Quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016 - 19h07
Tão logo me nasceram os peitos adotei como hábito acompanhar o noticiário nas primeiras horas do dia. De setenta e poucos pra cá, o rádio, a TV, jornais e revistas vieram parar no telefone e o hábito matutino virou uma mania ininterrupta. O problema é que esse avanço tecnológico pela velocidade com que invade nossas vidas, informa ou deforma.
Ao ligar o celular pra ver o que aconteceu enquanto dormia, me sinto uma formiga tentando atravessar a Avenida 9 de julho em Buenos Aires, mas com suas 12 pistas em mão dupla e sem sinalização. Como não ser atropelada por tanta informação com pontos de vista tão distintos, com tantas verdades, meia verdades e mentiras, como diz o Bob Fernandes?
“Nas redes sociais, fúria do bando do moralismo caolho. Brotam ódio, ignorância, espanto, perplexidade quando se vê o passivo e o passado de muitos dos que escrevem ou bradam contra a corrupção e festejam panelas e ocasião”, diz o jornalista.
O país vive um estado de agitação com vários escândalos envolvendo políticos, partidos, empresários e agentes públicos. A relação promíscua entre eles é apresentada como novidade por alguns veículos de comunicação. A operação Lava Jato seria o maior escândalo de corrupção no país e o PT, o partido que mais se corrompeu. Não poderia negar os fatos, mas dispenso os superlativos.
Pra comparar a corrupção praticada em conluio por poderes público e privado ao longo do tempo teria que saber o que fizeram de sacanagem nas primaveras, verões, outonos e invernos de todos os governos. O fato é que ninguém sabe, mas todos concordam que os desvios vêm de longo tempo, o que justifica a péssima qualidade dos serviços públicos.
O toma lá, da cá, entre público e privado vem do Brasil Colônia. Tem que ler para não crer no que vê na TV e se bastar. Há farta literatura sobre as práticas de corrupção no país pra não se deixar ‘abilolar’ só com o que vê no noticiário, pra não se escandalizar.
“Nos oito primeiros anos em terras brasileiras, D. João VI distribuiu mais títulos de nobreza do que em 700 anos de monarquia portuguesa”, destacou o escritor Lauretino Gomes. É de longe que trocam títulos por dinheiro e dinheiro por privilégios.
O costume da ‘caixinha’, da propina, a porcentagem de dinheiro desviada para selar os ‘negócios’ entre público e privado é antiga, em vigor neste exato momento.
O jeitinho brasileiro também. Gomes destaca que os navegadores contavam em cartas o quanto se surpreendiam com a malandragem do nosso povo. A transferência da Família Real para o Brasil juntou a fome com a vontade de comer e nenhum veículo de comunicação a serviço de corruptos vai me convencer que algum governo de lá pra cá tenha construído viadutos, pontes, estradas, ferrovias, enfim, tudo que há sobre a terra do pau-brasil sem passar a ‘caixinha’ por todos com poder político e econômico.
O escritor Eduardo Bueno também destacou que a corrupção alcançou todo o funcionalismo público do país, de colônia ao primeiro governo, inclusive o Judiciário e não poupou a sociedade civil, seja por ação ou omissão. “É fácil acusar, mas a sociedade civil também teve grande parte nisso. Os empreiteiros portugueses que já viviam no Brasil, fraudavam as licitações sempre que podiam. A construção da cidade de Salvador custou quatro vezes mais o que deveria ter custado. Portugal gastou 1/8 do seu PIB para construir o Brasil. Se não fosse pela corrupção, eu estimo que isso poderia ter custado a metade.”
Longe de mim dizer que devemos nos acostumar com a corrupção, mas não creio que possamos acabar com essa prática, porque o Estado é falível, o que não significa dizer que não possa ser responsabilizado.
O que me enoja é a insistência em propagar no noticiário a farsa do ‘partido ou governo mais corrupto’, ‘do nunca antes nesse país’, pra nos deformar ainda mais a compreensão, que dirá como vamos sobreviver a isso tudo e o que contaremos a quem nos perguntar sobre o que aconteceu.
Os debates travados nas redes sociais esfriaram e não à toa, tamanha a repetição de jargões medíocres pra definir quem roubou mais ou menos. Até o acarajé que é uma iguaria deliciosa virou sinônimo de coisa ruim.
Com algumas pessoas que se atrevem ao enfrentamento de ideias já não tenho mais paciência e encerro o debate sugerindo a reflexão do filme As Aventuras de Pi.
O noticiário mostra uma história, os livros outra. Qual das duas você prefere?”
Luciana Oliveira
Empresária e jornalista
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