo amor. Foi recordando a magia dos antigos carnavais que arreganhamos alas pra tradição. O bloco Pirarucu do Madeira que Ernande Segismundo fundou em 1993 se transformou num refúgio nosso e hoje é símbolo de resistência da cultura popular.
Na contramão do projeto de massificação cultural que tomou o país, sem cordas, abadás, com frevos e marchinhas tradicionais, o Pirarucu do Madeira insiste no carnaval familiar, democrático e colorido com fantasias. No último fim de semana, contrariando o mau agouro de esquecimento da folia tradicional, com os bonecos gigantes de Bola Sete, Marise Castiel e Arlequins, o bloco mostrou seu carnaval gigante. Ao som da orquestra Puraqué, com crianças, jovens, idosos e pessoas com dificuldade de locomoção, o bloco mostrou que é possível resgatar a força e a beleza do carnaval tradição. O Pirarucu desfilou sem policiamento, tranquilo feito procissão de São Francisco, mas animado feito uma centopeia com sapatos novos. É preciso coragem pra assumir o compromisso de arrastar uma multidão e depende de confiança recíproca. O desfile foi perfeito, memorável, porque tanto dirigentes, quanto foliões, se comprometeram com o ideal de resgatar o carnaval de paz. Essa é mágica da cultura sadia, que forma e transforma consciências.
As crianças como confetes serpentearam na avenida, protegidas pelo astral de congraçamento. Em agradecimento, uma mãe postou uma foto e escreveu após desfilar com o filho: “lugar de autista é em todo lugar”.
A senhora idosa com um chapéu de bruxinha com um abraço de agradecimento se despediu, o turista arregalou os olhos e declarou surpresa com satisfação, mestre Bainha cantou e desfilou ostentando seus 78 anos e ainda queria mais.
Um bloco de todos para todos, portanto, todos merecem os parabéns.
Uma nova revolução se impõe no carnaval brasileiro, o resgate dos desfiles de blocos tradicionais. Em São Paulo serão mais de 300 blocos, 100 a mais que em 2015 e no Rio de Janeiro mais de 500.
O carnaval se diversificou, mas a chance de que o tradicional caia no esquecimento é zero. Está grudado na memória e identidade cultural brasileira como confetes e serpentinas, como Lamartine Babo, Chiquinha Gonzaga, Ary Barroso, Capiba, Noel e Carmem Miranda.
Como esperamos se fixe, o compromisso de carnaval tradição com o Pirarucu do Madeira.
Luciana Oliveira
Empresária e Jornalista
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