Quinta-feira, 24 de março de 2016 - 16h06
O tempo e o progresso não apagam as tradições, mas alguns costumes perdem força e sobrevivem só no imaginário popular.
Muito do que vivi em Semanas Santas na infância permanece igual, do domingo de Ramos ao domingo de páscoa. As vigílias, procissões, missas, retiros espirituais, o jejum na sexta-feira da Paixão, o almoço em família pra celebrar a ressurreição de Cristo.
De tudo que a tradição cristã simboliza, meu pai sempre destacou que devíamos encarar esse período como uma oportunidade de renovação de fé e esperança.
Já não vou à igreja, mas carrego as coisas boas que aprendi e sigo o conselho de fazer do feriado prolongado um momento de reflexão.
Ao vasculhar o escaninho da memória, resgato um personagem que hoje é visto raramente como costume do sábado de Aleluia.
Me refiro à tradição de malhar Judas, o filho duma égua que entregou Jesus a seus algozes, não sem antes sentar na mesma mesa, comer o mesmo pão e beber o mesmo vinho.
Quando era criança adorava fazer um boneco com roupa velha e enforcá-lo no poste com uma placa de traidor no peito. À época quem tinha a 'honra' de ser personalizado como Judas geralmente era um fofoqueiro (a) ou encrenqueiro (a) do bairro.
O costume de malhar o Judas foi trazido por espanhóis e portugueses e incorporado às tradições culturais brasileiras.
Hoje pra achar um Judas pendurado num poste só batendo perna nos bairros mais antigos, onde a cultura popular se conserva menos abalada pela modernidade.
Curiosamente temos personagens muito mais autênticos pra representarmos o sentimento de revolta com a traição.
A Semana Santa encerra com a divulgação de planilhas apreendidas pela Polícia Federal na casa de um ex-executivo da Odebrecht, que revelam parcialmente o quanto políticos e partidos traíram a confiança do povo brasileiro.
São mais de 300 políticos de 24 partidos que se beneficiaram de um antigo e vigoroso esquema de permuta de propinas por obras. Dá pra escolher um político ou partido, personagens que vão do Drácula ao Carangueijo, do Passivo ao Nervosinho.
Você também pode simplesmente colocar no peito do boneco uma placa escrito: hipocrisia. Confesso que gosto dessa, porque enquanto estivermos absortos nesse estado de hipocrisia reinante, os Judas serão os donos da festa.
O traidor bíblico sumiu dos postes de sábados de aleluia que povoam minha infância, mas posso ver seus apóstolos nus, com suas verdades expostas em qualquer página do noticiário.
Aí recordo de uma do Drumond, para quem “Judas impressionou de tal modo, que inspirou uma legião de seguidores.”
Pra finalizar, deixo uma reflexão bíblica de Mateus que guardo como um mantra pra viver, resistir e testemunhar:
“Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se odiarão.
E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará.”
Luciana Oliveira
Jornalista
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