Terça-feira, 17 de dezembro de 2024 - 09h56
O bloco que exalta tradições e pessoas de
elevada importância para a cultura popular da capital será um palco com
milhares de foliões para a artista que já foi tirada à força de vários eventos
públicos.
“É uma mulher, artista de rua, que fez da
dança uma atitude de resistência cultural. Quando perguntamos por que ela
invadiu tantos palcos de eventos, disse: para mostrar minha alegria e alegrar o
povo. Foi o sinal de sincronia com o bloco para escolhermos ela como
homenageada no próximo desfile”, disse Luciana Oliveira, vice-presidenta da
bloco.
A arte do tema ‘Bailarina da Praça – A Dança
da Resistência’, é também de um grande artista de rua, o Rabsk. Suas obras
colorem vários muros e prédios, sendo a mais recente parte do mural em defesa
da Amazônia e seus povos.
Aos 32 anos, o Bloco Pirarucu do Madeira
reafirma o mesmo propósito da Bailarina da Praça, o de existir para ver o povo
feliz. Sem cobrar acesso e sem cordas que separem os foliões, é reconhecido
como o mais democrático.
O desfile está marcado para o dia 23 de
fevereiro, na avenida Pinheiro Machado, ao lado do ginásio Cláudio Coutinho,
com concentração a partir das 16 horas.
Os compositores têm até o dia 10 de janeiro
para apresentarem marchinha ou frevo com tema, sem prorrogação de prazo.
Mãe de três filhos e com cinco netos,
Bailarina da Praça completou 55 anos e tem muito a comemorar, especialmente o
fim do tratamento de um câncer.
“A minha fé e a oração das pessoas me
curaram. Eu sou muito grata a todos que me ajudaram nesse período difícil”.
O presidente do bloco, Ernande Segismundo,
anunciou que os bonecos e o pirarucu gigante virão com caras e roupas novas.
“Isso só será possível, graças a emenda do vereador Aleks Palitot. Nosso bloco
não tem finalidade lucrativa, então precisamos de apoio para garantir o desfile
que todos amam”, disse Segismundo. O vereador Palitot também é autor da lei que
declarou o bloco Patrimônio Cultural de natureza imaterial.
SOBRE O TEMA:
Na vida , na praça e na
esquina
O Frevo da Bailarina
Por: Altair Santos (Tatá)
Porto Velho, não diferentemente doutras capitais e demais cidades brasileiras, tem na rotina do seu metabolismo urbano a sempre viva presença dos tipos populares. São pessoas que fazem das suas horas, dias, meses e semanas, enfim, das suas próprias vidas, verdadeiras doações cênicas ao cotidiano, transformando de forma muitas vezes inocente, porém irreverente e criativa, o dia a dia de praças, ruas e avenidas, feiras, mercados e calçadões, dentre outros logradouros e espaços.
Sobre esses nem tão anônimos, de alguns até sabemos seus nomes, onde moram e o que fazem, enquanto doutros, sequer temos donde vem e pra onde vão. Todos porém, transitam (nem sempre livres), porém soltos, folgazões e visíveis nas suas viagens e perambulações pela urbe, acometidos de suas in (sanidades) mas que, de uma forma ou de outra, são parte da demografia e do organismo social vivo e ativo e que, aos seus tempos, jeitos e maneiras, agem nas batidas das suas asas e voam seus céus de liberdades.
Em suas aparições idas e vindas, que bem podemos chamar performances muito e de tudo se vê. Uns cantam, outros dançam, outros mais apenas circulam pelos espaços sem dizer uma só palavra encenando suas peças cujos textos (sem textos) são as suas expressões e movimentos de rotina. Tem também os que vão e vem ou vem e vão carregando troços e bregueços, enquanto espantam gente. Há os que pedem algo e os que carregam consigo um vasto e multifacetado repertório de aparições e formas de figurinos e produção visual os quais, muitos são de época, outros fora de época e de até de época nenhuma. Assim sendo, esses tipos populares, desnudos de compromissos e contrapartidas públicas e oficiais se doam em exercícios solos, são artistas em plena vigência cênica dos seus próprios “shows,” donos inarredáveis dos seus tempos, horas, jeitos e maneiras, rompidos e desnudos dos formalismos. Dentre esses todos, em solo local temos a cidadã Elielza Ramos Freire. Esse é o ofuscado nome próprio da popular e ninguém menos que a mui conhecida, polêmica para muita gente e verbada/desaverbada Bailarina da Praça.
Mãe de três filhos e filha de pais amazonenses, ela nasceu no antigo Hospital São José, aqui em Porto Velho/RO, no dia 14/dez/1969, poucos meses depois do homem haver pisado na lua. E por falar em lua, e em Bailarina da Praça, a distância se fez curta entre as duas, haja vista diante de tantas definições e até juízo de valor sobre si, houve quem dissesse, dentre tantas, que ela (a Bailarina) era a louca que veio/caiu da lua.
Assim houve também quem, movido pelos incômodos das suas festivas, intrometidas, espalhafatosas e repentinas aparições em determinados espaços (como que viesse do nada ou dos quintos) lhes tivessem cunhado a pecha de ser o demônio em figura de gente. Pra isso ela nunca ligou ou deu importância maior.
Desatrelada e tampouco incomodada com as críticas e até cerceamentos mais bruscos, quanto ao seu acesso a alguns espaços e eventos, a Bailarina desde as suas incursões primeiras sempre habitou o metiê urbano, fosse e seja ocupando praças, palcos, calçadas ou avenidas.
Uma vez em plena época de carnaval, horas antes da Banda do Vai Quem Quer sair festivamente serpenteando o centro da cidade, ela postou-se no meio da Praça das Três Caixas D´água, ligou a sua caixa de som e dançava músicas da Xuxa, Angélica e outras similares. Daí no começo da tarde, quando começou a aglomeração ela desfez a sua estrutura e se mandou.
Mais tarde enquanto a banda serpenteava o centro antigo a partir da Rua Carlos Gomes, ela foi vista na Praça Rondon dançando para uma plateia de transeuntes, inclusive os bêbados do centro da cidade, pouco ou nada interessados no seu balé, o que pra ela não fez qualquer diferença.
Noutra ocasião, no complexo da EFMM, o Grupo Teatral Êxodo encenava a peça cujo tema era o Nascimento de Jesus. Cenas em curso, justo no momento em que nascia o filho de Deus e, no céu a estrela guia orientava o rumo a Belchior, Gaspar e Baltazar (os três Reis Magos) em direção ao estábulo onde, numa manjedoura, deu-se o nascimento, a Bailarina também guiada (pelos seus sensores cênicos-intrometiduns.
Obs: termo rebuscado de algum dialeto remoto, quase perdido do latim) acorreu chegando antes dos magos e postou-se bem na entrada num canto, onde com suas asas em movimento como chegado voando fez pouso e testemunhou o parto, sendo ela, nessa releitura das escrituras modernas a versão de que a primeira criatura a ver o menino Deus foi Bailarina da Praça, antes mesmo dos três Reis, os quais, naquele ato, entregando ouro, incenso e mirra, olhavam de revestrés (soslaio) e intrigados por não terem sido os primeiros a verem o Ser de Luz. Subir em palcos durante shows fosse eventos locais ou com artistas de renome nacional sempre de surpresa em momentos inesperados e improváveis era comum na pauta da Bailarina. Vez por outra ela entrava nuns “arranca rabos” com seguranças, policiais, promoters, profissionais da imprensa e até músicos e cantores.
E assim entre idas e vindas, de quando em vez, surge ela trajada de borboleta
de asa negra ou violeta, pedalando a sua bicicleta ou acelerando a sua motoneta
(mobilete). Outras vezes da janela do circular ela bota a cara pra fora e solta
um grito pra quem tá na esquina: eiiiii, tudo beeemmmm? Daí acena com a mão e
segue talvez pra casa ou rumo algum point indefinido no GPS solto de sintonia
onde possa aportar, brilhar e/ou causar.
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