Segunda-feira, 23 de janeiro de 2017 - 14h13
Fosse no Brasil o gigantesco protesto de mulheres um dia após a posse de Donald Trump, seria visto pela ‘maioria’ como manifestação isolada e patética de uma turba feminista e noticiado em nota coberta de 30 segundos no Jornal Nacional.
O contraste tira o fôlego, deixa boquiaberto pela distância de mentalidade e postura entre americanas e brasileiras.
Pouco importa se havia mais ou menos manifestantes no ‘National Mall’ durante a posse Trump ou na marcha das mulheres.
As americanas tomaram as ruas para dizer a Trump no primeiro dia de governo que irão resistir à agenda ultraconservadora, excludente sobretudo por caráter misógino e xenófobo.
A advogada de direitos civis e ativista Zahra Billoo mandou o recado:
“Nossa América inclui a todos em nossa preciosa diversidade e exige que marchemos para nos proteger, este é o momento de arregaçar as mangas, ter coragem e estar preparado para trabalhar”.
Mulheres comuns e famosas se uniram a homens para deixar claro que não aceitarão nenhum direito a menos como consequência da visão obscurantista do presidente eleito.
A atriz Ashley Judd lembrou a expressão “mulher nojenta”, usada por Trump ao se referir à candidata Hillary Clinton num rompante misógino.
O oposto do que vimos aqui com Dilma Rousseff, que desde a campanha à reeleição suporta generalizadamente não só as ofensas de caráter preconceituoso e machista, mas a banalização delas.
Imagine como as americanas reagiriam se Hilarry fosse constantemente chamada de ‘feia’, ‘anta’, ‘vagabunda’, ‘safada’, ‘bandida’, como foi e ainda é, Dilma.
A cantora Madonna usou a palavra rebelião para convocar resistência à pauta do retrocesso, o que aqui seria considerado incitação à violência.
“À rebelião. À nossa recusa como mulheres em aceitar essa nova era da tirania”, convocou Madona.
Aqui por muito menos se prendeu arbitrariamente e também mulheres estimularam o achincalhamento virtual da estudante Ana Júlia, que fez um discurso memorável em defesa de ocupações de escolas e contra a reforma do ensino médio.
A marcha em Washington foi sugerida por uma advogada nas redes sociais: “E se as mulheres marchassem em massa em Washington durante a posse?”, perguntou.
Dormiu com 40 “curtidas” e acordou com mais de 10.000.
Enquanto isso em Rondônia, como tantas outras, uma advogada pedia em vídeo no facebook que os militares tomem o poder.
“Nós queremos os militares agindo pra que haja ordem nesse país, pois nós estamos numa desordem. Raciocine e veja o que está acontecendo no nosso país”, vociferou.
Inacreditavelmente, pela pobreza de argumentos e com erros primários de português, o vídeo teve cinco compartilhamentos.
Algumas mulheres a parabenizaram nos comentários e pasme, uma delas aproveitou para ridicularizar a jovem massoterapeuta que morreu no acidente aéreo junto com o ministro do Supremo, Teori Zavascki.
Outra advogada que adora tirar férias em Miami e que teria participado do ato em Washington se estivesse por lá, segue utilizando as redes sociais para eleger Jair Bolsonaro presidente.
Bolsonaro que ao votar pelo impeachment homenageou o coronel Carlos Brilhante Ustra, como o “pavor de Dilma Rousseff, aquele que foi o primeiro torturador na ditadura militar reconhecido pela justiça brasileira.
Bolsonaro, que defendeu no programa Super Pop, salário menor às mulheres.
Bolsonaro que disse no plenário da Câmara à deputada Maria do Rosário (PT-RS), “que não a estupraria “porque ela não merece”.
Ao encarar Trump arrastando multidão três ou quatro vezes maior que a esperada em inequívoca demonstração de coragem e força, as americanas deram uma lição às brasileiras.
Sem recato, belas e nas ruas, provaram que não fogem à luta.
A mensagem a Trump é clara: não provoque.
Aqui ainda se autoriza que Bolsonaro use e abuse da estupidez sem moderação.
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