Quinta-feira, 15 de novembro de 2018 - 08h09
O Ministério da Saúde Pública da
República de Cuba, comprometido com os princípios solidários e humanistas que
durante 55 anos têm guiado a cooperação médica cubana, participa desde seus
começos, em agosto de 2013, no Programa Mais Médicos para o Brasil. A
iniciativa de Dilma Rousseff, nessa altura presidenta da República Federativa
do Brasil, tinha o nobre propósito de garantir a atenção médica à maior
quantidade da população brasileira, em correspondência com o princípio de
cobertura sanitária universal promovido pela Organização Mundial da Saúde.
Este programa previu a presença de
médicos brasileiros e estrangeiros para trabalhar em zonas pobres e longínquas
desse país.
A participação cubana nele é levada a
cabo por intermédio da Organização Pan-americana da Saúde e se tem
caracterizado por ocupar vagas não cobertas por médicos brasileiros nem de
outras nacionalidades.
Nestes cinco anos de trabalho, perto
de 20 mil colaboradores cubanos ofereceram atenção médica a 113 milhões 359 mil
pacientes, em mais de 3 mil 600 municípios, conseguindo atender eles um
universo de até 60 milhões de brasileiros na altura em que constituíam 88 % de
todos os médicos participantes no programa. Mais de 700 municípios tiveram um
médico pela primeira vez na história.
O trabalho dos médicos cubanos em
lugares de pobreza extrema, em favelas do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador
de Baía, nos 34 Distritos Especiais Indígenas, sobretudo na Amazônia, foi
amplamente reconhecida pelos governos federal, estaduais e municipais desse
país e por sua população, que lhe outorgou 95% de aceitação, segundo o estudo
encarregado pelo Ministério da Saúde do Brasil à Universidade Federal de Minas
Gerais.
Em 27 de setembro de 2016 o
Ministério da Saúde Pública, em declaração oficial, informou próximo da data de
vencimento do convênio e em meio dos acontecimentos relacionados com o golpe de
estado legislativo-judicial contra a Presidenta Dilma Rousseff que Cuba
“continuará participando no acordo com a Organização Pan-americana da Saúde
para a implementação do Programa Mais Médicos, enquanto sejam mantidas as
garantias oferecidas pelas autoridades locais”, o que até o momento foi
respeitado.
O presidente eleito do Brasil, Jair
Bolsonaro, fazendo referências diretas, depreciativas e ameaçadoras à presença
de nossos médicos, declarou e reiterou que modificará termos e condições do
Programa Mais Médicos, com desrespeito à Organização Pan-americana da Saúde e
ao conveniado por ela com Cuba, ao pôr em dúvida a preparação de nossos médicos
e condicionar sua permanência no programa a revalidação do título e como única
via a contratação individual.
As mudanças anunciadas impõem
condições inaceitáveis que não cumprem com as garantias acordadas desde o
início do Programa, as quais foram ratificadas no ano 2016 com a renegociação
do Termo de Cooperação entre a Organização Pan-americana da Saúde e o
Ministério da Saúde da República de Cuba. Estas condições inadmissíveis fazem
com que seja impossível manter a presença de profissionais cubanos no Programa.
Por conseguinte, perante esta lamentável realidade, o Ministério da Saúde
Pública de Cuba decidiu interromper sua participação no Programa Mais Médicos e
foi assim que informou a Diretora da Organização Pan-americana da Saúde e os
líderes políticos brasileiros que fundaram e defenderam esta iniciativa.
Não aceitamos que se ponham em dúvida
a dignidade, o profissionalismo, e o altruísmo dos colaboradores cubanos que,
com o apoio de seus familiares, prestam serviço atualmente em 67 países. Em 55
anos já foram cumpridas 600 mil missões internacionalistas em 164 nações, nas
quais participaram mais de 400 mil trabalhadores da saúde, que em não poucos
casos cumpriram esta honrosa missão mais de uma vez. Destacam as façanhas de
luta contra o ébola na África, a cegueira na América Latina e o Caribe, a
cólera no Haiti e a participação de 26
brigadas do Contingente Internacional de Médicos Especializados em Desastres e
Grandes Epidemias “Henry Reeve” no Paquistão, Indonésia, México, Equador, Peru,
Chile e Venezuela, entre outros países.
Na grande maioria das missões
cumpridas, as despesas foram assumidas pelo governo cubano. Igualmente, em Cuba
formaram-se de maneira gratuita 35 mil 613 profissionais da saúde de 138
países, como expressão de nossa vocação solidária e internacionalista.
Em todo momento aos colaborados
foi-lhes conservado seu postos de trabalho e o 100 por cento de seu ordenado em
Cuba, com todas as garantias de trabalho e sociais, mesmo como os restantes
trabalhadores do Sistema Nacional da Saúde.
A experiência do Programa Mais
Médicos para o Brasil e a participação cubana no mesmo, demonstra que sim pode
ser estruturado um programa de cooperação Sul-Sul sob o auspício da Organização
Pan-americana da Saúde, para impulsionar suas metas em nossa região. O Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento e a Organização Mundial da Saúde
qualificam-no como o principal exemplo de boas práticas em cooperação
triangular e a implementação da Agenda 2030 com seus Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável.
Os povos da Nossa América e os
restantes do mundo bem sabem que sempre poderão contar com a vocação humanista
e solidária de nossos profissionais.
O povo brasileiro, que fez com que o
Programa Mais Médicos fosse uma conquista social, que desde o primeiro momento
confiou nos médicos cubanos, aprecia suas virtudes e agradece o respeito, a
sensibilidade e o profissionalismo com que foram atendidos, poderá compreender
sobre quem cai a responsabilidade de que nossos médicos não possam continuar
oferecendo sua ajuda solidária nesse país.
Havana, 14 de novembro de 2018.
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