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Gente de Opinião

Luciana Oliveira

Mistura o trigo com a palha, a canalha



No lado esquerdo do meu peito ecoa o Hino da Canalha do mineiro Affonso Romano de Sant’Anna, escrito em 1992, irretocável, absolutamente atual, cai como uma luva nestes tempos medonhos em que já não se disfarça o toma-lá, dá cá. “A canalha se ajuntou de novo, a canalha!” e aprovou o substitutivo do projeto de lei que reduz a meta fiscal de 2015, mas não sem propor um corte de 10 bilhões no Bolsa Família no Orçamento de 2016. O orçamento estimado em 28 bilhões pode cair para 18 bilhões, porque quando o mar briga com a praia meus amigos, quem leva porrada é o caranguejo.

“Em torno da mesma mesa e toalha”, todos que defenderam a manutenção do programa pra se eleger, agora, “acanalhando-se outra vez” defendem um corte que promoverá a exclusão de mais de 23 milhões de beneficiários pra ajustar as contas.

“Acanalhou-nos a todos, a canalha!”, pois muitos aplaudem o corte num benefício social e não abrem o bico para o reajuste de benefícios imorais que a canalha recebe.  

No hora de maior acocho no Ajuste Fiscal, a Câmara Federal aprovou um aumento nos gastos dos parlamentares que gera um impacto de mais de 150 milhões de reais nos cofres da Casa. O famoso pacotão de privilégios que inclui verbas para contratação de servidores, auxílio moradia, gastos com telefone, passagens aéreas, consultorias, transporte, enfim, coisas que parlamentares de outros países nem cogitam receber.

“A canalha é ávida e inquieta, a canalha! Tem a audácia do corvo e a avidez da gralha, com bico de urubu fuça a mortalha”, por isso não titubeou  no início deste ano em também triplicar a verba para o Fundo Partidário, que subiu de R$ 289,56 milhões para R$ 867,56 milhões.

“A canalha não larga o osso, a canalha!”, e pra não largar define reajustes e cortes num acordo entre governo e oposição. Está sempre unida, embora às vezes não pareça, a canalha.

O Bolsa Mordomia Parlamentar sim, precisa de cortes! O Bolsa Família não, pois reduziu de 4% pra 2,9% o índice dos que vivem na pobreza de 2006 pra cá.

O programa feito para os pobres, que todo político defende em campanha e após as eleições começa a criticar, mereceu meia página no relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

Segundo o texto da ONU, “O Bolsa Família tem permitido um aumento na taxa de emprego da população economicamente ativa, uma redução de inatividade e taxas de informalidade, aumento da proporção de trabalhadores contribuindo para o desenvolvimento social e um aumento no salário médio”.

Nunca se reconhecerá em consenso a importância de um programa como o Bolsa Família, pois a ótica muda conforme a conveniência. As mesmas pessoas que cobravam a paternidade do programa ao PSDB durante a campanha eleitoral, após a derrota de Aécio Neves, passaram a demonizar o benefício social.

“A canalha não tem ética, a canalha! Mostra os seus brasões e medalhas, guarda os cofres na muralha e faz da história uma bandalha, a canalha!”

Foi muito pelo Bolsa Família que o Brasil está em melhor posição que países vizinhos no que diz respeito ao combate à pobreza, mas não adianta demonstrar resultados a quem muda de opinião conforme o interesse meramente eleitoreiro.

A cada um o direito a seu convencimento sobre a importância desse programa que alimenta o bucho e minimamente, a dignidade. A cada um o direito a uma perspectiva própria sobre o mundo e as necessidades do mundo. O Bolsa Família não é diferente de qualquer outro programa de governo, é falho e corrompido, mas o que não compreendo é a alternância de opinião a cada eleição. Na última, constava em todos os planos de governo dos presidenciáveis e com perspectiva de ampliação. 

“Diante dessa canalha, não sei se é melhor falar direto ou se a metáfora atrapalha. Bato no meu poema ou cangalha e denuncio à minha gente, a gentalha.”

Luciana Oliveira

Empresária e jornalista

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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