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Luciana Oliveira

Era 'tradição do nosso carnaval o Galo na quinta-feira'


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O título é trecho de uma marchinha do bloco Galo da Meia Noite, entoada por 25 anos em Porto Velho.

Neste fevereiro o bairro Caiari não verá o desfile do segundo mais antigo e maior bloco carnavalesco da capital por causa de dívidas com o município.

Em 2017 o Galo desfilou por força de liminar e por boa vontade do prefeito rolou uma renegociação para quitar os débitos, mas foi impossível honrar o parcelamento.

Não se discute o dever da prefeitura em cobrar, nem se impede o choro com a ausência do bloco que tem um dos mais ricos acervos de marchinhas com fatos e personagens históricos do carnaval da capital.

O silêncio no terreiro do Galo será como uma marcha fúnebre.

O preço que o antigo ‘bloco de sujo’ com essência popular paga por se transformar num ‘superbloco’ é a morte.

Como o Galo, muitos blocos símbolos da nossa tradição momesca foram apagados do calendário cultural.

A burocracia para ocupar as vias públicas e a cobrança de taxas e impostos condenaram à morte blocos tradicionais, sem distinção.

E muito por culpa da desgraçada Lei que regulamentou eventos de grande porte que em seu Art. 1º sacramenta: “A promoção e realização de eventos de grande porte, com ou sem finalidade lucrativa, em espaços públicos ou privados, ficam condicionadas às disposições presentes nesta Lei.”

É importante destacar que muitos só conseguiram manter os desfiles com a pouca venda de camisetas/abadás, pois o apoio financeiro do poder público nunca foi perene.

Houve sempre mais intenção em atrapalhar que ajudar a manter as manifestações carnavalescas. A compensação social dos eventos populares vem sendo desprezada por uma arrecadação sem importância.

A renúncia a tão baixos valores deve ser admitida com um investimento, afinal, é de cultura que estamos falando.

O que fazer para que o poder público exerça seu dever constitucional de fomento à cultura para que patrimônios como o Galo não desapareçam?

O que sugiro é a isenção de taxas e impostos a quem promover atividades sem fins lucrativos relacionadas ao carnaval, como fazem as escolas de samba, blocos carnavalescos ou folclóricos, trios elétricos e semelhantes. Com garantia de apoio financeiro, claro.

Tanto é possível e vantajoso que o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, fez.

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Fernando Haddad, que o sucedeu, também ampliou o fomento à cultura quando liberou as escolas de samba de São Paulo de pagarem aluguel pelo uso de áreas públicas e garantiu a anistia das dívidas com IPTU.

Os blocos tradicionais que ofertam a chamada ‘folia barata’ foram cadastrados e se multiplicaram. O carnaval de rua de São Paulo foi o que mais cresceu nos últimos anos, bem como o retorno financeiro com a festa.

Que tal um vereador meter a cara pra propor e o prefeito demonstrar vontade política em garantir aprovação?

Por mim, o Galo retorna às suas origens, não vende nada e garante apoio da prefeitura daqui pra frente.

Quanto mais carnaval democrático com a chancela do poder público, melhor.

É inaceitável que um bloco de valor cultural deixe de existir, porque nem com a venda de camisetas consegue arcar com os custos para desfilar.

Quem quiser seguir comercializando camisetas que o faça, mas também sem regras que sugerem perseguição. Que seja menos pesada a burocracia, que aliviem na cobrança de taxas e impostos a quem vende pra poucos e garante acesso a milhares na festa.

“Com abadá, sem abadá, não importa”, todos aproveitam numa “onda que nem pororoca”.

Será muito triste não ver o desfile do Galo, sobretudo porque suas marchinhas serão executadas em praticamente todos os blocos.

Quando as orquestras tocarem o ‘Último Regresso’, é dele que vou lembrar.

“Não deixem não, que o bloco campeão,
guarde no peito a dor de não cantar.
Um bloco a mais é um sonho que se faz
o pastoril da vida singular.”

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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