Sábado, 7 de abril de 2018 - 00h01
Conheci o Lula em 1976, quando fui dar uma aula na Fundação Santo André. Eu ainda não tinha entrado para a política, era professor e escrevia na Folha de S. Paulo. Lula presidia o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema. Vivíamos no regime militar.
Convidado pelo estudante quartanista e seu assessor Osvaldo Cavinato, ele compareceu. Na palestra, chamei a atenção dos alunos para que quando ocupassem postos de responsabilidade no governo dialogassem não apenas com os empresários, como faziam os ministros da economia da época, mas também com os trabalhadores afetados pelas decisões. Ao final, abri para perguntas. Lula levantou a mão e fez diversas observações. Eis que o professor da turma reagiu: “o que o diretor da faculdade vai dizer na hora que souber que aqui está um perigoso líder sindical?” Lula achou melhor sair da sala e terminamos a conversa no pátio. Desde então nos tornamos amigos e há 42 anos caminhamos juntos, com uma única divergência insolúvel: ele torce para o Corinthians e eu para o Santos.
Passei a conviver mais intensamente com o Lula, e a nossa querida Marisa, nas greves dos metalúrgicos de 1978, 1979 e 1980. Fundamos o PT, espalhamos a semente por esse Brasil, participamos de 20 campanhas eleitorais, disputamos uma prévia presidencial, Lula se elegeu presidente por duas vezes e nos tornamos avôs. O tempo voou, mas nesses 42 anos a ética prevaleceu como um valor nosso na busca por justiça. Frequentei a casa da família Lula da Silva, convivi com seus filhos, estivemos milhares de vezes juntos nas mais diversas situações, dentro e fora do país, e posso testemunhar que nunca vi nenhum sinal de súbito enriquecimento ou de mudança de hábitos que pudessem sinalizar transformação no seu padrão de vida em função dos cargos que ocupou.
Nesse tempo, pude presenciar a sensibilidade de Lula para compreender as necessidades do povo brasileiro e as transformações do mundo. Com isso, pude dividir com o presidente Lula um dos acontecimentos mais importantes da minha vida: a sanção da Lei 10.835, de minha autoria, em janeiro de 2004, que institui a Renda Básica de Cidadania, o direito de todo o cidadão participar da riqueza da nação, através de um rendimento fixo, igual para todos. O Brasil se tornou o primeiro dos cinco continentes a ter uma lei aprovada por todos os partidos. Quatorze anos depois, mais de 30 países discutem a ideia inovadora com experiências concretas com muito êxito.
Por toda a nossa história, quando me dispus a acompanhar Lula na prisão quis levar comigo os 36 milhões de brasileiros que saíram da pobreza nos governos do PT; os 50 milhões do Bolsa Família; os 15 milhões que se beneficiaram com o programa “Luz pra todos”; os 100 mil universitários que tiveram a oportunidade de participar do “Ciência sem fronteira”; os 18 mil médicos contratados pelo “Mais médicos” para atender mais de quatro mil municípios, 78% do total; e milhares de outros programas direcionados a quem mais precisa.
Considero um absurdo o pedido de prisão contra o ex-presidente Lula, desrespeitando o artigo 5º da Constituição, “Dos direitos e garantias fundamentais”, inciso LVII, que estabelece que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Precisamos reagir e exigir justiça incansavelmente, sem o uso de violência, com perseverança e determinação, Como bem disse Martin Luther King “a injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar” Lula, coragem, estamos juntos mais uma vez! Ninguém poderá impedir a realização dos nossos sonhos, de um Brasil mais justo, menos desigual, com liberdade e democracia.
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