É mais fácil alguém acreditar que pode aprender japonês em Braille do que na eficácia de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, a tal da CPI, a investigação feita pelo poder legislativo.
Não foi à toa que caiu como uma luva à CPI, o bordão criado pelo jornalista Milton Peruzzi pra tudo que começa com tapa e termina com beijo.
Era década de 60 e as discussões ferrenhas dos dirigentes do Palmeiras sobre a crise que o clube enfrentava terminaram amigavelmente numa pizzaria, ganhando na Gazeta Esportiva a manchete que virou bordão nacional.
A falta de credibilidade de uma CPI se dá por vários motivos e exemplos de precariedade na investigação. Entre notificar e ouvir os envolvidos há uma longa, muito longa distância.
A CPI dos sanguessugas foi criada em 2006 e só em junho deste ano o STF abriu ação penal contra nosso Deputado Nilton Capixaba por suposta prática de peculato e não por força da investigação parlamentar, mas da Polícia Federal.
O flashback é só pra dizer por que ninguém bota fé em CPI e, principalmente, pra enfatizar que a dos Crimes Cibernéticos, começou pior e deve acabar pior ainda, pois virou palanque de guerrilhas partidárias virtuais.
A relevância de um trabalho investigativo sobre crimes como pedofilia, pirataria, falsificação de senhas de cartões de crédito, racismo e tráfico de pessoas é indiscutível, mas o que temos visto é mais uma cena do teatro de horrores em cartaz no Congresso Nacional, sucesso de bilheteria.
Tem deputado propondo que a Polícia Federal tenha acesso aos dados de todos os cidadãos sem autorização judicial, pois isso não teria 'nada a ver com liberdade de expressão'. Pra que inquérito pra ter acesso aos dados dos usuários?!
Não bastassem argumentos de néscios acerca de direitos individuais inalienáveis, resta evidente que a CPI virou cadafalso pra estimular a condenação sumária de Dilma ou tardia de Cunha.
Nem vou me alongar em dizer porque sou contra a queda de braço pra ver quem cai primeiro, porque estou num universo virtual, palco de achincalhamentos desnecessários e injustos diante de críticas cidadãs.
O fato é que a CPI já reduziu o foco dos debates. Quem domina os holofotes com privilégio são movimentos como o Revoltados Online, guerrilha tucana.
Eles são defensores incansáveis e insanos de Cunha, que indicou para presidir a CPI a deputada Mariana Carvalho do PSDB/RO, parlamentar que comemorou efusivamente a posse dele como presidente da Casa.
“Ele é ladrão, mas antes dele ser ladrão tem muito ladrão por trás dele”, disse o deputado Laerte Bessa do PR/DF.
Já rolou até arremesso de copo d'Água e a presidenta da Comissão nada fez pra impor o decoro.
Quando digo que essa CPI vai acabar numa pizza azeda, é porque coloca em relevo a pressão entre governo e oposição, desvirtuando o interesse para que foi criada, que também inclui e não só, a conduta das guerrilhas partidárias no universo virtual.
Quem dera fosse possível dar um reset nessa CPI, começar tudo de novo, com seriedade, sem esse script modorrento e partidarizado.
Por essas e outras que de teatro bizarro, com cenas asquerosas, fico com 'Os Macaquinhos' que não ameaçam a liberdade de ninguém.
Luciana Oliveira