O que fizeram com nossos cérebros é algo imperdoável e olhe lá, se recuperável! Com o advento da internet ficamos cada dia mais expostos à manipulação diária, maciça e que nos submete à servidão de uma linguagem pouco humana, superficial e favorável aos interesses mais pernósticos da sociedade. A ferramenta que ampliou o acesso à informação não veio com uma placa sinalizadora de alerta à mão dupla no universo virtual, onde trafegamos o olhar entre o que há de bom ou ruim.
A janela do mundo virou mural de um hospício gigante sem médico que dê conta da pluralidade de distúrbios de ‘normalidade’ dos usuários. A qualquer dia ou hora que abra o facebook estão lá os revolucionários de sofá, os santos do pau oco que se enrolam como num papel contato ao rótulo da religião, os lobos em peles de cordeiro, os façam o que eu digo, mas não o que eu faço, os ricos que por meritocracia de terem nascidos ricos, são ricos e também os racistas, xenofóbicos, intolerantes, os sem cultura e os com cultura limitada.
Ufa! É fácil compreender por que se investe tanto em manipulação mental por meio das redes sociais.
Um sujeito exalta sua superioridade estética, embora não possua, zombando de mulheres que classifica como ‘canhões’ e faz isso ao exercer seu 'senso crítico' contra a corrupção. Uau! Mais de trinta curtidas!
Uma rolada na tela e outro, diz que a peça ‘macaquinhos enfiando o dedo no rabinho uns dos outros’ só foi lançada pra desviar o foco da crise econômica e política que se abateu sobre o país. Na boa, a peça me remete ao teatro armado no Congresso Nacional, em que um está cheirando o rabo do outro pra evitar condenação. O fato é que a publicação do cara ganhou mais de 100 curtidas. Yes!
Se quer curtida mesmo, fale de política! Só que tem que nadar de acordo com a correnteza de opiniões admitidas, do contrário não receberá curtidas, mas comentários grosseiros reservados aos hereges do senso comum. O tema da política é espinhoso, obsceno, discordante e hilário, não é pra qualquer um. Ter e emitir opinião sobre política é não dar mínima ao bloqueio de alguém que pensava ‘amigo’ e que não gostou do que escreveu.
A prisão do senador petista que tentou pagar pelo silêncio de uma testemunha deu o que falar. Todos que dormiam há meses em berço esplêndido com os escândalos do maior tumultuador de processo deste país, Eduardo Cunha, resolveram despertar. Quem disse que tudo não passa de uma queda de braço com torcidas organizadas, se ferrou, foi alvo da sentença como apoiador de bandido.
Dá uma canseira, mas a esperança é um sentimento bem manipulado em nossos cérebros e creio firmemente que alguém há de tornar diária e maciça, a mensagem de que é possível lutar por dias melhores com uma visão menos orquestrada pelos podres poderes, no qual incluo com destaque, a mídia e um aparelho ideológico chamado religião.
O jogo de poder ficou mais divertido e mais fácil com uma plateia tão vulnerável, que disputa em aplausos sobre quem roubou mais ou menos. Uma conversa de cabeceira com Eduardo Bueno ou Raimundo Faoro convence rapidamente que a corrupção é um mal herdado no país que recebeu os piores homens com a missão de enriquecer seus senhores a qualquer custo.
É sob este prisma pra lá de sintetizado que espero ver todos brigando contra eles e não por eles, com uma construção de linguagem própria, menos manipulada.
Luciana Oliveira
Empresária e Jornalista
Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)