Domingo, 27 de novembro de 2016 - 14h58
A morte de Fidel dominou o noticário e gerou convulsão ideológica nas redes sociais.
Como fosse possível, se instalou uma guerra pra definir o maior líder latino-americano: herói ou vilão?
Não só os admiradores o colocaram como principal assunto no Twitter desde que a morte foi anunciada.
Quem optou por festa, como os cubanos da pequena Little Havana em Miami, reduto dos eleitores de Donald Trump, ironicamente teve que engolir as condolências do ‘amigo’ dele, o presidente russo Vladimir Putin, que definiu Fidel como “sincero e confiável.”
No Brasil, os eleitores da direita foram surpreendidos e muitos ficaram revoltados com o reconhecimento de seus líderes à importância histórica de Fidel.
“Como é possível que vejam qualquer coisa boa num ditador sanguinário?”, perguntaram em histeria coletiva.
O debate sem fim. Sua morte não foi como será a de um FCH qualquer.
Até o filho mais ilustre de Cuba deixar de ser notícia principal, o luto prevalecerá à festa e nada pode mudar isso.
Serão nove dias de homenagens fúnebres, com carreata por 13 cidades para levar as cinzas de Fidel até Santiago, onde ele nasceu, estudou e festejou a vitória contra o imperialismo ianque.
Quem não consegue compreender a magnitude do homem e da obra não deveria se lançar ao debate cansativo e inútil.
É mais saudável aceitar o traçado histórico sem tentar compreender.
Aliás, como explicar a loucura de quem guerreia?
Imagine lutar contra os EUA, sendo um país tão pequeno e localizado a 140 km de distância?
O que deveria chocar é o que motiva a guerra, não quantos mataram ou morreram numa.
Fidel condenou o comandante Huber Matos a cumprir 20 anos de cadeia, um amigo com quem dividiu as trincheiras na Sierra Maestra, só porque ele renunciou ao cargo por não concordar com o regime ditador.
Um absurdo né?
Mas, quando o amigo saiu da prisão, correu para os EUA e fundou a organização anticastrista Cuba Independente e Democrática (CID).
Se Fidel tivesse admitido o insurgente livre no período de maior pressão contra Cuba, seria ou não uma ameaça à revolução?
Como medir a força necessária para mudar a consciência de um povo? Como garantir sua proteção do poderoso inimigo vizinho?
Teria Cuba sobrevivido por meio século à perseguição de presidentes americanos nada pacíficos?
Fidel enlouqueceu na luta CONTRA a dominação. A loucura americana foi e segue sendo PELA dominação de territórios e riquezas.
O que impressiona no debate sobre a morte de Fidel é que loucura americana, que segue dizimando nações, é relativizada.
Poucos se dispõem à compreender a ditadura como forma de defesa e o racionamento de alimentos provocado por embargos econômicos.
Mas, a ditadura com corrupção, repressão, escassez de saúde e educação e alta concentração de riqueza, sim.
Meu ex-professor no colégio salesiano me cobrou um exemplo de líder americano que patrocinou mortes em guerras.
É ou não um debate insano?
Espero que ele não tenha a resposta na Cuba sem Fidel.
Que a história do líder revolucionário não o absolva devolvendo a ilha à condição de bordel dos EUA.
Porque resumo Fidel como o homem que mostrou ao mundo que dinheiro não é tudo e os EUA não podem tudo.
E isso basta para que vislumbre o que fez de útil.
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