Segunda-feira, 11 de abril de 2016 - 14h55
Essa semana tem clássico e as torcidas prometem fazer de tudo pra interferir no resultado, seja por meio das redes sociais, ou em manifestações na arena mais extravagante da República brasileira.
O novo confronto tem até um muro pra evitar que os enfuriados se peguem. Até parece, mas o jogo a que me refiro não é o do futebol, mas da política.
Todos os partidos participam, mas três dos que concentram o maior número de filiados, o PMDB, PSDB e PT, há muito definem as regras do jogo político.
A bem da verdade, o que todo mundo quer é que seja o último duelo polarizado entre esquerda e direita, representado por esses três partidos que desde a redemocratização definem ataque e defesa.
Eles deram a marcha de todos os pedidos de impeachment nesse período e pouca gente sabe que foram 58 tentativas de afastamento de presidentes, de Collor ao primeiro mandato de Dilma e que os personagens só se revezaram em campos invertidos.
Há 17 anos era o PT quem pedia o impeachment do então presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem acusava de crime de responsabilidade na execução do Proer, constrangimento e obstrução do trabalho do Ministério Público Federal e pasme, estelionato eleitoral. Com o real em desvalorização no início do segundo mandato, dívida com o FMI, desemprego em alta, inflação e um doloroso ajuste fiscal, o tucano-Mor tinha 13% de aprovação popular. O PT denunciava que o PSDB havia prometido o impossível e que não tinha condições de gerir a economia. Foram 14 pedidos de impeachment, sendo 13 no segundo mandato de FHC.
E o Aécio, como líder da bancada tucana fazia o que no episódio? O de sempre, pirotecnia midiática pra manter o partido no poder e de quebra faturar politicamente. Ele convocava a população à defesa da democracia, pois alegava que o PT não se conformara com o resultado das eleições.
E o PMDB, defendia o bordel. Em 1999 o então presidente da Câmara, Michel Temer, mandou arquivar quatro pedidos de impeachment.
Se invertermos os jogadores e os campos, pouca coisa muda nessa linha do tempo não é verdade?
Não, não é tão simples.
Que o impeachment é um instrumento legal pra se destituir um presidente todo mundo sabe, mas a condução do seu processo, apesar da roupagem jurídica, pode adquirir características de golpe.
É aí que entra o juiz que mudou as regras do jogo pra definir a disputa não com os limites da esfera jurídica, mas política. A Operação Lava Jato, no que se refere ao trabalho do juiz Sérgio Moro, tumultuou o processo e colocou a opinião pública contra marcos democráticos e garantias constitucionais.
Até Moro violar direitos fundamentais pra favorecer um time em campo, não havia manifestações constantes e nervosas nas ruas. Ele fortaleceu a acusação de golpe institucional quando exorbitou de suas funções em flagrante favorecimento da oposição, erro pelo qual pediu desculpas, mas que revela consequências irreparáveis. O juiz ganhou até fã-clubes no judiciário e que isso interfere no julgamento público e judicial ninguém pode negar.
O vice-presidente, Michel Temer, potencializou a ação de Moro quando anunciou o rompimento com o governo que andou de mãos dadas. Ele fez o que muitos mafiosos não ousam fazer, pois até no crime há um código de ética, quebrado só por quem se arrisca a pagar o preço que é mais alto que a mera desmoralização pública.
Tudo isso somado à gasolina que os conglomerados de mídia jogam na fogueira, resulta nesse momento de intranquilidade econômica e política.
Quem vai pagar caro pra assistir a mais essa partida é a sociedade brasileira, pois vai demorar pra estabilizar a economia estagnada com pauta-bomba e pauta-gás-paralisante. Não importa o lado em que esteja, qualquer torcedor sabe que jogo que não é fair-play não acaba numa partida. As manifestações não vão esfriar e a pressão com quem quer assuma o governo será igualmente insuportável.
Se impeachment ou golpe, cabe a cada um tirar sua própria conclusão, seja por mero interesse ou predileção política, afinal o julgamento daqui pra frente é puramente político.
A trágica mesmice na política brasileira, em que as regras só mudam pra piorar o que está, foi realçada por Raymundo Faoro, que no fim dos anos 90 lamentou: “Entra ano, sai ano, corre uma eleição, outra se anuncia. Que sobra, se a história é apenas uma promessa pré-histórica? O tempo há de passar, com a frustração, não a que está nas coisas, mas a que, por medo do acontecimento do evento [...], nos provocamos, levados pela astúcia da irracionalidade.”
Luciana Oliveira
Jornalista
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