(Vivas à história e à memória viva do carnaval)
Por: Altair Santos
Neste domingo 4 de fevereiro, 16h em Porto Velho – RO na Rua Pinheiro Machado com a Presidente Dutra, a lira momesca soprará longínqua e frenética chamando todos e espantando a melancolia, desancando a indolência, fazendo sacudir o imatável ânimo dos cidadãos de fé e de folia. Eis o Pirarucu do Madeira, eis o bloco, vai passar o códex da alegria, vai reluzir a alma viva e materializada do reinado de momo, venha dançar e cantar no contraponto e quebra-gelo da quietude do réquiem, uma fidedigna tradução carnavalizada do folguedo, cá na pátria de Zé Pereira.
Aqui é a meca da alegria tupiniquim, a reluzente e perfumada via carnavalis onde se juntam apaixonados, necessitados, abastados, blefados, danados, entre outros tantos “ados”. Nessa passarela o bloco mais democrático da cidade, o pluri matizado, sem eira e nem beira e audaz como de hábito, rompe o convencional e exuma das catacumbas memoriais a coletânea histórica guardada no ataúde temporal e a exibe em cortejo, pendurada em estandartes multicor, numa festiva exéquia aos remotos cordões e inesquecíveis foliões e referências “imorríveis,” bastiões memoráveis dessas artes, ora untados como os motes festivos desse enfeitado fevereiro de 2018.
E quando o compromisso do resgate bate à porta da providência o Pirarucu do Madeira não é de roer a corda, ele salta adiante, busca na prateleira patrimonial o oiro do passado que repousa em alfarrábios no formato de manuscritos e outros registros a dizerem do carnaval da Porto Velho de antanho.
E assim, entre um e outro frevo, faremos um repaginar curioso ressuscitando e buscando saber como brincam noutro plano os incansáveis Waldemar Cachorro, o Rei das Selvas e Inácio Campos com suas originalidades. O antigo carnaval não guarda no seu relato os porquês e os rumos dessa manifestação festiva, mas cumpre-nos mantê-la viva e saudável para o vigor da cultura popular nos tempos atuais. Reflitamos: pra onde levaram o defunto do enterro do Bloco do Purgatório? Em qual esquina o carteiro Moraes sopra o seu clarim? Talvez, o fator Pirarucu do Madeira, seja um indicador a fazer emergir dos nossos recônditos essas e outras cenas e com “plus” renovado fazê-las úteis à sucessividade dessa cultura.
Bem lembramos que Sol e Chuva eram as tropicais opções animadas e irresistíveis no carnaval da nossa quente e úmida Amazônia. A imensa Cobra que nos assustava meninos, hoje serpenteia a nossa mente garimpeira e saudosa. Por essas folhearemos os transcritos históricos lendo sobre o bloco O´Cheravause, 812, Bloco do Bode, Bloco da Dona Jóia dentre outros mais que surgiam das entranhas da cidade pisando as calçadas de paralelepípedos, exalando irreverência e animação, os livres autos culturais hoje tão margeados pela quase inviabilidade, como dito nas exigências das bulas burocráticas.
Despejando pelas ruas vivíssimas memórias e histórias de blocos como o Triângulo não morreu e seu grande animador o folião e carnavalesco Armando Holanda (o saudoso Periquito) e o Lira do Amor levado pelo Galdino, se nos vem outras suscitações e indagações. Por lá, como devem foliar Manelão, Babá, o Benjamin Mourão e outro tantos? Por não sabermos, frevos e marchas farão foliões e foliãs os bastantes representantes de suas próprias vontades e liberdades além de averbadores naturais da nossa rica tradição carnavalesca, exalada no aromático pitiú do Bloco Pirarucu do Madeira, que empunhará, pelas ruas, estandartes feito alegres flâmulas obituárias a tremularem ao vento da sempre viva folia e cultura carnavalesca de nossa mada Porto Velho.
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