Quem desde o início entendeu o processo de impeachment como um golpe, segue denunciando o tripé formado pelo parlamento, a mídia e o judiciário, para confundir e conduzir a opinião pública.
A quem nega em público, mas à sua consciência reconhece ilegalidades no processo, se um golpe parecer legal, está autorizado.
Dá até pra punir com a cassação do mandato uma presidenta eleita, sem crime.
Autorizar prisão de investigados sem necessidade e provas, unicamente por convicção, é moleza.
O contrário, idem.
Fato é que sem pane no sistema de freios e contrapesos com atuação de culpa do judiciário, um governo ilegítimo não se instala.
Se a corrupção atingiu níveis apocalípticos, a morosidade na justiça foi determinante.
O judiciário brasileiro, além de ter participado ativamente do tal “pacto nacional” para derrubar a presidenta segue com função de torniquete para estancar a “sangria” da Lava Jato, sem resistência popular.
Falta pressão contra o judiciário na pauta de protestos, nas ruas.
Como esquecer da campanha que magistrados fizeram em várias capitais, emprestando o rosto em outdoors em defesa da operação e do juiz Sérgio Moro?
Houve reação bizarra de apoio ao juiz e vista grossa aos demais membros do judiciário que fizeram de tudo para violar a segurança jurídica, agindo com parcialidade e pirotecnia midiática.
Deu tão certo que a Corregedoria Nacional de Justiça arquivou todos os procedimentos disciplinares contra o magistrado paranaense e foram mais de 14 para tentar provar que ele usurpou de sua competência.
Não bastasse as lambanças de Sérgio Moro e dos promotores e procuradores que atuam na Lava Jato, o Supremo Tribunal Federal (STF) conduz com lentidão injustificável a lista de inquéritos contra políticos.
Há quase uma centena de parlamentares investigados e nenhum condenado.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, alegou que a demora é por conta da demanda e pelo hábito do STF de julgar recursos e não formar processos.
O ministro Teori Zavascki que conduz na condição de relator mais de 40 investigações entre inquéritos, denúncias e ações penais, reduz ainda mais as expectativas de vermos tão cedo políticos punidos.
“Eu não acelero nem desacelero, eu vou fazendo na medida que tem para fazer”, avisou.
A sociedade brasileira que se dividiu ao interpretar o processo de impeachment, tinha em comum o apelo ao fim da corrupção e por este ângulo deve se unir, sob pena de desbunde moral geral.
Sem cobranças ao judiciário, por ação ou omissão, é impossível esperar decência nos poderes e dos políticos.
E a ‘medida’ sugerida por Teori, até aqui só tem feito bem aos que faturam com a demora nos julgamentos, entre os quais estão os servidores do judiciário que ganharam um reajuste de até 41,47% nos salários.
Resta provar por que mereceram, convicções não faltam.
Por ora são os golpistas que definem o roteiro do golpe que segue em desdobramentos que tem a ver com tudo menos justiça.