Terça-feira, 20 de novembro de 2018 - 13h19
Em 1770, uma escrava piauiense escreveu uma das
mais antigas cartas de denúncia de maus-tratos contra os negros que se tem
registro no Brasil. O texto, entregue ao governador da província do Piauí,
resultou na libertação de inúmeros escravos e fez com que essa mulher, após a
morte, recebesse o título de advogada pela OAB do Piauí.
Essa é a trajetória de Esperança Garcia, uma das
personagens que serão retratadas pela Mangueira no próximo carnaval.
A escola levará à Avenida o lado B da história do
Brasil, de heróis pouco conhecidos, às vezes esquecidos da narrativa oficial.
Muitos deles negros, o que reforça a importância do Dia da Consciência Negra,
celebrado hoje, com eventos como o cortejo da Tia Ciata.
Além de Esperança Garcia, o carnavalesco Leandro
Vieira representará em alas e alegorias figuras como Dandara, mulher de Zumbi e
guerreiro da luta contra a escravidão; Luísa Mahin, líder do levante dos negros
malês em Salvador; e Luiz Gama, advogado, jornalista e poeta abolicionista.
— É muito pertinente quando a Mangueira se coloca
na condição de narrar a história não contada das lutas negras. A minha
intenção, com isso, é aproveitar esse momento de discussão sobre a importância
da representatividade para apresentar ao grande público os personagens que não
tiveram a notoriedade que deveriam ter. O que o enredo quer fazer é despertar a
consciência — afirma Leandro.
No caso de Esperança Garcia, o presidente da ONG
Educafro, Frei David, lembra que a então escrava percebeu que várias pessoas
eram escravizadas de forma ilegal, ferindo leis internacionais.
No caso de Esperança Garcia, o presidente da ONG
Educafro, Frei David, lembra que a então escrava percebeu que várias pessoas
eram escravizadas de forma ilegal, ferindo leis internacionais:
— Por ser uma pessoa sábia, fazia petições ao
governador do Piauí exigindo a libertação de escravos. E o governador libertou
várias pessoas por isso. A história é tão forte que, agora, em 2017, a
comunidade negra do Piauí apresentou para a OAB do estado uma pesquisa
superconsistente e solicitou o título de advogada a Esperança Garcia. E eles
concederam, post mortem. Naquela tempo não existia no Brasil faculdade de
Direito. É assim, então, que ela passou a ser a advogada mais antiga do país
Já Luísa Mahin, que será representada na Sapucaí
por Leci Brandão, nasceu na Costa da Mina, na África, no início do século 19.
Ela esteve envolvida na articulação de todas as revoltas e levantes de escravos
que sacudiram a então Província da Bahia na época. Participou da Revolta dos
Malês (1835) e da Sabinada (1837-1838). Caso o levante dos malês tivesse sido
vitorioso, Luísa teria sido reconhecida como Rainha da Bahia.
Alcione vai representar Dandara
Se ainda ronda no barracão mangueirense o mistério
sobre a homenagem à vereadora Marielle Franco, citada no samba-enredo, não há
dúvidas quanto ao espaço reservado a Chico da Matilde: uma alegoria. Na visão
de Leandro Vieira, o personagem ficou à sombra da Princesa Isabel, reconhecida
como heroína pela assinatura da Lei Áurea.
O enredo da escola reservou ainda espaço para Zumbi
dos Palmares, um dos pioneiros na resistência contra a escravidão, líder do
Quilombo dos Palmares. Já Dandara, mulher de Zumbi, líder de tropas guerreiras
no quilombo, será representada pela cantora Alcione. Outros devem aparecer em
alas. É o caso do casal Mariana Crioula e Manoel Congo, líderes de uma revolta
que culminou com a fuga de mais de 300 escravos de Vassouras.
Fonte: Extra
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