Segunda-feira, 29 de outubro de 2018 - 20h43
Até aqui se destacou o antipetismo e o antibolsonarismo como referência à escolha presidencial.
Só que 1/3 dos eleitores, 42 milhões, não quiseram optar por uma coisa nem outra.
Teria feito a diferença o voto dessa parcela a quem tinha mais ou menos intenções de voto?
O resultado das urnas é soberano e sempre traz esse gosto amargo de futuro do passado.
Uma dose de Fernando Pessoa, ajuda a encarar o presente:
“Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele”.
A quem se opôs ao candidato que prometeu varrer o viés ideológico à esquerda que uniu 44,87% dos eleitores, resta engolir choro e assumir a resistência e luta.
A cara do Brasil hoje é vermelha e verde-militar com uma lágrima pesada de 30% do eleitorado brasileiro.
Por declarações tão ameaçadoras, certo é que não será o eleito quem vai pacificar o país, simplesmente porque ignora os que não votaram nele.
O ânimo belicoso dos 55,13% que o apoiaram não permite a romântica mentira de torcer pelo Brasil custe o que custar.
A torcida é para que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, não consiga cumprir as ameaças que fez à democracia.
Esqueça a baboseira de quem votou em Bolsonaro para impedir ‘ameaça comunista’ ou frear a corrupção.
Sinceridade acima de tudo, o resultado desta eleição tem a ver com o que cada um pensa sobre liberdade e oportunidade para todos.
Tem a ver com os interesses prioritários com a política econômica e social do governo.
As situações em que vivem as diversas classes sociais, por suas diferenças materiais e não valores éticos e morais, vêm definindo tão marcadamente as disputas ao comando da nação.
Bolsonaro acrescentou um elemento altamente perigoso nesta eleição: o discurso opressor contra direitos ampliados com muita luta coletiva.
Ele convenceu a ‘maioria’ que lhe garantiu a vitória de que andar para trás é mais seguro.
40, 50 anos, como disse durante a campanha.
O que tínhamos à época da ditadura, era repressão e morte aos opositores do regime.
A questão não se resume ao que Bolsonaro vai conseguir colocar em marcha a ré, mas em como resgatar consciências perdidas no delírio ultraconservador.
O ‘guarda da esquina’ a que se referiu Pedro Aleixo, vice do ditador Costa e Silva ao divergir sobre o AI-5, já está à vontade para se comportar como juiz e impor até pena de morte.
Durante a campanha Bolsonaro empoderou os maus com aval dos ignorantes, dos antipetistas e dos omissos.
Antes mesmo de tomar posse na presidência, quem votou nele já pratica ou defende seus comandos autoritários.
Os gatilhos mentais de desprezo, preconceito e violência contra mulheres, negros, indígenas, homossexuais, quilombolas e movimentos sociais já foram disparados.
Mas, Bolsonaro não tem noção da oposição que enfrentará, fortalecida por seus discursos de ódio.
Venceu em estratégia para se eleger, mas faltou “combinar com os russos” para governar.
A estratégia perfeita só é fácil quando o concorrente colabora.
O eleito não tem noção que fortaleceu os que derrotou.
Contra ele, existem 88 milhões de votos, os de Haddad, os brancos e nulos e as abstenções.
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